Resenha Semanal

20 a 26 de abril 2019. Continua a enxurrada de atrocidades midiáticas – mais o desmonte calculado do Brasil. Lula consegue romper seu silêncio, mas não seu cativeiro.

20 de abril

Alexandre Frota brigou com PSL e o governo.

As avaliações do estado de saúde da base parlamentar do governo são de doença grave. Mas pode ser que não faça muita diferença para Bolsonaro: suas hostes digitais, comandadas pelo filho Carlos, e o gendarme chantagista Moro, com sua Lava Jato, mantém os parlamentares dentro da esfera da obediência temerosa.

No Reino Unido, um movimento muito interessante explodiu fora das instituições: a Rebelião da Extinção. Eles buscam dar urgência máxima às questões ambientais para provocar mudança em um cenário onde os grandes gestos institucionais já foram dados (Acordo de Paris etc.), mas que se revelaram insuficientes. As ações ocuparam vários lugares públicos, incluindo o bloqueio de vias urbanas importantes. Fizeram enorme auê e ainda estão nas ruas. Vai ser um verão quente por lá, a despeito da melancolia da bagunça do Brexit.

Lembrei dos Jalecos Amarelos, que podem ser vistos como portadores de um tipo de aspiração que não cabe na instituição, como disse T. Como nenhuma proposta governamental parece conseguir aplacar essa ânsia social, eles não vão embora nem vão desaparecer: vão ficar no território, mas fora do estado, uma multidão de corpos não-disponíveis à institucionalização.

21 de abril

O STF busca apoio, na forma de encontros e homenagens, tentando sair do isolamento provocado pela censura ao site. Me fez pensar que Toffoli deve ter alguma força de apoio muito poderosa para ter atacado tão frontalmente a Lava Jato. Talvez os generais que ele trouxe para dentro de seu gabinete no ano passado.

Avança a votação da Reforma da Previdência na CCJ, entre gritos e empurrões. O governo blindou os dados, pareceres e estudos técnicos que realizou para chegar às contas que apresenta como fundamento da reforma: economia, gastos e excessos, benefícios etc. A Folha tentou obtê-los e não conseguiu – a informação não está disponível para ninguém. Repercutiu bastante.

22 de abril

O STJ diminuiu a pena de Lula mas não tocou no mais importante: os problemas com as provas, o problema de Moro como juiz natural do processo. Agora será possível buscar o regime semi-aberto dentro de 5 meses.

Mas o julgamento do processo do sítio de Atibaia vai ser acelerado, o que arruinaria as chances de regime domiciliar ou mesmo da soltura após a decisão do STF sobre a segunda instância.

A imprensa de esquerda faz contas e avalia cenários. Mas há quem seja muito pessimista e explicita o pior cenário: Lula nunca vai sair da cadeia, ele é preso político e não vai ter solução jurídica para seu cativeiro ilegal, apesar dos defeitos do processo que já se acumulam em clareza didática. Reinaldo Azevedo os aponta, o Ministro Marco Aurélio duvida da culpa de Lula. Mas não parece bastar, e o povo não se mobiliza na rua.

Só a direita fica agitando o espantalho da soltura como fator de união. Li que “até não-petistas sonham com Lula Livre” para contrapor Bolsonaro.

23 de abril

O primo e amigo de Carlos Bolsonaro, o Léo Índio, foi contratado pelo senador Chico Rodrigues (DEM-RR), vice-líder do governo, com um salário de R$ 22,9 mil mensais, graças ao “feeling” e “desenvoltura” do garoto.

As intrigas palacianas continuam em enxurrada. Carluxo Bolsonaro fez uma série de ataques ao vice-presidente Mourão, inclusive através de vídeo com Olavo de Carvalho.

Teve muito vai-e-vem, muita declaração e contra-declaração, mas dessa vez deu preguiça. Quando me vi querendo ler mais sobre como o filho excluiu o pai das postagens da conta da presidência, escondendo a senha, achei que tinha chegado a um limite. Vou deixar passar e ver depois o que sobrou.

O projeto autoritário de Bolsonaro avança todos os dias vertiginosamente. A aparente crise e paralisia do governo, encenada nas trapalhadas e brigas domésticas, não impede o desmonte das políticas públicas republicanas.

