Resenha Semanal
1 a 8 de novembro 2019. A soltura de Lula é iminente depois de decisão do Supremo Tribunal. Reposicionam-se as peças no tabuleiro político. Enquanto isso, mobilizações no Chile redundam em novas formas de deliberação popular.
Publicado 08/11/2019 às 18:06 - Atualizado 09/11/2019 às 02:39
A semana fechou com a agitação em torno do julgamento no Supremo Tribunal Federal, que derrubou a prisão depois da segunda instância, um instrumento da Lava Jato que manteve Lula encarcerado por mais de 500 dias.
Hoje, sexta-feira, começam as reações ao veredito. Ainda não está claro se a validade é imediata, se haverão “modulações” ou o exame “caso a caso” para cada preso.
Há muita agitação e histeria das redes direitistas, uma enxurrada de memes e vídeos indignados. Vi uma chamada para manifestação anti-Lula para hoje, no MASP em São Paulo. Tem outra marcada pelo VemPraRua no mesmo local, mas amanhã dia 9. Há um consenso geral de que a volta de Lula vai reacender a oposição política do país.
Avalia-se que Bolsonaro ganha com isso, pois consegue reanimar a sua militância, um tanto perplexa com os rumos do governo, mudando o foco do noticiário econômico. As divisões na direita e extrema-direita têm tido muita visibilidade no noticiário, como a implosão do PSL. Parece haver, ainda, certa separação entre moristas e bolsonaristas. Já a Lava Jato foi humilhada e continua a perder poder. O procurador Deltan Dallagnol, por exemplo, vai ser alvo de inquérito disciplinar no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). O ministro da Justiça Sérgio Moro ainda poderia ganhar pessoalmente se também se polarizar com Lula. Mas precisa combinar com Jair.
Quem perde é o dito centro e tucanos, pois sua fraca atuação atual vai ser varrida pelo protagonismo lulista. Eles continuam prisioneiros de um projeto autoritário que eles sabem que vai devorá-los, mas que também contempla a sua pauta econômica liberal. Tudo o que podem declarar, como escreveu FHC esta semana, é “mãos lavadas”, como zumbis na fila da execução.
As ruas serão boa oportunidade de verificar como anda o apoio real da população ao governo. Pode ser que nem bombe, a despeito das declarações inflamadas de comentaristas e youtubers. Mas, como o voto decisivo foi do ministro Dias Tofolli, que tem um general alocado em seu gabinete, dificilmente o contexto de agora não foi previamente discutido e aprovado. Não creio que haverá um levante coxinha (com militares, Globo e tudo) para já.
De qualquer forma, Lula solto ajudaria a reorganizar a oposição ao governo, um tanto paralisada e atônita. Suas chances eleitorais pessoais são bem baixas – ele está inelegível e há outros processos correndo, mas o contraste com a estatura do atual presidente é tamanho que Lula representa perigo real para o bolsonarismo. Lula saiu da prisão agigantado e projetará sua sombra sobre o Brasil.
Mas prossegue o projeto autoritário de atrito e desgaste das instituições. O presidente da hungria Viktor Orbán tem trilhado este caminho, assim como o líder da Turquia, Erdogan. Intensa propaganda, impacto e recuo, testando as reações e mapeando impulsos defensivos dos inimigos (nós).
Há crucial legislação em tramitação nas comissões do Senado que dão poderes inéditos ao Gabinete de Segurança Institucional, como o monitoramento em tempo real de mídias sociais (como o Whatsapp), que essencialmente colocam o movimento social sob a definição de terrorismo. Trata-se da PL 2.418/2019, já apelidada de “Patriot Act Tabajara” – em referência à legislação americana implementada depois do 11 de Setembro, efetivamente lei de exceção – e “AI-5 Digital”. As declarações de Eduardo Bolsonaro em favor de um AI-5 caso “a esquerda radicalize”, mas tal legislação realiza exatamente um tal fechamento, iniciativa do general Heleno.
O caso do porteiro do condomínio de Jair Bolsonaro deixou um cheiro ruim muito forte, ficaram mal a polícia civil carioca, a procuradoria, Augusto Aras, Sérgio Moro, os Bolsonaro… claramente a investigação sobre o assassinato de Marielle está bichada e envolve enormes interesses escusos. A revista Veja achou o porteiro em sua casa no rio de Janeiro e conseguiu fotografá-lo, fazendo também imagens de sua casa, revelando o bairro onde mora. Teme-se que ele possa ser morto a qualquer momento.
O leilão do Pré-Sal foi um fracasso para o governo: teve que recorrer à própria Petrobrás e à China para que houvesse lances. Tal fato acentua uma percepção que alivia a agonia melancólica que está no ar: o projeto destrutivo da extrema-direita não é invencível. A hesitação das empresas estrangeiras seria resultado da instabilidade atual e potencial do país. Em outras palavras, o risco Bolsonaro está sendo fatorado no cálculo de lucro…Mesmo assim, o ministro Paulo Guede quer “reformar o estado brasileiro” e propõe mudanças profundas na estrutura administrativa e fiscal do país, mas sem consulta geral ao país…
Lembrei da anedota dos dois dois amigos na floresta, que ilustra como os tucanos e liberais acreditam que vão se safar da extrema-direita, sacrificando a esquerda. Perdidos na mata, os amigos encontram um urso que começa a perseguí-los. “Vamos correr!”, diz um. “Vamos correr mais do que ele?” pergunta o outro. “Não, eu vou correr mais do que você!”.
Mas a sombra do Chile permanece sobre nós. No país vizinho, as mobilizações continuam fortes, e há interessante e potente movimento de assembleias populares locais. Frente à paralisia do parlamento e do Executivo, capilariza-se a auto-organização na sociedade. Uma assembleia nacional constituinte está nas cartas.
Já na Bolívia, fortes e violentos confrontos entre apoiadores governistas e oposicionistas.
Glenn Greenwald foi agredido por Augusto Nunes em programa de rádio na Jovem Pan, o odioso Pânico. Nunes foi e é muito escroto, atacando os filhos de Glenn de maneira muito baixa, e chegou a atingir o americano fisicamente com um soco. A atitude da Jovem Pan foi péssima, lançando nota anódina e não demitindo Nunes.
A deputada bolsonarista Joice Hasselmann chorou em plenário por causa dos ataques que vem sofrendo das milícias digitais de Carlos Bolsonaro. Não tenho nenhuma pena e não defendo. Ela se serviu do mesmo expediente contra Dilma, Lula e a esquerda. Como também o deputado Alexandre Frota, que agora posa de democrata. Achei um post dele que guardei no calor dos ataques contra Lula.
Respostas do enigma e dos anagramas:
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