No Cyberquilombo cultura negra e ativismo ao alcance da mão
Publicado 31/03/2016 às 11:13
Em videoaulas inovadoras, coletivo alimenta professores dispostos a difundir, entre seus alunos, história e filosofia dos afrodescendentes — além de sua literatura, música e dança contemporâneas
Por Inês Castilho
O que a música, a dança, a literatura, a filosofia negras têm a ver com nossa vida cotidiana, hoje? Como se articulam cultura afro, gênero e direitos humanos? O Cyberquilombo, realização do coletivo lab.Experimental, tem algumas contribuições a oferecer.
Projeto online de formação livre que remixa africanidades e cultura digital, o Cyberquilombo produz e publica videoaulas – de livre acesso pelo Youtube (acesse o canal) – com figuras de destaque da filosofia, da música, da dança e da literatura negra, promovendo a reflexão sobre a importância da sua participação em nossa sociedade.
São conteúdos preciosos para estimular a aplicação da lei 10.639/03, de 2003, que torna obrigatória a história da cultura afro-brasileira no ensino fundamental e médio – e não está sendo cumprida. Uma das razões seria a falta de material didático que permita aos professores falar do assunto sem reproduzir os preconceitos existentes nos livros que narram a história do negro pelo olhar branco eurocentrista.
“As bancadas do boi, da bala e da bíblia impediram o uso e a formulação de materiais didáticos e paradidáticos que amparassem essa lei, com interesses bem nítidos”, ensina Allan da Rosa, do movimento de literatura periférica de São Paulo, na videoaula “Oralidade e literatura negra contemporânea”.
Entre as produções já publicadas estão ainda “Danças africanas e suas diásporas no Brasil”, com a bailarina e antropóloga Luciane Ramos Silva, que fala da “dança como produção de conhecimento”; e “Música negra e movimento black power“, com o DJ Eugênio Lima, que vê a música como “resistência e existência, memória da barbárie e construção cultural” ao mesmo tempo.
Djamila Ribeiro, feminista e mestre em filosofia política, conta em “Mulheres na Política” que “a história da filosofia é masculina e branca, embora tenham existido mulheres filósofas, invisibilizadas e esquecidas.” A historiadora Bergman de Paula gravou aula sobre “Feminismo e Mulher Negra”.
Sobre ativismo urbano está disponível a videoaula “Ocupação do Espaço público”, com Laura Sobral, arquiteta e integrante do coletivo A Batata Precisa de Você – que fala sobre como é possível transformar “um espaço de passagem, sem qualidade de estar, em um espaço de permanência, que dá sentido de pertencimento com o lugar e gera cuidado, estabelecendo outra relação com a cidade”. Também já estão online as aulas “Espaço Público e Memórias”, com Alexandre Araújo Bispo; “A Imagem do Negro nas Artes no Brasil”, com Claudinei Roberto; e “A Não Violência como ação política”, com Mikael Freitas.
A meta do Cyberquilombo para 2016 é construir uma galeria com 40 videoaulas que promovam positivamente o debate sobre direitos humanos, gênero, africanidades, relações étnico raciais e liberdade de expressão. Esses conteúdos dão início a uma biblioteca online livremente disponibilizada para professores, alunos e público em geral. Paralelamente, o coletivo lab.Experimental forma oficineiros para ampliar a sua divulgação.
Todas as videoaulas já realizadas estão disponíveis aqui. É possível acompanhar os novos lançamentos inscrevendo-se diretamente no canal.
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Maravilha! Cheguei a pensar em algo parecido, pois uma das saídas para uma educação de qualidade está na utilização do imenso potencial que as mídias digitais possibilitam. Show Axé!
Que iniciativa!
Muito obrigada!
Me poupa muito tempo de pesquisa para as aulas e me ajuda a ter a voz de uma multidão para expurgar os “demonios do desrespeito e do preconceito” das mentes dos meus jovens alunos