Máscaras: o que você precisa saber

Câmara aprova uso obrigatório. Veja cuidados mínimos para garantir alguma proteção

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A Câmara aprovou ontem um projeto que obriga a população a usar máscaras em ruas, transportes públicos e prédios. Inicialmente o texto previa uma multa de R$ 300 para os não-mascarados, mas, por fim, os deputados federais determinaram que o valor vai ser definido por estados e municípios. Quem estiver trabalhando precisa receber a máscara do empregador; o projeto prevê ainda o fornecimento de máscaras a populações pobres e, onde isso não ocorrer, os que não tiverem dinheiro para comprar o equipamento não vão poder levar multa. Não há, no projeto, nenhuma especificação sobre como devem ser essas máscaras, mas uma emenda aprovada diz que podem ser industriais ou artesanais.

Desde que as autoridades de alguns países – entre eles, o Brasil – começaram a orientar a população a usar máscaras, pipocam campanhas nas redes sociais informando o quanto isso protege quem usa e quem está ao redor, inclusive no caso de máscaras caseiras. Isso é preocupante, porque não é necessariamente verdadeiro.

Quando, no início do mês, a Royal Society de Londres publicou um relatório sugerindo que qualquer máscara, mesmo caseira, poderia contribuir para a redução da transmissão viral, foi um deus nos acuda na comunidade científica, com vários pesquisadores contestando o documento. Isso porque, apesar de essa ser uma das sociedades científicas mais antigas e respeitadas do mundo, o próprio relatório reconhecia não haver evidências suficientes sobre a questão. Trocando em miúdos: como não havia evidências de que as máscaras protegiam nem de que faziam mal, o documento sugeria o uso ampliado, por precaução – o que não é lá muito científico, daí as críticas.

Pouco depois, saiu um estudo (já revisado por pares e publicado na revista da American Chemical Societycomparando máscaras caseiras feitas com tecidos diferentes. A pesquisa não avaliou exatamente a capacidade de diminuir a contaminação, mas o quanto os tecidos conseguiam bloquear a passagem de partículas de tamanho parecido ao das nossas gotículas respiratórias. E descobriu que esse bloqueio variava imensamente, entre 10% e 60%. Alguns materiais, como duas camadas de algodão 600 fios, protegiam bem. Outros, como o algodão 80 fios, não protegiam praticamente nada.

Se o problema fosse só escolher o melhor tecido, até que não seria difícil oferecer alguma segurança. Porém… Quando há espaços entre a pele e a máscara, as gotículas passam mais e a proteção pode cair até 70%. E o pior é que sempre há espaços nas máscaras caseiras. Às vezes são maiores, às vezes menores, mas eles estão lá. O podcast Luz no fim da quarentena, da Piauí, fez recentemente dois programas discutindo essa questão. Em um deles, o biólogo Fernando Reinach explica um jeito fácil de perceber essa folga: é quando os óculos embaçam, o que basicamente acontece com todo mundo que usa óculos. Isso não quer dizer que as máscaras não ajudem nada a proteger, explica ele. Provavelmente, ajudam.

Só que não são elas que vão acabar com a pandemia se for todo mundo pra rua. Muito menos se forem usadas de forma incorreta, deixando o nariz de fora ou sendo retiradas o tempo todo, como se vê por aí.

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