Resenha Semanal
8 a 15 de novembro. Mais erupções no cenário latinoamericano agitam a semana: Bolívia, Chile, Equador e a invasão da embaixada venezuelana no Brasil…
Publicado 15/11/2019 às 16:55 - Atualizado 15/11/2019 às 18:15
A liberdade de Lula reverbera na política. Há quem garanta que voltará a ser preso muito em breve (“ele não está livre, está solto”), mas não há como saber. Por um lado, sua soltura com certeza foi previamente aprovada pelos militares, o que faz com que alguns temam armação maior que redunde em nova prisão, mais dura, com convulsão social que justifique fechamento.
A direita ficou em polvorosa, e tenta aprovar uma PEC no Congresso para autorizar a prisão em segunda instância. Mas pode ser só balão, já que a norma que regula a questão, na Constituição, é cláusula pétrea e só pode ser mudada com uma assembleia constituinte. Seria mais fácil mudar a interpretação de “trânsito em julgado”.
O TRF4 anulou uma sentença da juíza Hardt por ter sido “copiada e colada” de uma outra sentença já existente. Este é o exato caso da sentença que condena Lula no caso do sítio de Atibaia. Por isonomia, a extinção do processo como está é questão de tempo.
De qualquer forma, Bolsonaro destacou Moro para fazer frente ao ex-presidente, evitando o que seria o confronto de preferência de Lula, com Paulo Guedes, sobre a economia.
Até a extrema-direita internacional sentiu o golpe… E, no Brasil, o apresentador Datena reconheceu, ao vivo no ar, que Lula foi preso político.
A semana que deveria ser dominada pela reunião dos BRICS em Brasília foi atropelada pelos eventos na Bolívia – e a invasão da embaixada Venezuelana no Brasil.
O presidente da Bolívia foi deposto e se exilou no México, após nota das forças armadas de seu país pedirem a sua renúncia. Houve muita violência, casas de ministros queimadas, humilhação e agressão a prefeita do MAS, rebelião nas forças policiais…
Tinha vídeo de milhares de trabalhadores e camponeses descendo as montanhas à capital La Paz, gritando “Ahora si, guerra civil!”. A situação segue indefinida, mas parece que algum tipo de acordo foi feito.
Nos confrontos e manobras golpistas, muita louvação nos discursos oposicionistas, muita bíblia e jesuses nas mãos e nas bocas da direita.
No Brasil, os eventos bolivianos causaram acirrada discussão na esquerda: Evo cavou a própria cova? Houve um levante popular legítimo? Há posição progressista que não seja de apoio a Morales? Foi golpe mesmo? Uma discussão parecida com a que teve no Brasil em 2016: foi golpe ou não foi? O Estadão só veio a usar a palavra “golpe” em vez de “revolução” para descrever os eventos de 1964 anos 1990.
No Chile, continuam as mobiliações massivas, a despeito do apagão noticioso que a imprensa brasileira impõe. As reivindicações populares e encontraram importante figuração na Assembleia Nacional Constituinte. Ela instauraria o debate geral sobre os fundamentos da sociedade, incluindo as diretrizes econômicas, o que poderia enterrar o cruel neoliberalismo para sempre.
O governo e a direita querem um Congresso Constituinte, que seria eleger o Congresso de deputados e senadores antes, e eles escrevem a constituição. Já a Assembleia, exclusiva, quer eleger gente boa que não necessariamente quer ou deve ser deputada (o político profissional). Quando acabam de escrever, põe a nova carta a plebiscito e aí sim eleições gerais.
Em 1986, o Brasil passou pela mesma discussão: nós tivemos o Congresso Constituinte, o que nos legou certos vícios e problemas. Os políticos profissionais dominaram o processo.
Já no Equador, o presidente Lenin Moreno se vinga das grandes mobilizações que quase o depuseram. Prendeu líderes de oposição e ativistas políticos.
A invasão da embaixada da Venezuela agitou o dia. Um grupo de brasileiros e venezuelanos, apoiadores do político venezuelano Juan Guaidó, invadiram o lugar, tirando o foco da abertura dos BRICS. Com a Bolívia em chamas, o evento fez subir a temperatura política. Incidentes diplomático, escalação e guerra, tudo foi aventado, no que parecia ser o início de um levante de extrema-direita.
