Apagão no Mais Médicos

Problema não atinge só municípios mais vulneráveis, mas também regiões metropolitanas. Leia ainda: a verdade inconveniente do mercado de créditos de carbono; o remédio mais caro do mundo; e muito mais.

Foto: Reprodução Abrasco
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APAGÃO NO MAIS MÉDICOS

Faz seis meses que os cubanos saíram do programa e não há solução à vista para o vazio que restou. Segundo um levantamento feito pelo Globo, 42% das cidades onde eles atuavam ainda não conseguiram preencher todas as vagasofertadas. Antes, já havia postos em aberto em municípios por conta da desistência de brasileiros ou pela não renovação de contratos, mas o déficit era menor e atingia 23% das cidades. As mais prejudicadas hoje estão no Nordeste e no Sudeste. Entre os estados, os com mais vagas desocupadas são Bahia, São Paulo e Minas. Há 139 cidades onde nenhuma das vagas ofertadas pelo último edital foi preenchida, e um terço desses municípios é classificado como vulnerável ou de extrema pobreza. 

Como sabemos, o governo federal decidiu apenas prorrogar e renovar vagas do Mais Médicos nas cidades de maior vulnerabilidade e, tem anunciado a construção de um novo programa voltado apenas ao ‘Brasil profundo’. A matéria ouviu a sanitarista Ligia Bahia, professora da UFRJ, sobre os planos em para ela, o que foi apresentado até aqui é insuficiente.  “É impossível manter pessoas por muito tempo em locais inóspitos. A gente precisa ter um programa permanente de vinculação das universidades com esses interiores, em que as universidades públicas se responsabilizem com seus residentes, com supervisão e remuneração adequada, e no qual a gente faça uma combinação de estudantes que já estejam formados com médicos mais experientes, que costumam permanecer por pouco tempo, de maneira que a continuidade se dê pela instituição universitária. Essa experiência ocorreu em países capitalistas. O Canadá tem uma região norte que é pouco atraente e lá há forte apoio das universidades”, pontua ela. 

Só que o novo foco do programa está gerando um apagão também nas cidades maiores, segundo dados obtidos pela Folha. Os municípios mais vulneráveis são classificados como de perfis 4 a 8, enquanto nos perfis de 1 a 3 estão as capitais, os municípios em regiões metropolitanas e os que têm mais de 50 mil habitantes. A matéria conta que há nesses últimos perfis 7.859 vagas autorizada hoje, mas 1.855 já estão desocupadas. E, das outras seis mil que está preenchidas, boa parte deve ter seus contratos encerrados até o fim do ano.

Os gestores estão, é claro, preocupadíssimos, e afirmam que mesmo nas cidades maiores há áreas onde é difícil fixar profissionais. Já procuraram o Ministério da Saúde para tentar que essas áreas voltem a fazer parte dos editais, mas a questão já está fechada. “Ah, é difícil colocar médico numa área crítica? Se é difícil para São Paulo, é difícil para o governo federal também”, disse o ministro, Mandetta. Mas, segundo a reportagem, ele não descarta incluir no novo modelo distritos de cidades grandes com áreas rurais extensas. O professor Mário Scheffer, da USP, afirma que de fato deve haver municípios grandes com maior vulnerabilidade. Aponta, porém, que as cidades que podem perder vagas devem pensar outros mecanismos de fixação de profissionais, como planos de carreira. 

O MINISTRO HOJE

E Mandetta vai participar em São Paulo de um evento produzido pela Folha – o fórum A Saúde do Brasil, que tem patrocínio da FenaSaúde (Federação Nacional da Saúde Suplementar), da Anab (Associação Nacional das Administradoras de Benefícios) e da Sociedade Albert Einstein. Mandetta vai falar ao lado de outros convidados que, segundo o jornal, “debaterão novas estratégias de remuneração e assistência para a saúde suplementar, judicialização e como a tecnologia pode colaborar para melhorar o sistema no país”. 

