Resenha Semanal

17 a 24 de maio 2019. Semana tensa onde o isolamento do presidente e seu tom beligerante sugerem ruptura séria. O ato de apoio a Bolsonaro no dia 26 jogou sua sombra sobre o noticiário e será decisivo.

A semana começou com o “Texto apavorante” postado por Bolsonaro. A princípio sem autor, era uma análise um tanto confusa mas fortemente janista em seu tom: as “corporações” (não o Itaú ou FIESP, mas sindicatos e instâncias públicas ou estatais) impedem o presidente de governar. O cheiro de autogolpe aumentou e há frenética análise de cenários.

O texto apareceu no contexto da incrível manifestação contra os cortes da educação em todo o país. Bolsonaro está ferido e acuado, e poderia tentar uma saída tipo autogolpe – especialmente agora que a Justiça do Rio abriu o sigilo bancário de quase 100 pessoas, incluindo seu filho Flávio. Agora é óbvio e público que é apenas uma questão de tempo até o caráter miliciano do clã feder na praça (mas deus sabe a que passo isso avançará). Com o texto, buscou atiçar apoio a si e bombar as manifestações de domingo dia 26.

Mas seus apoiadores da campanha de 2018 não o acompanharam no que poderia ser uma mobilização popular consagradora, cujo subtexto é o fechamento do STF e do Congresso. Em atos anteriores, já em 2019, o impeachment de Gilmar Mendes e Tofolli era muito pedido, e o de Maia. Cartazes e falas de oradores então pediram sim abertamente o fechamento do STF.

A Folha resumiu avaliação de uma reunião de senadores: Hamilton Mourão, não conquistou a confiança do Congresso; Bolsonaro não é do tipo que combina com renúncia; a crise é intermitente e seguirá aos soluços; os atos deste domingo, qualquer que seja o resultado, tendem a piorar o ambiente. A esquerda e o STF não aceitam o general Mourão no lugar de Jair Bolsonaro.

A semana continua tensa, todo mundo tentando auferir o apoio que ele vai conseguir mobilizar para si. O presidente dobrou a aposta e açulou o país… como será o domingo Consagrador ou humilhante.

Um ato de estudantes secundaristas na quinta-feira dia 23 em São Paulo não foi massivo, mas tensionou a disposição de repressão da polícia e testou a capacidade dos poderes de interpretar a energia das ruas. Ficou claro: a repressão também não sabe o que vai acontecer e um enorme PONTO DE INTERROGAÇÃO pende sobre o Brasil…

17 de maio

Bomba do post golpista das forças ocultas. Achei curiosíssimo que o autor seja do mercado financeiro, e candidato pelo Partido Novo. Como é um texto de desabafo, bem de facebook, não é rigoroso, mas chamou-me a atenção que reconhece que em certo nível existe uma associação capitalismo-estado: o texto poderia ser lido como uma espécie de manifesto do baixo clero financista.

Mas o clima geral deteriorou e tudo agora cheira a conspiração e incerteza.

18 de maio

múltiplos cenários possíveis adiante. O risco maior é mais presente, na hipótese de convulsão, é o de guerra civil entre extrema-direita (JB + Lava Jato) e direita (com militares). Vozes em Brasília informam que se discute isso abertamente. Para o campo popular, a interrogação maior é o que viria depois de Bolsonaro… Mourão e seus milicos já nomeados, o mesmíssimo programa de desmonte híperliberal – mas agora blindados pela imprensa amiga e o Congresso domesticado.

Li na Veja uma reportagem que foi claramente plantada: a divisão antiterrorismo da Polícia Federal estaria tentando descobrir a identidade dos integrantes de um grupo extremista que ameaça matar o presidente Jair Bolsonaro e dois ministros. O grupo seria uma sociedade “Sociedade Secreta Silvestre”, o movimento se diz “ecoterrorista” e “anticristão”.

Acabou que não teve repercussão, mas Bolsonaro precisa de seu incêndio do Reichstag, que foi um atentado que Hitler atribuiu aos comunistas e que serviu de pretexto para destruir a oposição.

A memesfera e as redes estão histéricas com mensagens alarmistas e acusatórias de bolsonaristas contra todos que criticam o presidente, principalmente liberais, conservadores e outros que não apoiam as manifestações de ares golpistas. Fala-se muito em depuração da direita. O MBL é muito atacado por ter criticado as manifestações de domingo dia 26. É notável que os bolsominons estejam se isolando ainda mais, produzindo pérolas como “liberal sempre abre porta para o socialismo”, “conservador não pode confiar em liberal”, “eles [MBL] querem se tornar partido político e não vão ser contra o STF”. Aprendi que o MBL ganhou um apelido na extrema-direita: Movimento Bumbum Guloso

Até Janaína Paschoal é crítica da manifestação – mas acata o projeto governista: “Vamos enfrentar os adversários (que são muitos) com argumentos! Há tempos, não temos um Ministério tão bom! Profissionais de ponta, nas pastas adequadas, orientados por boa teoria, bons valores, com experiência prática. E o Presidente gerando o caos? Pelo amor de Deus, parem as convocações!”

