Resenha Semanal
14 a 21 de fevereiro 2020. Mais uma semana alucinante onde um motim de PMs dispara contra senador da república – e obtém apoio tácito ou aberto de autoridades. A esquerda segue no seu labirinto…
Publicado 21/02/2020 às 14:05 - Atualizado 21/02/2020 às 17:02
Minhas dúvidas continuam: devo acompanhar as manobras políticas do país ou desencanar e ir ser feliz na construção de outra coisa? Em termos mais teóricos, há ou não uma escalada em direção ao endurecimento e golpe? A imprensa não ajuda, fica jogando lenha na fogueira do dia. Amigos mais sensatos me dizem “mas para quê precisa de golpe? Está tudo funcionando para eles”. É verdade, mas a temperatura política aumentou muito esta semana e indicou que pode sim ter um rearranjo de calores explosivo no país a qualquer momento.
Continuam as aventuras de Movimentx e Partido...
Na quinta-feira, parecia que a tempestade perfeita estava formada: Lula foi intimado pela lei de segurança nacional por ter declarado que Bolsonaro governa para milicianos, PMs amotinados atiraram duas vezes contra o senador Cid Gomes, Olavo de Carvalho pedindo golpe nas redes, e o gal. Heleno perdendo a paciência com o Congresso e sugerindo confronto. Além disso, os petroleiros em greve receberam o apoio de caminhoneiros que foram fechar o porto de Santos – e o Italiano, líder da categoria estradeira, foi detido. O ministro do TST Ives Gandra Filho ordenou a demissão sumária de todos os grevistas da Petrobrás.
Tudo isso logo depois do caso Adriano, que ainda está envolto em nuvem de mistério e leva as milícias para muito perto do clã.
Mas o Ceará marcou para sempre o que devem anotar os historiadores do futuro:
FORAM ELES QUE DERAM OS PRIMEIROS TIROS!
Os eventos de Sobral permitiram muita confusão e debate, já que o manejo do trator por Cid Gomes foi desmedido e tem a questão da greve de policiais ser legítima ou não. Mas o que arrepiou foi ver PM encapuzado dando tiro a partir das barricadas. Além disso, os amotinados saíram pelo centro da cidade fechando o comércio.
Sou do time que viu o ato do senador como o poder civil peitando milicianos bolsonaristas.
A bolsonarização das PMs é um processo que vem de longe. O clã se dedica a apoiar greves como essa faz muitos anos. Motins assim são comuns, e o normal é que todos os amotinados sejamao fim anistiados pelos legislativos estaduais depois de punidos pelos executivos. Muitos policiais entraram na política a partir de tais movimentos, muitas vezes incorporando suas patentes aos nomes. O Cabo Daciolo é um infame exemplo, mas também o atual candidato à prefeitura de Fortaleza Capitão Wagner. Este atacou Cid Gomes e pediu um BO por tentativa de homicídio contra o senador, declarando guerra ao governador do estado e à esquerda, prometendo sublevar a tropa.
Agora ficou um climão pesadíssimo: a greve continua no Ceará, as PMs de todo o país acenderam. E o governador de Minas deu 41,7% de aumento à sua polícia, mesmo com as Gerais em estado de penúria, aumentando a pressão sobre as administrações estaduais.
Nem o presidente nem o ministro Moro denunciaram o atentado. A imprensa não deu tanta bola assim, nem parece ver o perigo que corremos. A hipocrisia é brutal.
Recordo-me da grita geral que tem quando Black Block quebra vidraça de banco: a ordem republicana ameaçada, repúdios virtuosos à violência política, acusações de terrorismo… Rafael Braga e outros foram encarcerados por muito menos (a posse de Pinho Sol), e a lei antiterrorismo foi aplicada com muito vigor.
Alvejar um senador da república durante uma greve ilegal não é terrorismo? E depois, as PMs cansaram de lançar trator em cima de ocupações e favelas, derrubando lares, batendo e agredindo moradores e manifestantes…
De qualquer forma, o episódio mostrou o que todos sabem mas ninguém fala: O PODER CIVIL NÃO TEM CONTROLE SOBRE AS POLÍCIAS.
A imprensa conservadora começou a dar sinais de insatisfação com o presidente e começou um zumzum de impeachment. Muito hipocritamente estão fazendo auê com o caso da jornalista da Folha, Patrícia Campos Mello, que foi insultada por Bozo e atacada pelo Gabinete do Ódio nas redes.
A reclamação principal agora é a “falta de decoro”, que de repente foi descoberto pela imprensa. Vera Magalhães, Miriam Leitão e outros descobriram agora que o presidente é autoritário e misógino. Mas quando o alvo era só a esquerda, tudo estava bem.
Os ataques a Glenn Greenwald foram talvez mais sérios, mas a imprensona aceitou a intimidação do governo e não reclamou (EU AVISEI!!).
Maria do Rosário foi vítima da violência verbal do presidente, mas mesmo assim os jornalões demonizaram Haddad e fizeram o falso espelhamento Bozo-Haddad. A Folha de São Paulo, inclusive, orientou seus repórteres a não se referir a Bozo como “extrema-direita”, durante a campanha.
Muita gente agora se arrependendo ou negando ter apoiado Bolsonaro. Lobão, dentre outros, busca justificar suas escolhas passadas.
Janaína Paschoal declarou agora que nunca foi bolsonarista, apenas apoiou o capitão condicionalmente.
Até a Miss Bumbum 2016, Érika Canela, se arrependeu de ter chegado ao ponto de fazer uma tatuagem com o presidente com seu gesto “da arminha”. É só o começo. Vai ter muita gente dizendo “eu só bati panela”, “eu só repassei o que me passaram”, “eu só fui nas manifestações”…
A imprensa também fica dando a fritura de Guedes, pois a recuperação da economia não acontece. Resumindo, nada do prometido destravou o Brasil: o congelamento dos gastos governamentais por 20 anos, a reforma trabalhista, a reforma da previdência…
O cineasta Zé do Caixão morreu nesta semana.
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