MAIS SOBRE A MUDANÇA

No site da EPSJV/Fiocruz, a reportagem de André Antunes ouviu avaliações sobre o decreto que mudou a estrutura do Ministério da Saúde. A criação de uma secretaria específica para a atenção primária, que é possivelmente a novidade mais positiva do novo decreto, é ponderada por Angélica Fonseca, professora-pesquisadora da instituição. De acordo com ela, ainda é cedo para falar em ganhos, pois é  preciso levar em conta outros elementos, como o desfinanciamento do SUS.

“Para falarmos de ganhos é necessário reconhecer as perdas. A primeira que não pode ser desconsiderada diz respeito ao financiamento do SUS que inevitavelmente tem sido afetado pela EC 95, disse ela, afirmando ainda que outros elementos do decreto – como a própria eliminação da secretaria de gestão participativa e as mudanças no departamento de Aids – interferem também. “Houve supressões importantes nesta reestruturação do organograma, que podem afetar a composição da rede de atenção, e que impactam diretamente cuidados que  dependem de uma atenção primária à saúde forte. Sem essa análise, o novo status que se associa a criação desta  secretaria pode não significar nada além de um discurso da gestão, que não se concretizará como aumento da qualidade do SUS”. 

A matéria aponta ainda que houve alterações na Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, que agora vai ter dois departamentos – na configuração anterior, eram três. Fica extinto o Departamento de Planejamento e Regulação da Provisão de Profissionais de Saúde, que, na verdade, era um setor bem recente, criado no governo Temer. Sem ele, a secretaria volta a ter a estrutura que tinha desde Lula. 

VERDADE NADA CONVENIENTE

Muitos veem o mercado de créditos de carbono como uma alternativa para juntar desenvolvimento econômico, indústrias lucrativas e preservação do meio ambiente. Uma reportagem investigativa das jornalistas Lisa Song, na ProPublica, mostra que a estratégia pode ser, na verdade, ainda pior do que não fazer nada. Nesse mercado, uma entidade paga a outra pelo direito de emitir gases que provocam o efeito estufa, e quem recebe o dinheiro deve deixar de desmatar e investir em fontes de renováveis. O Brasil é um dos maiores beneficiários.  

Song veio ao Acre, revisou os projetos realizados nos últimos 20 anos, analisou relatórios de governo e leu pesquisas sobre florestas remotas. A conclusão é que o esquema de compra e venda de créditos não reduz a poluição nos níveis esperados, ou traz ganhos que não perduram, ou benefícios que não podiam ser mensurados – há problemas de monitoramento e de cálculos sobre as compensações.  “Em última análise, os poluidores receberam um passe livre para continuar emitindo CO2 sem culpa, mas a preservação da floresta não chegou a acontecer, ou não durou”, diz a matéria. Há um exemplo bem concreto. A jornalista contratou uma empresa de análise de imagens de satélite para saber o quanto de floresta havia sobrado de um projeto que começou a vender créditos em 2013 – em 2017, só havia cobertura florestal em metade das áreas.

FALSO TRATAMENTO

Pessoas nas redes sociais e até em sites como o Mercado Livre estão anunciando e vendendo a MMS (sigla em inglês para solução mineral milagrosa) que seria uma cura para o autismo. ‘Médicos youtubers’, como Lair Ribeiro, têm vídeos sobre o MSS. Que é, na verdade dióxido de cloro, substância equivalente à água sanitária, e obviamente está colocando pessoas em risco. A Anvisa fez um alerta às vigilâncias estaduais e começou uma força-tarefa para tentar retirar esse tipo de produto do mercado, o que parece um trabalho sem fim – segundo a Folha, 200 anúncios já foram derrubados, mas vários acabam voltando com outros nomes. A Sociedade Brasileira de Pediatria está orientando pediatras para que o MMS seja contraindicado. Ontem, o tema esteve também no Fantástico.

