Duas brechas na estratégia de Dilma

A presidente, ontem, com o MTST: pouco mais que conversa

A presidente, ontem, com o MTST: pouco mais que conversa

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Presidente oferece pouco aos movimentos e demonstra fraqueza diante dos conservadores. É um caminho perigoso

Por Antonio Martins

Na segunda-feira, quando apresentou sua primeira resposta concreta às manifestações que sacodem o país, a presidente Dilma supreendeu tanto os que estão nas ruas quanto o mundo da política institucional.  Saudou os manifestantes, anunciou encontros com eles e propôs “pactos” em favor de algumas de suas demandas. Ao mesmo tempo, pressionou os partidos conservadores, anunciando disposição de impulsionar uma ampla reforma das instituições, por meio de um plebiscito e uma mini-Constituinte. Dois dias depois, estão surgindo brechas perigosas nesta estratégia.

As reuniões que Dilma iniciou os movimentos sociais abrem um diálogo essencial, mas a presidente não tem sido capaz de responder às demandas que recebe. Ao Passe Livre (MPL), ela disse, na segunda-feira, ser impossível adotar a Tarifa Zero — o que era esperado. Mas também não aceitou a sugestão do movimento, bem mais factível, de iniciar uma redução dos preços das passagens, destinando aos municípios um imposto sobre combustíveis. O MPL considerou-se frustrado.

Ontem, foi a vez do MTST (sem-teto) e do Periferia Ativa. Novos nãos. Dilma ouviu cinco propostas: uma pauta concreta e viável, que vai do combate à especulação imobiliária (via política de desapropriação de imóveis ociosos) a mudanças no Minha Casa Minha Vida e à criação do “aluguel social”. Acatou apenas uma, que pode ser retórica: criar, no ministério das Cidades, uma secretaria destinada a evitar despejos forçados. O MTST/Periferia Ativa celebrou o encontro, mas o considerou muito insuficiente. “A Presidenta precisaria – se quer de fato apresentar soluções expressivas em política urbana – comprometer-se com medidas imediatas e profundas”, diz a nota que emitiu. O movimento promete acelerar mobilizações.

As pressões conservadoras: Os maiores problemas de Dilma, no entanto, não são quem reivindica — mas quem prefere nada mudar. Embora pegos de surpresa pela proposta da reforma politica, os partidos conservadores e a mídia recompuseram-se logo. Uma legião de juristas foi convocada para dizer que a Constituinte é… inconstitucional! Segundo o noticiário, o vice-presidente Michel Temer e os presidentes da Câmara e do Senado (ambos do PMDB) também contestaram a proposta. Muito desgastado o mundo da velha política é, também, muito arrogante: não quer nem pensar na ideia de uma Assembleia exclusiva, que favoreceria a eleição de gente não comprometida com os esquemas partidários e empresariais…

O problema é que o governo recuou muito rápido. O ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardoso — um campeão em trapalhadas e concessões ao campo conservador — anunciou, já à tarde, que o Planalto poderia recuar da proposta da Constituinte. A informação foi confirmada à noite por Aloísio Mercadante, da Educação. Da Constituinte, a presidente desistiu, infelizmente. Mantém, por enquanto, a ideia do plebiscito. Nas próximas horas, haverá seguramente tentativas de esvaziá-lo.

O recuo está instigando os conservadores a novas pressões sobre a presidente. O repórter Fernando Rodrigues relata hoje na Folha (em tom de comemoração…), que armou-se em Brasília um “clima de tocaia”. Diz ele: “As propostas feitas pela presidente foram todas recebidas com desdém e pilhéria nos bastidores do Congresso. (…) Nas declarações públicas e formais, os políticos fazem sorriso de paisagem e falam em colaborar com o Planalto. Quando se apagam os holofotes, tudo muda.”

Visivelmente satisfeita com o impacto inicial de suas iniciativas, a presidente corre o risco de esquecer que as duas últimas semanas mostram um país dividido. Não será possível agradar ao mesmo tempo quem exige direitos e mudanças reais e quem conspira por retrocessos. É preciso escolher um lado.

 

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2 comentários para "Duas brechas na estratégia de Dilma"

  1. Edson Souza disse:

    E eu que pensava que foi gente como este grupinho acima citado que criou o atual arcabouço politico sob o qual vivemos. Afinal a atual estrutura policita que tanto facilita corrupção, robalheira e enriquecimento ilicito de politicos e camarilhas não foi criada por gente como o grupinho acima? Seja de esquerda , direita , centro ou diagonais ladrão é ladrão, safado é safado. O que este pessoal citado faria diferente do que fez? Eles criaram toda a atual situação das instituições brasileiras, que não é uma situação nem boa e nem ética. O que eles fariam de direferente? Consertariam os sistemas viciados que eles mesmos criaram para o bem deles mesmos? Dificil de acreditar.

  2. Arnaldo Vianna de Azevedo Marques disse:

    Gostem ou não gostem. O que está faltando na incipiente democracia brasileira: Ulysses Guimarães, Afonso Arinos de Melo Franco, Tancredo Neves, Luis Carlos Prestes, Santiago Dantas, João Goulart, Carvalho Pinto, Juscelino Kubitschek, Franco Montoro, João Mangabeira, Otávio Mangabeira, Miguel Arraes, Pedro Simon, Carlos Lacerda, Hermes Lima, Milton Campos, Florestan Fernandes, Anísio Teixeira……………..

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