O futuro do Ministério da Saúde

Centrão defende general Pazuello no comando até o fim da pandemia, mas há um punhado de outros nomes em jogo. Veja quais

O general Pazuello, agora à frente da Pasta, atrás de Nelson Teich. Foto: Sérgio Lima
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Ao contrário de Luiz Henrique Mandetta, que saiu denunciando as pressões que sofreu do presidente, em seu brevíssimo pronunciamento de despedida Nelson Teich sequer falou sobre por que ‘escolheu’ sair. O motivo, obviamente, é conhecido: a cloroquina. Mas o fato é que a colher de chá dada pelo ex-ministro a Bolsonaro rendeu ao presidente mais tempo para escolher o próximo ocupante da pasta. No fim de semana, ele teria confidenciado a aliados que não queria ser ‘açodado’. 

No momento, existem duas correntes de pressão atuando sobre o presidente. Seus mais novos aliados do centrão defendem, ao menos publicamente, a tese de que o melhor é deixar as coisas como estão durante a pandemia. Assim, o general Eduardo Pazuello assumiria um “mandato tampão’. Ele já se dispôs a assinar embaixo do protocolo “exigido” por Jair Bolsonaro que recomendará o uso do cloroquina aos primeiros sintomas da covid-19 – o que, como mostraram estudos internacionais, pode causar danos cardiológicos e mortes. Sendo militar, Pazuello obedeceria a outras ordens, abraçando a retórica da reabertura econômica e talvez a adoção da invenção presidencial: o isolamento vertical. Quem vocaliza isso? Pelo menos duas pessoas: o líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), e o vice-líder, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) – que é, como sabemos, ex-ministro da Saúde. Em suma, para o Centrão Pazuello é uma excelente bucha de canhão. 

Naturalmente, o núcleo militar tem posição bem diferente. Segundo o colunista Lauro Jardim, os ministros fardados do Planalto avaliam que 100% contra que botar um militar no comando do Ministério da Saúde é “levar para o colo das Forças Armadas o problema da covid“.

A hipótese corrente na mídia é a de que Pazuello fica à frente da pasta ao longo dessa semana, pelo menos. Sua missão, já confirmada pelo Ministério da Saúde, será atualizar o protocolo da cloroquina no tratamento da covid-19. Entre os cotados para assumir a pasta no lugar dele, há outro militar – o contra-almirante Luiz Froes, diretor de Saúde da Marinha – e dois militantes, o ex-ministro e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) e a oncologista Nise Yamaguchi, que se reuniu com Bolsonaro na sexta e já disse em entrevistas que está preparada para assumir a pasta. Mas já surgem outros dois nomes que teriam apoio dos filhos de Bolsonaro: Anthony Wong, pediatra do Hospital das Clínicas da USP, e Paolo Zanotto, virologista e professor da USP. Ambos já deram declarações favoráveis ao uso da cloroquina em casos leves de coronavírus. Zanotto já apareceu aqui na newsletter antes: no dia 6 de abril, ele participou de uma transmissão ao vivo no Instagram com Eduardo Bolsonaro defendendo a cloroquina. (O posicionamento foi desautorizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP, onde ele trabalha, dias depois). No dia 21 daquele mês, ele incentivou, em seu perfil no Facebook, a leitura da portaria assinada por três procuradores bolsonaristas do MPF contra os pesquisadores da Fiocruz que conduziram o estudo clínico sobre a cloroquina. O interessante é que o mesmo Zanotto defendia o isolamento social no início de março. Wong, por sua vez, é entusiasta do “isolamento vertical”. 

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