As Utopias Piratas na emergência do capitalismo

Publicado pela Autonomia Literária e Veneta, livro de Peter Lamborn Wilson resgata curiosa história dos mouros renegados que se aventuraram nos mares e criaram “zonas autônomas temporárias” a partir do século XVI. Sorteamos 1 exemplar

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Sereias, navios, corsários, bebedeiras e músicas intermináveis; motins, insurreições, revoltas e batalhas podem nos lembrar os alucinantes e empolgantes filmes de piratas que construíram nosso imaginário acerca dessas figuras tão conhecidas na cultura pop.

No entanto, quais eram as histórias reais desses personagens? Será que piratas eram apenas mercenários com sede de sangue e pilhagem? Ou talvez seres exóticos e incultos que beiravam o irracionalismo? 

É a história renegada desses que viviam à margem que Peter Lamborn Wilson busca resgatar em sua obra Utopias Piratas: a revolta de mouros, hereges e renegados na emergência do capitalismo.

Lançado pela primeira vez em 1995, o livro agora ganha uma segunda edição em português, lançada no ano passado, através de uma parceria de peso entre as editoras Autonomia Literária e Veneta. O volume faz parte da Edição especial FLIPEI 2022 e toda venda será convertida em receita para ajudar a custear o próximo evento.

Outras Palavras e Autonomia Literária sortearão 1 exemplar de Utopias Piratas: a revolta de mouros, hereges e renegados na emergência do capitalismo, de Peter Lamborn Wilson, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 28/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!


“A história tem tido a tendência de ver a história dos Renegados como sem sentido, como apenas um  percalço no progresso suave e inevitável da cultura europeia na direção da dominação do mundo. Os piratas eram incultos, pobres e marginalizados – e portanto (presume-se) não poderiam ter tido ideias ou intenções de verdade. São vistos como partículas insignificantes varridas da corrente principal da história por um redemoinho caprichoso ou um turbilhão de irracionalidade exótica. Nem um dos textos que eu li sobre o assunto sequer menciona a possibilidade de intencionalidade e resistência […] Mas a experiência deles não foi sem sentido, nem merece ser enterrada no esquecimento.”


Assim escreve Peter em sua obra, convocando-nos a nos debruçarmos com um novo olhar sobre a história dos Renegados. Quem são eles? Mouros e intelectuais europeus hereges que do século XVI ao XIX teriam se revoltado e resistido à imposição “de um cristianismo presunçoso baseado na escravidão, na repressão e no privilégio da elite”, doutrina essa que já preparava o terreno para lançar as bases do que viria a ser a cultura e a ideologia opressora do sistema capitalista.

Território onde se viria a implantar a República de Salé, conforme levantamento de 1572 publicado no atlas Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun. No lado esquerdo da gravura e que corresponde à margem norte do rio, encontra-se a cidade de Salé. Na margem sul vê-se em primeiro plano a Casbá, cercada pelas muralhas de Rebate, também chamada Nova Salé, mandadas edificar no século XII por Iacube Almançor. Fonte: Wikimedia communs

Às margens do rio Bou Regreg, no Marrocos, os piratas teriam constituído todo um constructo como a(s) República(s) Corsária(s) Moura(s) do Bou Regreg, que seria uma estrutura planejada para uma sociedade corsária, além de um ponto de encontro e porto seguro de piratas – uma “utopia pirata”.

A República de Salé ou República do Bou Regreg, era uma cidade-estado marítima independente construída por Renegados expulsos da Espanha a 9 de abril de 1609 pelo Rei Filipe III. Esses Renegados nada mais eram do que espanhóis mulçumanos convertidos à força ao cristianismo pela política pragmática dos Reis Católicos espanhóis Dona Isabel de Castela e Dom Fernando II de Aragão. A medida dominou a região a partir de 1502 e foi responsável por arrancar dessas pessoas o uso da língua arábe em troca do castelhano, além de jogarem a prática de seus ritos e o conhecimento de seus dogmas na ilegalidade.

Expulsão dos mouriscos no porto de Denia. Por Vicente Mestre o Vicent Mestre. Fonte: Wikimedia communs
A Expulsão dos Mouriscos, de Vicente Carducho (Museu do Prado, Madrid)

Também chamados de mouriscos, esses Renegados fugiram dessa opressão e estabeleceram na margem sul do rio uma comunidade do que hoje chamamos de piratas. Os Piratas de Salé prosperaram de ataques a navios e logo ficaram conhecidos ao redor do mundo. A história autobiográfica (fictícia) de Daniel Defoe, As Aventuras de Robinson Crusoé, incorpora todo o imaginário que cercava as histórias de pirata à época e que rodou o mundo.

As bandeiras de Salé, incluindo o “Homem na Lua”, símbolo que causou assombro em muitos homens… Fonte: Wikimedia communs

Assim como em As Aventuras de Robinson Crusoé, no livro de Peter temos “que usar a imaginação mais do que um historiador “de verdade” aprovaria”, afinal, imaginação é indissociável do estudo da pirataria. Ainda assim, ele nos serve uma investigação inovadora, interessante e instigante da cultura dos Renegados, seus modos e sua ética pirata. Através de uma obra que passeia pelo real e o imaginário, pela escrita teórica e pelo romance, Peter nos conta “uma história ainda mais inusitada do que as fábulas que ela inspirou”.

Peter Lamborn Wilson foi um historiador especialista na história das heresias e da pirataria, conhecido pelo pseudônimo de Hakim Bey, ele também foi escritor e poeta, pesquisador do Sufismo e da organização social dos Piratas do século XVII. Além disso, o pesquisador é conhecido como um dos teóricos anarquistas que mais influenciou o movimento nas últimas décadas do século XX e início do século XXI. Sua obra T.A.Z: Zona Autônoma Temporária, escrita em 1985 e registrada em copyleft, descreve a criação e propagação de espaços autônomos temporários. Essas “T.A.Z”, seriam táticas sócio-políticas que criam espaços temporários que escapam às estruturas formais de controle, como uma forma de resistência e esvaziamento de poder do establishment. Como uma organização para o desenvolvimento de atividades comuns, sem o controle de hierarquias opressivas.

Por isso, os piratas são a fonte de pesquisa e inspiração de Peter e sua “utopia” de resistência. É bom ressaltar que o autor pondera sobre a eficácia dessas sociedades desenvolvidas pelos piratas e reconhece o seu fenecimento; no entanto, reafirma a importância do exemplo histórico dos Renegados para inspirar aqueles e aquelas que desejam adentrar os “pesadelos da civilização”. Além disso, a obra ajuda a construir uma historiografia a contrapelo, que permita visualizar os silenciamentos e as desfigurações históricas empreendidas por uma tradição historiográfica pautada pelo olhar das classes dominantes.


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