Resenha Semanal

3 a 10 de maio 2019. O acirramento do embate entre as facções olavistas e militar aumentam a tensão e parecem trazer inevitável duelo final. Nos ares do Rio de Janeiro, a morte. Nas ruas, uma brisa de esperança.

Semana com acirramentos que indicam iminência de alguma ruptura significativa. A sensação de precariedade e fragilidade do governo tem sido muito forte, com os cortes persecutórios nos orçamentos federais da educação e, se for verdade, das Forças Armadas também (43%). Crises geradas por má gestão acumulam-se em diversos setores governamentais. O coro dos descontentes acha voz nos editoriais dos jornalões. Aliás, a renúncia de Moro só não teria acontecido por absoluta falta de alternativas a ele, segundo a Veja. Damares já tentou sair.

Mas, por cima de tudo isso, os incríveis embates entre olavetes e militares levam a crise no governo a níveis de escatologia só previstos na dramaturgia de um Nelson Rodrigues. Como Olavo, não apenas os filhos de Bolsonaro parecem pervertidos, mas toda uma gama de ressentidos e retentivos que fazem parte da ala ideológica do governo – Weintraub, o chanceler Araújo… e também mamãe e papai, segundo as palavras textuais da ministra evangélica: “A Funai vai ficar com mamãe Damares, e não papai Moro“.

Bolsonaro não lê nada então não defende Olavo por afinidade de ideias. Mas seus filhos leem, e são eles que comandam a rede que agora ataca os militares.

Mas qual será o cacife que o clã acredita ter contra os militares? De onde vem esta confiança de alienar os fiadores fardados deste governo? Serão as milícias sociais nas redes? Será o baixo clero das FFAA, polícias, academias de ginástica e empresas de segurança? Será que ele viu que na verdade não tem Exército e a esquerda ficou décadas temendo um fantasma que não mais existe? Os militares estão perdendo o bate-boca e foram humilhados publicamente.

Há quem analise que atual conjuntura não pode continuar e que uma ruptura violenta está no horizonte. Com seu decreto de posse de armas, Bolsonaro estaria deflagrando um golpe da extrema-direita e que só isso explica os acontecimentos da semana e do governo como um todo. Um levante geral do baixo clero e dos perdedores da falsa meritocracia neoliberal. O termo necropolítica figura em várias análises.

Parece que não há consenso, porém, se existe ainda alguma força social capaz de fazer frente ao golpismo extremo de Jair Bolsonaro. Quem enxerga um centro democrático inativo mas republicano acha que existe essa força. Afinal, até a Lava Jato, que pode ser descrita como uma revolta do baixo clero do Judiciário, precisou da grande imprensa e não atacou o poder realmente. Quem acha que o derretimento institucional é irreversível e que as condições sociais e políticas para o antigo centro se recuperar não existem, torce as mãos em desespero.

A percepção de que os militares ataram seu futuro e prestígio ao presente governo é muito viva, e eles vão ter que se perguntar o que fazer daqui para diante. A facção olavista quer uma transição para um novo regime político, a bordo de uma contrarrevolução preventiva, almejando controlar todos os espaços públicos nos quais possam despontar quaisquer formas de resistência e contestação: a juventude, a sexualidade, o carnaval e os trabalhadores.
Num cenário de desmonte da ciência, tecnologia e conhecimento, o Brasil figura como um laboratório global para o ultraneoliberalismo.

4 de maio

Saiu que a RedeTV se autocensurou e não vai irradiar a entrevista com Lula, pela qual foi ao Supremo para conseguir. O jornalista Kennedy Alencar foi a Curitiba e se encontrou o ex-presidente, numa iniciativa em conjunto com a BBC. A emissora não deu motivos para sua decisão, mas especula-se que a distribuição das verbas publicitárias da campanha da Previdência pelo Planalto sejam relevantes. A entrevista será levada ao ar no sábado 11 de maio, pela BBC.

Repercutem muito os cortes persecutórios à educação. As falácias da gestão ficam aparecendo: a justificativa era de poder assim “investir na Educação Básica”. Mas quase 40% das verbas da educação básica serão também cortados. No caso das creches e escolas de ensino fundamental, 45%.

Fui à Cryptorave, que é um encontro de programadores, ativistas, hackers e movimentos sociais. Muitas palestras, encontros e oficinas instigantes acerca da tecnologia, a partir de pontos de vista menos hegemônicos e institucionais. Muito horizonte futuro…

5 de maio

Até Eliane Catanhêde do Estadão está dando: a violência e letalidade do estado brasileiro aumentou muito desde Bolsonaro: a morte é um instrumento de estado. O Estado como gerente da morte e da violência, manejando um estado de crise e de exceção – austeridade, punitivismo e helicópteros. “Reflete o ambiente e a apologia oficial a favor das armas, do recrudescimento policial, da expansão do ‘excludente de ilicitude’ (dispensa de punição para crimes em circunstâncias específicas)”.