20 de maio

O isolamento de Bolsonaro prossegue: parece que há uma proposta alternativa da Previdência no Congresso: se fala em um parlamentarismo informal.

O general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva escreveu um artigo em defesa do presidente Jair Bolsonaro: ele estaria tentando “governar com o Legislativo e o Judiciário, mas a resposta de suas lideranças tem sido no sentido de enfraquecer, desmoralizar e mesmo desestabilizar o governo, na esperança de manterem seus privilégios e posições”.

A empresa de inteligência em comunicação digital AP/Exata, pesquisou quais são as palavras mais usadas por pessoas nas redes sociais, quando estas citações envolvem o nome “Bolsonaro”. O levantamento se baseou em 2,287 milhões de tuítes, em todos os Estados do País. O resultado revela que, em publicações com o termo Bolsonaro, palavras ligadas à religião sempre estiveram à frente de educação, saúde, emprego ou transporte. O único termo que, nas citações que envolvem Bolsonaro, chega a fazer frente a menções religiosas é segurança. Entre os mais citados também apareceu Satanás.

Muito zunzum acerca do dia 26. Começam boatos de atentados… chamada forte nos redes bolsonaristas. É o teste de fogo para as redes: os bolsonaristas são robôs ou são corpos de carne e osso? Existe um bolsonarismo puro-sangue ou isso depende de parceiros como Globo e PIG, os militares, os liberais, conservadores e evangélicos? De qualquer forma, o centro e centro-direita perderam ferramentas de influência sobre sociedade e as redes e robôs dominam… e temos um “Congresso de Youtubers”.

O presidente postou um video de pastor congolês que coloca Bolsonaro como escolhido de deus. Janaina diz que vai sair da bancada do PSL, mas negou que esteja rompendo com Bolsonaro.

Bolsonaro postou mensagem atacando o jornalista da Folha Celso Rocha, e o próprio jornal. O motivo da irritação é que Celso afirma em seu artigo que Bolsonaro não faz nada no governo e força crises “para que seus apoiadores culpem o Congresso, o STF, a imprensa, e, é claro, a esquerda“.

O presidente assinou o perdão de 70 milhões em multas aplicáveis aos partidos políticos que não aplicaram a verba destinada à promoção de candidaturas de mulheres nas últimas eleições. No sábado, ele negou que tivesse sancionado o texto e acusou a imprensa de mentir. “É mentira, eu vetei. Estão dizendo que eu sancionei. É o tempo todo assim, é só mentira. Grande parte da mídia só vive disso”, disse. É a primeira vez que um presidente autoriza anistia a multas aplicadas a partidos. Depois, saiu no Diário Oficial a confirmação.

O MBL postou um vídeo onde Kataguiri sente o golpe dos ataques bolsonaristas e faz sua defesa – atacando. Reclama que o MBL é vítima de fake news e de agressão digital. Foi inclusive chamado de “comunista”! Ruim né, meu Kim: o MBL postou muita notícia falsa, a ponto de ter páginas suas fechadas pelo Facebook duas vezes em 2018! Uma delas porque vocês postaram que Marielle tinha envolvimento com drogas. E você fez acampamento na frente da sede do Facebook, lembra?…. Com os recentes ataques, o canal do movimento no YouTube teria perdido mais de 100 mil seguidores.

Lia gora que Bolsonaro cogita ir ao ato em sua defesa no domingo…. incendiário!

O decreto do presidente Jair Bolsonaro que flexibiliza o porte e posse de armas no país, possibilitará que qualquer cidadão possa comprar um fuzil, graças a nova classificação estabelecida pelo governo. A Taurus entrega em 3 dias. Todas as medidas de flexibilização apontam para o fortalecimento do poder de fogo das milícias. Aumenta a temperatura.

Nem todo mundo abandona o presidente no domingo: Oscar Maroni, dono do bordel Bahamas, de São Paulo. Lembrei que ele fez uma grande festa quando o Lula foi preso, e fotos canhestras flagraram um momento da comemoração.

Declarou hoje: “Bolsonaro precisa de nós para mudar este país, chega destes políticos antigos podres e deste STF corporativo e irresponsável com a pátria.”

Também o Clube Militar soltou nota de apoio às manifestações do dia 26. O Clube Militar não é um bordel. Apoiam Bolsonaro: o “Nas Ruas”, que tem como maior liderança a deputada federal Carla Zambelli, e o Direita SP, que tem como líder o deputado estadual Douglas Garcia, ambos do PSL. O Avança Brasil, do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança, o “Príncipe” endogamista, do mesmo PSL de Bolsonaro, e Olavo de Carvalho.

21 de maio

Flávio Rocha (Riachuelo) e João Appolinário (Polishop), do movimento de direita Brasil 200, vão participar das manifestações convocadas para defesa de Bolsonaro.

Campanha de publicidade governamental a favor a reforma da Previdência custará R$37 milhões. Ratinho deve R$ 76,4 milhões em impostos à União, incluindo dívidas com a Previdência.