Li hoje no El País sobre gente de esquerda que se dedica a penetrar grupos de whatsapp bolsonaristas e trabalhar para seu fechamento como forma efetiva de combater a proliferação de fake news a favor do presidente.

Fingindo ser eleitores de extrema direita, eles lançam mão de argumentos ainda mais radicais que os que habitualmente circulam nos grupos.

Saíram os números da economia e são ruins: nem o golpe nem Bolsonaro recuperaram a atividade econômica. A reforma da CLT não criou empregos. As pesquisas ainda apontam que o PT é considerado o responsável pela crise.

24 de abril

Os indígenas de todo o Brasil convergiram sobre Brasília para o Acampamento Terra Livre, que começou hoje. O encontro reúne milhares de indígenas de todo o país na capital federal. Desde 2004 eles ocupam Brasília em abril.

Bolsonaro falou contra o encontro, mentiu sobre o uso de “recursos públicos” supostamente usados na organização (não usam) e destacou a Força Nacional para vigiá-los.

A Reforma da Previdência finalmente passou na CCJ, mas com muitas alterações. A Folha afirma que a aprovação só foi possível porque o governo liberou as emendas parlamentares em 40 milhões por deputado (a ser pagos ao longo de 4 anos). A conta total seria de bilhões, incluídos os senadores.

As previsões são de transformações ainda maiores no texto da proposta nas etapas subsequentes. O dólar disparou e a Bolsa caiu, talvez por causa disso e da pesquisa que avalia Bolsonaro mal (aumentou sua rejeição, mas sua base – homens brancos do Sul, ganhando mais de 8 salários mínimos, evangélicos) ainda é fiel.

25 de abril

A CPI das Universidades foi instalada na ALESP: a comissão vai investigar o “aparelhamento” das esquerdas e questões do financiamento e autonomia universitárias. Deus sabe o que vai sair disso.

O Ministério Público hoje exigiu que Guedes quebre o sigilo dos dados e estudos de base da Reforma.

O senador Major Olímpio (PSL-SP) nomeou como assessor parlamentar Carlos Alberto Ires de Jesus, um ex-soldado condenado, em 2002, por tortura. O ex-militar cumpriu pena e foi  expulso da corporação.

A Polícia Federal do Paraná organizou a entrevista de Lula à Folha e ao EL País. Mas o fez como um encontro coletivo, onde também participaria, sem fazer perguntas, o site de extrema-direita O Antagonista. A PF enviou e-mail convidando para um “pré-cadastro” apenas jornalistas pré-selecionados. Repórteres de agências de notícias, como Reuters; e jornais como Le Monde, e diversos outros, não foram convidados.

Esta é uma gritante humilhação ao ex-presidente, e fere preceitos constitucionais. Ele fala com quem quiser.

O ministro Lewandowski agora recuperou a situação e desautorizou a PF. A entrevista vai ser só com os veículos selecionados por ele.

26 de abril

O presidente censurou e tirou do ar uma campanha do Banco do Brasil direcionando a jovens. O filme buscava valorizar a diversidade da juventude, em seus vários tipos e gêneros. O diretor do filme foi demitido. Novaes, o diretor do Banco indicado por Bolsonaro, acatou a ordem. Ele já tinha promovido o filho do vice general Mourão.

Delações premiadas agora apontam esquemas de propina do PSDB, da ordem de R$ 97,2 milhões ao longo de 8 anos. O senador José Serra teria sido beneficiado com R$ 39,1 milhões para caixa 2 de diferentes campanhas suas.

Pesquisa mostra que apoio aos militares declinou muito desde a posse…

Bolsonaro diz que vai acabar com os cursos de Humanas, como filosofia e sociologia, focando recursos em “áreas de retorno imediato”, tais como medicina e engenharia.

Carlos Bolsonaro tem como contratada uma senhora de 70 anos que afirma nunca ter trabalhado para ele. Isto é, trata-se de uma laranja.

Saiu agora de tarde a primeira parte da entrevista de Lula, no El País. Vi parte do vídeo: ele não está destruído, está cheio de ira…

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