Repercutiu muito o vídeo do governador do Rio com seu helicóptero. Ele anunciou uma grande ofensiva policial em Angra dos Reis, que inclui franco-atiradores (snipers) nas aeronaves, para matar à distância pessoas suspeitas de carregarem armamentos – ou, como coloca o governador Witzel, para “acabar com a bandidagem”.

Em entrevista a O Globo, ele admitiu que os snipers já estão agindo. E há inúmeros relatos de pessoas sendo mortas por atiradores à distância. E as vítimas não são apenas suspeitos, mas cidadãos comuns.

Saiu depois que o helicóptero do vídeo alvejou uma tenda onde se reúnem evangélicos.

A homenagem da Câmera Comercial Brasil-EUA a Bolsonaro não vai ser realizada em Nova York e mudou para o Texas. Já foi iniciada campanha contra a presença do presidente lá também.

Teve faixaço pela Liberdade de Lula em 14 viadutos e passarelas da avenida 23 de maio na capital paulista. Vi o vídeo

6 de maio

A celeuma do dia entre olavetes e militares foi acerca de uma suposta defesa, pelo general Santos Cruz, de regulação ou controle das redes sociais. Olavo de Carvalho escreveu que Santos Cruz é “um bostinha engomado” e que ” não é homem bastante nem mesmo para ler o que escrevo, quanto menos. para debater comigo”.

O tema continuou no noticiário com Sérgio Moro, que foi ao Twitter para atacar a oposição a respeito da regulação. Escreveu que se Fernando Haddad tivesse sido eleito presidente haveria controle da mídia e do Poder Judiciário. Na verdade, em vários países desenvolvidos, existe regulação dos meios de comunicação – especialmente das concessões públicas, como as emissoras de TV. A regulação econômica garante, por exemplo, a competição justa e pode ter viés anti-truste. Louco isso da imprensa aceitar esse gangster como presidente e ter se calado quando ele barrou certos repórteres de coletiva de imprensa, quando chamou a Folha de “inimiga” e a imprensa em geral de Fake News.

O senador Major Olímpio (PSL-SP) voltou a usar as redes sociais para pregar a execução de “bandidos” pela polícia. em vídeo, convoca “policiais civis, federais, rodoviários, militares, guardas municipais a redobrar a atenção, a cautela, redobrem a munição e sentem o dedo nesses malditos. Quem dá tiro na polícia para matar tem mais é que morrer”. “Se tiver que chorar, vai chorar é a mãe do bandido”, afirmou no final do vídeo.

“Cadê o Queiroz?”. Essa é a pergunta que não quer calar. O processo avança lentamente, e a Justiça vai quebrar sigilo bancário de Queiroz e Flavio Bolsonaro.

Vejo agora a movimentação dos alunos do colégio Pedro II. Ele fizeram uma assembleia na rua e parece que estão indo para onde o colégio militar onde presidente participa de cerimônia. Vi também que teve protesto em várias cidades do Brasil. Vamos acordando, será?

Vi agora o vídeo feito há uma hora atrás, onde se vê um helicóptero fazendo rasante na Favela da Maré, disparando sobre a favela. Parece que foram 8 mortos na operação toda.

Em São Paulo Eduardo Bolsonaro afirmou que quem não estiver “alinhado” a Jair Bolsonaro vai ser alvo de ataques nas redes sociais.

Vou mandar emoldurar, para que os tribunais do futuro, quando for possível debater temas econômicos de novo, possam apontar para o quadro e confrontar mentirosos. O ministro Guedes declarou:

Mais de 11 mil acadêmicos de universidades de todo o mundo assinaram um manifesto contra a política de cortes na Educação. Na lista estão intelectuais de Harvard, Princeton, Yale, Oxford, Cambridge, Berkeley, e de instituições brasileiras como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de Brasília (UnB), entre outras. O manifesto foi publicado no jornal francês Le Monde.

7 de maio

Novos insultos de Olavo de Carvalho aos militares, e ao general Villas Boas em particular: “doente preso a uma cadeira de rodas”. O general sofre de uma doença degenerativa. O presidente não desautoriza o astrólogo, e disse que ele também ouve coisas que não gosta: “O pessoal fala muito em engolir sapo e eu engulo sapo pela fosseta lacrimal“,

Uma professora disse que “se você usar o ranking do Enem como fonte, o Pedro II aparece em 1º dentre as escolas públicas. na frente do Colégio Militar, inclusive”. Rebatia o presidente que opunha “formação de esquerda” com supostos maus resultados acadêmicos da escola.

E ministro da Ciência e Tecnologia, o astronauta Marcos Pontes, veio à público defender o desbloqueio de recursos do orçamento determinado pelo Ministério da Economia. Pois é, querido, tem que sair do mundo da lua…

Bolsonaro foi à televisão, nos programas de Sílvio Santos, Luciana Gimenez e Ratinho. A pauta é a defesa da reforma da Previdência. Eles receberão dinheiro para fazer isso. Não tive coragem de ver.