Janaína saiu do PSL: a notícia ardeu nas redes mas não foi confirmada.

Teve um ato com cerca de quatro mil policiais de diversas regiões do país estão em frente ao Congresso Nacional contra a Reforma da Previdência, num ato em que Jair Bolsonaro é chamado até de “traidor“. Achei curiosíssimo, já que as polícias são base forte do presidente.

Interessante ver que a direita não tem projeto, está perdida e sem análise operante de conjuntura. Parece que o único projeto em andamento é o da destruição e culto da morte.

Rodou um vídeo mais antigo da ministra da Mulher, da Família dos Direitos Humanos, Damares Alves, afirmando durante pregação evangélica feita em João Pessoa, que “está chegando no Nordeste um manual prático de bruxaria para crianças de seis anos”. Segundo ela, o suposto material ensina a como ser bruxa, como fazer roupa e comida de bruxa, além de ensinar as crianças a produzirem a vassoura de bruxa em sala de aula.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou seu rompimento com o líder do governo Bolsonaro, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO)…

A Globo recebeu Bolsonaro em reunião… qual terá sido a pauta? A Record e SBT estão chamando o ato do dia 30, e recebem a verba da propaganda da previdência… Será que nova posição da Globo vai ser precificada no encontro?

Partidos de todas as linhas políticas decidiram se unir para criar um movimento de oposição a Jair Bolsonaro: PSDB, PDT, PT, PSOL, PV, PCdoB e Cidadania. Tipo legal, vai aí, mas eu estamos na rua radicalizando a agenda e puxando vocês para a esquerda! E exijo autocrítica do PSDB!

O Instituto Millenium e Dória desapoiam as manifestações pró-Bolsonaro. Fiesp também está fora.

O reitor da Universidade Mackenzie vetou um debate sobre a reforma da Previdência que ocorreria na instituição com a participação de Guilherme Boulos, do MTST.

23 de maio

Ontem ocorreu o evento Adoção na Passarela, no Pantanal Shopping, de Cuiabá. Com o apoio do Poder Judiciário de Mato Grosso, da OAB local, Governo do Estado e do próprio shopping, 20 crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos desfilaram frente a uma plateia de classe média para interessar alguém na adoção. As crianças ganharam “roupas novas, um dia de beleza, incluindo penteados e maquiagem, tudo isso para se divertirem no desfile que pode resultar no encontro de uma família”.

Um remendo ao decreto das armas foi feito ao texto original, que é anticonstitucional. Mas tem saído que o decreto todo, e o remendo, é mal escrito e ainda apresenta problemas.

Na novela “A Direita encontra o Real”, Olavo de Carvalho, chamou o líder do MBL, Kim Kataguiri, de Kim Katapiroka. Como resposta, o autoproclamado filósofo leu que ele”precisa trocar as fraldas mentais”. A causa das agressões são as manifestações de domingo.

Mourão, o vice-presidente “racional” e “estadista”, que aliás está em viagem oficial na China, afirmou que “Quem defende o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional está na manifestação errada“. Parece que ele nunca faria isso, não é mesmo?

Já Lula, temendo a “Operação Mourão”, disse que o PT deve baixar o “Fora Bolsonaro” e focar nas mobilizações temáticas: Previdência, Educação etc. O “parlamentarismo informal” também é ruim, pois é apenas o Congresso devidamente remunerado tocando a destruição do Brasil.

Repercute o incrível desaparecimento dos mestrados. Em plena discussão sobre os cortes na educação, saiu que o governador Witzel, do Rio, mentiu sobre seu mestrado em Harvard, que consta em seu currículo Lattes.

24 de maio

Repercute a aprovação pelo STF da criminalização da homofobia e transfobia.

A COAF definitivamente não vai para Moro no ministério da Justiça.

“A manutenção da prisão assumiria certamente contornos de prejulgamento. Estaríamos antecipando a pena. Estaríamos ferindo de morte a presunção de inocência.” São palavras da decisão do Superior Tribunal Militar, que mandou soltar os soldados que dispararam 257 vezes e mataram os civis Evaldo Rosa e Luciano Macedo no Rio. Os soldados aguardam julgamento. Só uma juíza do Tribunal, civil, votou contra, lembrando que eles tinham mentido em sua primeira versão sobre os fatos.

Fórum privilegiado para militares: assim será um governo Mourão, blindado pelo PIG e pelos militares dentro e fora da administração federal.

Theresa May anuncia que renunciará em poucas semanas. O Brexit fez o estrago e as eleições européias, em andamento, devem devastar o Partido Conservador. O Partido Trabalhista sofrerá menos, mas sentirá o golpe. O demagogo criptofascista Nigel Farage e seu Partido do Brexit devem pontuar muito bem.

Jair Bolsonaro foi intimado a pagar, em até 15 dias, uma indenização de R$ 10 mil a Maria do Rosário por ter lhe falado “não merecia ser estuprada por ser muito feia”, em 2014.

Paulo Guedes declara que sai do país se a Previdência não passar.

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