Show de horrores

Quem é o youtuber que os bolsonaristas querem no Ministério da Saúde

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Jair Bolsonaro pode levar algumas semanas para a escolha do sucessor de Nelson Teich. Fontes próximas do presidente chegam a afirmar que o general Eduardo Pazuello pode ficar como ministro interino “até o final da pandemia” – o que, no mundo baseado em evidências científicas, deve ser traduzido pelo fim da primeira onda de contaminações no Brasil. 

Mas o presidente vai receber candidatos para o posto. Do próximo ministro, vai exigir tanto a defesa do uso da cloroquina na fase inicial da covid-19, quanto a pressão pelo fim do isolamento social decretado por estados e municípios.

A campanha dos bolsonaristas na internet pende para um daqueles nomes que, depois que você conhece, conclui que o melhor teria sido continuar na ignorância. Trata-se do “médico e youtuber” Italo Marsili. No texto do seu currículo Lattes, há uma menção ao fato de ter morado com Olavo de Carvalho – como se isso tivesse alguma relevância acadêmica. Além disso, Marsili se diz psiquiatra, mas não tem registro nessa especialidade, como confirmam o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria. É mais um personagem inacreditável nessa distopia brasileira: defende a “cura” da pedofilia com uso de prostitutas e afirma que o voto feminino é responsável pela derrocada da democracia. Seus vídeos têm aquele apelo ao escracho que é emulação pura da direita “alternativa” americana, que há muito escolheu o YouTube como ferramenta de radicalização política. 

Marsili viajou ontem para Brasília – e fez questão de divulgar bastante esse fato. Já fala como ministro: “Se certos cargos já foram prometidos por ‘n’ motivos políticos, é óbvio que vou conviver bem com isso”, disse ao Estadão. “E pessoas do Centrão, que sejam de esquerda inclusive, se forem pessoas técnicas, que não atuem com malícia, maldade, vão ser bem-vindas para somar”, continuou. Mas, segundo vários veículos de imprensa, os ministros do núcleo-duro palaciano têm horror a ele – que por outro lado têm apoio de deputados bolsonaristas, militantes pró-governo e talvez do filho 03, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, com quem já bateu papo na internet.

Ontem, Marsili encontrou em Brasília a oncologista Nise Yamaguichi – outra candidata ao posto, defensora do uso da hidroxicloroquina aos menores sintomas, que, no entanto –  mesmo questionada –, não cita nenhum estudo científico que embase sua defesa. A cena não deve ter ficado devendo nada ao seriado American Horror Story. Outro nome que apareceu recentemente nessa corrida maluca é o do presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Lincoln Lopes Ferreira.

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