Teve greve mundial dos motoristas do Uber. Além do desligamento de aplicativos, teve protesto às 8h no Vale do Anhangabaú. Quase fui, mas não acordei a tempo. A Folha deu a notícia, não parece ter presencialmente massivo, mas parece que teve algum impacto. O Uber lançou hoje suas ações na Bolsa.

A uberização do trabalho é uma tendência geral que atinge a todos os trabalhadores: os motoristas somos nós amanhã.

Li agora que Bolsonaro anunciou um corte de 43% no orçamento das Forças Armadas. Só pode ser mentira… além de inoperável. Pode ser um jogo de cena, para dar a impressão que o sacrifício dos cortes acontece em todas as áreas. Mas anunciar assim, num almoço, no presente clima de confronto com os militares, ou é uma escalada incrível da tensão ou é tudo combinado.

O governo federal já cortou 87% da verba destinada a pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para o ano de 2019.

Trump não cumpre sua promessa a Bolsonaro e não avaliza a entrada do Brasil na OCDE.

O MTST realizou protesto contra cortes no Minha Casa Minha Vida. O maior deles ocorreu na capital paulista, onde cerca de 3 mil pessoas ligadas aos movimentos da União Nacional Por Moradia Popular (UNMP) ocuparam a Avenida Paulista no início da manhã, junto a Central de Movimentos Populares.

Os petroleiros da FUPE anunciaram adesão à paralisação dos trabalhadores da educação no dia 15.

8 de maio

Fui a uma passeata dos cientistas e estudantes contra os corte na Educação. Achei ótimo e vislumbrei um início das jornadas de mobiliação social:

Diário: marcha com estudantes e cientistas

Temer volta à prisão.

Bolsonaro estendeu a posse de armas, alargando o elenco de profissionais que podem portá-las e também alargou as condições para tal. Políticos eleitos, servidores públicos que trabalham na área de segurança pública, advogados em atuação pública, oficiais de Justiça, profissionais de imprensa que atuam em coberturas policiais, caminhoneiros, agentes de trânsito, entre outras categorias. Crianças e adolescentes, poderão, sem qualquer restrição de idade, ter acesso a armas onde forem aprender a atirar. Basta a autorização de um dos pais ou responsáveis legais.

Constrangido, o ministro Moro declarou que o decreto “Não tem a ver com a segurança pública. Foi uma decisão tomada pelo presidente em atendimento ao resultado das eleições“.

A flexibilização do porte de armas favorece a atuação das milícias e multiplica as situações de risco que podem levar à morte ou mutilação.

Repercutem as nomeações de Damares para a Comissão dos Direitos Humanos: os indicados são notoriamente contra o propósito da comissão. Uma procuradora barrou a indicação.

Quase uma década depois de seu início, tivemos a primeira etapa da Lava Jato que envolve uma instituição financeira: o banco Paulista.

A guerra faccional entre militares e olavistas teve hoje mais um capítulo. O general Santos Cruz é acusado de “tráfico de influência” na APEX. Uma funcionária demitida da Diretoria de Negócios da Apex, Letícia Catelani, afirmou ter sido desligada por se recusar a avalizar “contratos espúrios” firmados por gestões anteriores que diz ter resistido a pressões para renovar. Acusou o general de corrupção

O governo promete a líderes partidários que atuarem pela reforma da Previdência terão R$ 20 milhões em emendas extraorçamentárias. Os deputados que votarem com o governo terão R$ 10 milhões por ano cada.

Moro perdeu a COAF e parece que vai receber a FUNAI, que ele não queria. Foi uma derrota política do governo para o Congresso, que há tempo reclama da falta de articualção com o Planalto. Temer na prisão também não ajuda a boa vontade dos deputados.

Ontem, líderes da bancada evangélica declararam ser contrários ao decreto que promove o libera-geral para o porte e posse de armas.

Três pessoas foram baleadas nesta quinta-feira, 9, num intenso tiroteio em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Na segunda-feira, 6 de maio, uma ação policial na Maré deixou pelo menos oito mortos. Na Maré, assim como na chacina recente do Fallet, a cena do crime foi desfeita, e os corpos arrastados.

9 de maio

Analistas apontam que a liberação do porte de armas vai afetar diretamente os protestos de rua, que tendem a ocupar cada vez mais as cidades brasileiras. Imagino também brigas de trânsito, de bar violência doméstica.

10 de maio

Reinaldo Azevedo chama os militares a renunciarem a seus postos na administração e abandonarem o governo.

BBC publicou que um em cada quatro deputados é sócio, diretor ou presidente de empresa com débito em aberto com a Receita Federal ou o INSS. São 134 parlamentares somam uma dívida de R$ 487,5 milhões.

Saiu hoje que Fabrício Benevenuto, pesquisador em redes sociais online, aponta a recente inundação no whatsapp nesses últimos dias “de memes e imagens contra as universidades federais“. Sugere que o WhatSapp continua como arma fundamental para o governo Jair Bolsonaro atacar a esquerda, como foi na eleição de 2018.

Saiu pesquisa do mercado financeiro: Bolsonaro cai, Mourão é bem avaliado… sinal para o contra-golpe?

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