TRIPLEX! Dois anagramas e um labirinto. Desembaralhe cada grupo de letras e descubra 1- o chefe do Itamaraty, 2- os caminhos da política externa brasileira em relação à Venezuela e 3- o resultado.
(as marcas gráficas não são parte da resposta! Soluções ao pé da página)
Eduardo Bolsonaro apoiou o ato, mas a Polícia Militar não tinha instruções claras do governo, que aliás reconhece Guaidó como presidente. O Itamaraty enviou um representante, mas para apoiar os invasores. Movimentos sociais e partidos de esquerda foram para lá.
Horas depois os invasores saíram, mas só depois que o governo, por meio de duas notas do Gabinete de Segurança Institucional, desautorizou a ação dos provocadores. Analistas especulam que os bolsonaristas estão percebendo a movimentação dos militares para institucionalizar a vigilância sob seu comando. Há youtubers de direita contras as PECs que instauram a vigilância do chamado AI-5 Digital, que é iniciativa dos militares.
O avanço da CPI das Fake News prossegue no Congresso e tem colhido depoimentos, produzindo algumas madalenas arrependidas, gente que trabalhou na distribuição de conteúdos falsos e que agora declara ter compreendido seu erro, depois de passar a ser atacado por bolsonaristas: Luciano Ayan, blogueiro que trabalhou com o MBL, diz “me arrependo bastante de ter ajudado a criar esse clima antimídia”.
Vendo a TeleSur na internet, fiquei impressionado de novo com a vocação global da língua espanhola. Na emissora, vozes de lugares muito distintos se entendiam através da mesma língua. Vinte países latinos falam o castelhano.
Tenho ido à Zona da Lama Proibida, que é o espaço para comentários abaixo de cada notícia, de sites de direita. Trata-se de uma zona de infernal guerra robótica: abundam mensagens automáticas e guerreiros do teclado, e provavelmente nenhum leitor genuíno. Mas tal zona permite algum tipo avaliação informal da linha oficial de defesa ou ataque de certos grupos, e também monitorar brigas na direita. O bolsonarismo, lavajatismo e olavismo estão sempre em ação.
Mas tem um tipo de posição que parece ter crescido nos últimos dias, uma espécie de posição “de centro”, que insiste naquela falsa simetria entre PT e Bozo, sugerindo que Bolsonaro, no poder, está operando a mesma corrupção. O nome de um usuário: Lula+Bozo=Acordão…
A saída dos Bolsonaro do PSL é dada como certa. Um novo partido será criado para abrigar o clã, à maneira da antiga ARENA. Não se sabe ainda se as filiações em todo o território nacional poderão ser digitais (o que facilitaria muito) ou se terão de ser em papel, como de costume (um inferno logístico).
Os chamados hackers de Araraquara continuam presos. Parece que a Polícia Federal não tem como incriminá-los, pois eles não tiveram acesso ao celulares dos procuradores, tendo acessado os dados na internet. Um procedimento normal da Lava Jato, a prisão por tempo indefinido para obter depoimentos configura tortura. Os hackers descobriram um grampo no chuveiro onde se banhavam: a PF tentando imputar alguma coisa a eles para evitar a humilhação.
Li que uma empresa lançou sistema de reconhecimento facial para igrejas evangélicas. O sistema serviria para o controle de presença, a coleta do dízimo e mesmo para o monitoramento das emoções dos fiéis…
Circulou um vídeo onde um grupo de jovens mulheres evangélicas se perfilam de uniforme militar, muito louvor e canção gospel. Essa mistura de miliciano e evangélico, que aliás mostrou a cara na Bolívia, é de arrepiar.
O Intercept Brasil parece que parou de publicar os diálogos dos procuradores, mesmo depois de prometer que tinha muito mais, sobre o ministro Moro, sobre a Globo, com vídeos e áudios… tem gente que fala que eles são parte da conspiração… Não sei dizer, mas eu esperava mais dos vazamentos.
Paulo Guedes livrou empresas de pagar certos impostos, mas impôs uma taxa sobre o salário-desemprego! Está sendo chamado de Imposto sobre Grandes Pobrezas.
O secretário da educação, Weintraub, é monarquista: declarou-se contra a proclamação da república e elogiou o escravocrata D. Pedro II…
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