Para compreender o suicídio

À luz da psicanálise, curso da Cult propõe ampliar debate sobre o suicídio, sobretudo entre jovens, além de apresentar possibilidades de prevenção e redução de taxas.

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O número de autoagressão e tentativas de suicídio entre jovens, e até mesmo entre crianças, vem aumentando nos últimos anos. Infelizmente, essa afirmação tem aparecido com cada vez mais frequência nos veículos de mídia. 

No Brasil, as taxas de suicídio são mais altas entre jovens negros de 12 a 28 anos. No mundo, o suicídio é a quarta causa de morte mais recorrente entre pessoas de 15 a 29 anos, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde).

As causas são multifatoriais. Os diversos tipos de luto, os conflitos familiares, as opressões e desigualdades socioeconômicas, além das angústias e sentimentos à flor da pele comum entre jovens, são o intricado de fatores que vêm intensificando as aflições mentais desse grupo.

É com o intuito de ampliar o debate acerca do tema entre o público em geral, e não apenas entre os especialistas, além de apresentar “possibilidades de prevenção e redução das taxas de suicídio que tiveram uma preocupante elevação nos últimos anos, sobretudo entre os jovens”, que o Espaço Cult irá promover o curso A morte de si: psicanálise e suicídio, com Marcelo Veras.


“Para Freud, a morte não tem representação no inconsciente.”


A ideia é “examinar a sensível questão do suicídio a partir da teoria e da clínica psicanalítica.” Na psicanálise não há elaboração “pŕevia” acerca da morte. O que se pode fazer a partir dessa prática “é buscar compreender as tramas do morrer.”

É tendo isso em vista que na psicanálise se é exigido olhar singular para cada caso, sempre buscando vários ângulos diferentes. “O suicida se mata ou mata a imagem de si? No trabalho, nas universidades, na comédia amorosa, nos dramas familiares, no tribunal permanente da opinião pública, é sempre nossa imagem, ou ego, que marca presença. É ela que sai de cena.” coloca Marcelo Veras na ementa do curso.

Ao pensar ou cogitar a morte de si, há um pensamento que surge, quase como uma alfinetada: “como isso vai afetar os que me rodeiam? Meus pais, minhas amizades e meus amores?”


“Quando desejamos nossa morte, continuamos a pensar nossa ausência como uma presença para além da morte.”


Veras afirma na ementa que “Isso ocorre por sermos seres de linguagem, nossa existência vai além do corpo biológico – que nos precede e sem o qual não haveria vida.”


“É na vertigem entre ser e ter um corpo que vamos tecer a delicada clínica do suicídio. Escritas ou não, todo suicida tem sua carta. A psicanálise é um esforço de leitura destas cartas.”


Sobre Marcelo Veras

Psicanalista, psiquiatra e professor da Especialização em Teoria Psicanalítica da UFBA, da Especialização em Psicanálise e Saúde Mental da PUC Paraná e da Especialização em Psicanálise de Orientação Lacaniana da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal da Bahia (1983), mestrado em Psicanálise – Universite de Paris VIII (1991) e doutorado em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da UFRJ (2009). Atualmente é coordenador do PsiU, Programa de Saúde Mental e Bem Estar da Universidade Federal da Bahia. É também autor dos livros: A loucura entre nós, Selfie, logo existo e Ruídos e silêncios da vida confinada.

A morte de si: psicanálise e suicídio

Ministrado por: Marcelo Veras

Vagas: 20

Carga Horária: 08h

Dias do curso: 28, 30/08, 04 e 06/09/2023 – 19h30 às 21h30


EMENTA

Aula 1: O mundo: como pensar o suicídio nos dias de hoje?

Na psicanálise temos espaço para discutir o mal-estar na civilização, e claro que que o aumento inquietante das taxas de suicídio, sobretudo entre os jovens, é um dos reflexos desse mal-estar. Nessa aula faremos uma introdução sobre a questão do suicídio através dos tempos até chegarmos aos dias de hoje.

Aula 2: O corpo: quem matamos quando matamos a nós mesmos?

O suicídio é um modo de sair da cena. Nesta aula vamos mostrar a construção destas cenas e porque alguns não suportam permanecer nelas. Contudo, a psicanálise nos ensina que quem mata e quem morre no suicídio não são necessariamente a mesma pessoa. Muitas vezes se busca matar algo que é ao mesmo tempo o mais estranho e o mais íntimo do sujeito.

Aula 3: O tempo: cartas de a(morte)

A partir da análise de algumas situações clínicas vamos buscar identificar o que é um suicídio como ato singular e o que é um suicídio pensado coletivamente. Qual o impacto do suicídio de alguém famoso em seus fãs? O que é um suicídio altruísta? Vamos falar do tempo da elaboração de um suicídio e seus curtos-circuitos. Às vezes a construção de um suicídio atravessa anos na vida de um sujeito.

Aula 4: O diálogo: como construir as pontes que podem reconciliar o sujeito com a vida

É preciso muito cuidado ao pensar a questão do suicídio, pois trabalhar com este tema é um exercício de modéstia, sem espetacularização, sem pretensões de um resultado permanente. Jamais reduziremos as taxas de suicídio a zero, mas o psicanalista experiente está acostumado a ouvir de um paciente que tal sessão ou interpretação foram cruciais para reconecta-lo com a vontade de viver.

BIBLIOGRAFIA

Vamos falar sobre suicídio?

Autor: Gilson Iannini (org.) – Editora Cult produções artística LTDA

História do suicídio – A sociedade ocidental diante da morte voluntária

Autor: George Minois – Editora UNESP

O suicídio no ocidente e no oriente

Autor: Marzio Barbagli – Editora Vozes

Por 13 razões (13 reasons why) – Série da Netflix

ASPECTOS TÉCNICOS

As aulas serão transmitidas pelo Google Meet. As instruções para o acesso serão enviadas por e-mail dois dias antes do início do curso. Se você se inscrever nos últimos momentos, receberá estas instruções no dia da primeira aula.

As aulas serão transmitidas ao vivo, mas também serão gravadas e podem ser assistidas posteriormente. Os links dos vídeos ficam ativos por 30 dias corridos a partir do fim do curso. Será oferecido certificado apenas para quem tiver 75% de presença nas aulas ao vivo.

Para mais informações: [email protected]


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