MUDANÇA NOS PLANOS

A partir do dia 3 de junho, quem tem plano de saúde empresarial também vai poder fazer portabilidade da carência dos contratos. A norma acaba com a regra que limitava a quatro meses por ano o período para exercer a portabilidade. Além disso, vai ser possível migrar para planos com coberturas mais amplas. 

MEIO CARA 

A FDA (agência estadunidense similar à nossa Anvisa) aprovou na sexta a primeira terapia genética para atrofia muscular espinhal. Chamada Zolgensma, ela é voltada para crianças menores de dois anos e vai ser a droga mais cara do mundo: a fabricante Novartis está avaliando o tratamento em um total de US$ 2,125 milhões, ou um custo anual de US$ 425 mil por ano ao longo de cinco anos. Crianças com a forma mais severa da doença em geral morrem em pouco tempo.

No britânico The Guardian, o colunista Kenan Malik sustenta que a pesquisa em medicina está se tornando um jogo: a Novartis alega que o preço da droga se deve ao alto custo do seu desenvolvimento, quando na verdade não desenvolveu nada, apenas comprou a empresa que o havia feito. “O Wall Street Journal descreveu a aquisição como uma ‘aposta’. O preço do Zolgensma é o retorno necessário para que o jogo seja bem sucedido”, escreve. Ele aponta ainda a importância de pensar prioridades no sistema público de saúde – no caso do Reino Unido, o NHS – nesse contexto. Inclusive porque, até 2024, é esperado que surjam mais de 60 terapias genéticas. Malik conta que nos EUA, há três décadas o Congresso aprovou uma lei para impulsionar pesquisa sobre doenças raras, oferecendo incentivos fiscais e facilidades no registro para o mercado: “A consequência, sugerem os críticos, é que muitas vezes é mais lucrativo para as empresas farmacêuticas concentrar a pesquisa em doenças raras em vez de condições mais comuns”.

MENOS CAMISINHA

No mundo todo, e também no Brasil, está aumentando o número de pessoasque fazem sexo sem camisinha. Especialmente os mais jovens. A BBC discute o porquê. Um possível motivo é a popularização de outros meios para evitar a gravidez. No Reino Unido, o NHS registrou aumento na busca de contraceptívos reversíveis de ação prolongada, como o DIU. Outro fator talvez envolvido é a diminuição do pavor do HIV, já que hoje há tratamento eficaz e a PrEP (profilaxia anti-exposição)

PARA MEDIR

Uma técnica desenvolvida pela Universidade Federal de Goiás possibilita identificar e mensurar os resíduos de agrotóxicos em vegetais. 

PARAÍSO DAS ABELHAS

A população delas no planeta está diminuindo, mas Cuba é hoje um paraíso para esses insetos. A explicação, segundo a Folha, é que a União Soviética enviava ao país pesticidas e fertilizantes químicos. Com seu colapso, Cuba começou a desenvolver alternativas biológicas, reduzindo o uso de agrotóxicos a níveis muito baixos. Como os venenos são responsáveis por dizimar as colônias e contaminar o mel mundo afora, lá elas estão bem. 

NÃO ROMPEU

O talaude da Mina Gongo Soco, emBarão de Cocais, estava para se romper até ontem. Não aconteceu, mas defesa civil segue mobilizada e, a população, apreensiva. A situação de alerta vai ser mantida até que a estabilidade seja atestada. E, por enquanto, o talude não para de ceder. Na última semana, registrou uma taxa de 10 centímetros por dia; já no sábado, passou para até 20 cm em alguns pontos. 

JÁ GANHOU

Segundo o Valor, “empresários de diversos setores da economia” já têm como certo que a reforma da Previdência vai ser aprovada. “A gente não tem mais dúvida, eu já quero saber é da tributária”, disse Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (associação dos fabricantes de brinquedos). 
Um manifesto de apoio foi assinado por 45 entidades ligadas à indústria, comércio e serviços.

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