Ana Cristina Braga Martes e o que não pode calar

Em romance recém-lançado pela Editora 34, autora conta a jornada de descobertas de uma menina que nunca conheceu os pais. A trama acompanha sua rotina em uma vila operária, em tempos de ditadura. Sorteamos um exemplar

Odilon Redon, Butterflies [1910]. Fonte: Collection of the Museum of Modern Art

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Em uma pequena e típica vila operária brasileira de casas geminadas, entre descendentes de libaneses, turcos e italianos, durante os funestos anos da ditadura militar, a jovem protagonista do romance Sobre o que não falamos, de Ana Cristina Braga Martes, vai descobrindo a sua história, as palavras, o mundo a sua volta e, consequentemente, a si mesma.

A obra da socióloga de formação e ex-professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), recém lançada pela Editora 34, mergulha no microcosmo de uma menina que está entre a infância e a adolescência e que nunca conheceu os pais. Tudo o que restou deles foram algumas poucas fotos e os segredos sussurrados pela vizinhança.

Outras Palavras e Editora 34 sortearão um exemplar de Sobre o que não falamos, de Ana Cristina Braga Martes, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 15/4, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Criada pelos avós e pelo angustiante silêncio da rotina e dos mistérios que envolvem as pessoas que a trouxeram ao mundo, a jovem, um tanto tímida e insegura, mas também inquieta, inicia sua jornada de descobertas do passado após sua vizinha revelar uma notícia sobre seus pais em um jornal antigo.

A mocinha pertence a uma família humilde e cresceu rodeada pelo conservadorismo, racismo e catolicismo ferrenho, tanto de seus avós quanto da vizinhança.

Todos esses elementos contribuem para a grande confusão de um self que luta para se entender, com o agravante de que suas origens têm contornos borrados.

Nessa espécie de romance de formação, a autora foi capaz de transmitir de maneira vívida e bastante visual as aventuras e dissabores da personagem, através de descrições detalhadas e críveis, ao passo que ainda delicadas e sensíveis, das sensações da protagonista e dos cenários da história.

Dessa maneira, transcendendo a narrativa sobre uma menina que não sabe seu passado, os elementos tecidos por Martes em sua trama evocam retalhos de um Brasil que pouco sabe sobre seus fantasmas – ou que, quando sabe, escolhe omiti-los ou mentir sobre sua existência.

A obra vem compor o quadro da literatura brasileira que além de ser traçado por vozes femininas, busca rever o período da ditadura militar brasileira pelo olhar das próprias vítimas. 

De início, o escrito pode soar como uma literatura infantojuvenil de descobertas de uma criança que sente vergonha de seus cabelos e odeia o fato de usar óculos. No entanto, os tristes acontecimentos que atravessam a vida da protagonista, vão conferindo um tom opressivo para a história.

É nesse ambiente opressor, que o seu avô, um homem bravo e filho de adestrador de cavalos, coleciona borboletas. Esses insetos marcam muitos momentos no amadurecimento da personagem que vai percebendo as contradições e a realidade a sua volta, simbolizando a metamorfose que a pequena tem que enfrentar em seu desenvolvimento.

Porém, ainda que a leitura exija um pouco de maturidade, a quantidade de elementos que podem fazer o leitor refletir acerca de si e acerca de um retrato de país, a fazem ser altamente recomendável para jovens e adultos.


SOBRE A AUTORA

Ana Cristina Braga Martes é socióloga e foi professora na Fundação Getulio Vargas até 2019, de onde saiu para se dedicar integralmente à literatura. Nascida em Varginha (MG), passou sua infância e juventude em São Carlos (SP), formou-se em Ciências Sociais pela UNESP/Araraquara e doutorou-se pela Universidade de São Paulo (USP), tendo feito parte do seu doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Foi pesquisadora-visitante na Universidade de Boston (BU) e fez pós-doutorado na Universidade de Londres (King’s College). Publicou e organizou diversos artigos e livros acadêmicos no Brasil e no exterior. A origem da água (2019), editado pela Confraria do Vento, foi seu primeiro livro de ficção. Atualmente é colunista da revista Pessoa e colaboradora do jornal Rascunho e da revista Quatro Cinco Um.


Em parceria com a Editora 34, o Outras Palavras irá sortear um exemplar de Sobre o que não falamos, de Ana Cristina Braga Martes, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 15/4, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

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