À moda Bolsonaro

Novo protocolo da hidroxicloroquina deve sair hoje. Médicos já sentem pressão por prescrição desgovernada. Trump diz tomar preventivamente

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O presidente brasileiro deve anunciar hoje o novo protocolo para uso da hidroxicloroquina, que, segundo a Record, foi apresentado a ele ontem pelo Ministério da Saúde.

Como estamos cansadas de repetir, as evidências existentes até o momento não indicam melhora do quadro clínico nem diminuição da mortalidade nos pacientes, e, além do mais, apontam para o perigo de efeitos colaterais graves. Multiplicam-se notas, pareceres e orientações de entidades médicas. A Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Pneumologia aprovaram ontem um documento nesse sentido. A Sociedade Brasileira de Infectologia já havia divulgado um parecer científico também contrário ao uso. A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, idem.

O novo protocolo será uma orientação, e não uma recomendação ou decreto. Governadores ouvidos pelo Estadão disseram que não devem acompanhar a mudança, e sim manter o que já vinha sendo feito em seus estados. Mas, na ponta, médicos da rede pública e privada já relatam pressões para prescrever a cloroquina, inclusive por parte da própria categoria. Uma plataforma chamada “Médicos pela vida na covid-19” permite e estimula o apoio à pŕescrição via grupos de WhatsApp. No Recife, os autointitulados “Doutores da Verdade” distribuem cloroquina em comunidades pobres. Há acusações de que o grupo promoveu “caravanas de doações” em atendimentos sem prontuários médicos. Aliás, uma das promotoras do grupo é a deputada estadual bolsonarista Clarissa Tércio (PSC-CE).

Vale lembrar que já faz dois meses desde que Bolsonaro determinou o aumento da produção da substância pelos laboratórios das Forças Armadas. Depois disso, mais de três milhões de comprimidos já foram distribuídos aos estados.

Pois é. O grande impulsionador dessa verdadeira campanha foi Donald Trump, que ontem foi muito além da sua tradicional irresponsabilidade: disse que vem usando a substância preventivamente. “Vocês ficariam surpresos com quantas pessoas tomaram, especialmente profissionais da linha de frente, antes que sejam contaminados. Eu mesmo estou tomando. Estou tomando agora mesmo, comecei há algumas semanas (…). Porque ouvi muitas histórias positivas(…), acho que as pessoas devem ser autorizadas (a tomar)”, afirmou a jornalistas. A FDA, agência dos EUA que autoriza e regula medicamentos, já advertiu contra o uso fora de hospitais ou de testes clínicos.

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