3,5 mil ainda morrem por dia de hepatite no mundo

• Hepatite em alta no mundo • Quem são os trabalhadores do cuidado no Brasil? • Como estão as crianças de Brumadinho • O abuso de opioides nos EUA • Irlanda enfrenta indústria do álcool • O adeus a Ziraldo •

Foto: Divulgação/Ministério da Saúde
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Divulgado na Cúpula Global sobre a doença, o Relatório Global de Hepatites de 2024 da Organização Mundial da Saúde (OMS) traz uma atualização funesta sobre a situação epidemiológica do mal. 3,5 mil pessoas ainda morrem de hepatite todos os dias no mundo, diz o documento recém-lançado, e o número de óbitos está crescendo. De 2019 a 2022, eles passaram de 1,1 milhão para 1,3 milhão ao ano. Hoje, a hepatite é a segunda doença infecciosa a causar mais mortes no mundo, logo após a tuberculose. O relatório também se debruça sobre outras dificuldades. Apenas 13% das pessoas que convivem com a hepatite B receberam diagnóstico adequado, e só 3% tiveram acesso ao tratamento antiviral. Na hepatite C, o cenário é um pouco melhor, mas também preocupante: 36% dos pacientes foram diagnosticados e 20% recebem tratamento. A disparidade de preços nos medicamentos faz com que países do Sul Global sejam particularmente mais afetados, sugere o documento.

Uma vasta radiografia dos trabalhadores do cuidado

Chegam a 24 milhões os brasileiros que trabalham no setor do cuidado, diz um estudo extremamente detalhado que virou notícia na Revista Pesquisa Fapesp. O leque vai das trabalhadoras domésticas e cuidadores às enfermeiras e médicos, passando por cozinheiros e faxineiras. Representam em torno de 25% da população empregada: o triplo da construção, o dobro da indústria e 7% a mais que o comércio. Foram identificados pelos pesquisadores da FFLCH-USP, Cebrap e Ipea por meio da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) e pesquisas como a Pnad Contínua. A pandemia os impactou profundamente, com uma queda entre 20% e 30% nos empregos neste setor. As mulheres, em especial as negras, representam uma maioria em seu contingente. Quando se restringe a análise aos trabalhos de cuidado no espaço doméstico, o sexo feminino chega a ocupar 98% das vagas. Nesse segmento, os salários são baixos – em contraste com a subdivisão que abarca médicos, fisioterapeutas e nutricionistas, única onde negros não são maioria e remunerações são mais altas. Os dados reunidos no estudo são excepcionalmente informativos sobre o cuidado no Brasil.

Tragédia de Brumadinho ainda afeta a saúde das crianças

Um recente estudo que reuniu pesquisadores da Fiocruz e da UFRJ descobriu uma explosão de alergias respiratórias entre as crianças que moram nas áreas atingidas pelo rompimento de uma barragem de rejeitos da mineração em 2019, no município mineiro de Brumadinho. De acordo com os estudiosos, há 75% mais relatos de alergia em comparação com localidades não-atingidas. O fato parece se dever principalmente à presença contínua de pó dos resíduos da mineração no ar, que ainda afetava a região anos depois do desastre. 89% dos moradores de Brumadinho afirmaram que precisam limpar suas casas com mais frequência que antes, devido a essa poeira. Entre as crianças de 4 a 6 anos, “68,3% tiveram rinite, sinusite ou otite; 72,2% desenvolveram pneumonia, asma, sibilos ou bronquite, além de 59,4% terem se queixado de alergias”, diz o estudo. Os meninos não-brancos foram os mais afetados por esses problemas de saúde.

EUA: Como reduzir as mortes por abuso de opioides

As overdoses de opioides nos Estados Unidos já estão na raiz de mais de cem mil óbitos anuais. Ao Public Health Watch, especialistas defendem que uma expansão do Medicaid, programa de subsídio público de seguros de saúde para os mais pobres criado pelo governo Barack Obama, poderia ajudar a enfrentar essa epidemia e reduzir o número de mortes. Em um estudo, eles descobriram que as mortes são mais numerosas em estados norte-americanos onde a parcela da população que utiliza o Medicaid é menor. Esses estados concentram-se no Sul do país, historicamente mais desigual. Se estas pessoas pudessem acessar, por meio do Medicaid, os medicamentos que ajudam a tratar a dependência em opioides, o cenário nacional devastador poderia ser mitigado, dizem os pesquisadores. Seus argumentos merecem ser lidos. Mas passam ao largo de outra alternativa: a criação de um verdadeiro sistema público de saúde nos EUA.

Irlanda determina nova rotulagem para o álcool

A partir de 2026, os rótulos das bebidas alcoólicas na Irlanda deverão conter dois avisos, em letras maiúsculas: “HÁ UMA LIGAÇÃO DIRETA ENTRE O ÁLCOOL E O CÂNCER” e “BEBER ÁLCOOL CAUSA DOENÇAS NO FÍGADO”. Serão as diretrizes de rotulagem mais duras do mundo. A concorrência vem da Tailândia: o parlamento do país asiático prepara um projeto de lei que tornará obrigatória a inclusão de imagens que ilustrem os danos do álcool nos rótulos dos produtos – de forma similar ao que há nos maços de cigarro vendidos no Brasil. As ações contra a indústria das bebidas alcóolicas são firmes, mas também “se sustentam em décadas de pesquisas científicas”, frisa o New York Times. Assim como havia sustentado um especialista alemão em mesa recentemente noticiada por Outra Saúde, um estudioso do Canadá afirmou ao jornal que “as pessoas que bebem devem ter o direito de saber essas informações básicas sobre o álcool, assim como sobre outros alimentos e bebidas”.

A notável contribuição de Ziraldo para a Saúde

Ziraldo, que nos deixou no último sábado (6/4), deixou contribuições em diversas áreas com seu traço. A saúde foi uma delas, lembraram vários especialistas à Agência Brasil. A participação do cartunista em campanhas de prevenção da saúde começou em 1987 com as memoráveis ilustrações para uma ação contra o cigarro que diziam: “fumar é cafona”, “fumar é de mau gosto”, “fumar é brega”. Depois, nos anos 1990, seus cartuns se tornaram a cara dos materiais do Programa Saber Saúde, do Instituto Nacional do Câncer, que promove a informação sobre comportamentos saudáveis que afastem fatores de risco para doenças crônicas não-transmissíveis. Não citado pela matéria mas igualmente relevante é o cartaz que Ziraldo produziu para a campanha “Sangue não é mercadoria”, que o movimento social da aids organizou durante a Assembleia Constituinte para enfrentar uma proposta de comercialização do sangue. “A genialidade, o compromisso, a leveza de Ziraldo vão ficar na obra dele”, resumiu uma entrevistada.

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