A Frente de Esquerda avança de novo na França

.

Jean-Luc Mélenchon reúne 15 mil em Lille, e sonha em chegar ao 2º turno. Discurso combina exigência de reforma política profunda com tentativa de evitar “voto útil”

Por Antonio Martins

Sobre o tema: Leia nossa análise sobre a “maré vermelha” nas eleições francesas.

“O rio deixou seu leito. E onde quer que ele chegue, não voltará tão cedo”. Jean-Luc Mélenchon, o candidato da Frente de Esquerda à presidência da França, parece ter descoberto que pode continuar crescendo nas pesquisas de intenção de voto se mobilizar os sentimentos de justiça social, igualdade e reforma política profunda. Ontem (27/3), dez dias depois de realizar em Paris o maior comício da campanha, ele reuniu em Lille cerca de 15 mil pessoas — um público extraordinário para uma cidade média e uma era em que se prega o domínio do marketing sobre a mobilização social. Até as eleições (22/4), pretende realizar dois outros grandes atos de massa: em Toulouse e Marselha. Agora, todas as pesquisas de intenção de voto recentes o colocam em terceiro lugar, e em rápida ascensão.

Duas características parecem marcar seu discurso. Primeiro, ele afirma claramente que seu governo será de ruptura — democrática e solidária. Para tanto, acalenta a ideia de uma 6ª república, uma vasta reforma que incluiria a desmercantilização dos serviços públicos (como a eletricidade e o gás), a garantia das liberdades individuais (direito ao aborto e ao suicídio assistido) e a reforma da política institucional (com formas de democracia direta, revogabilidade dos mandatos e redução do poder presidencial “cesarista”). Para mudanças de tal profundidade, propõe, é preciso convocar uma Assembleia Constituinte.

Ao mesmo tempo, Mélenchon construiu um discurso extremamente hábil contra o fantasma do “voto útil” e de uma polarização que mantenha no páreo apenas o presidente Nicolas Sarkozy e o candidato do Partido Socialista (PS), François Hollande. Por um lado, está claro que, caso ambos disputem o segundo turno, a Frente de Esquerda não ficará em cima do muro: apoiará Hollande. Isso evita contrariar um amplo contingente de eleitores que deseja, antes de tudo, ver-se livre de Sarkozy.

Por outro lado, Mélenchon passou a sugerir — cada vez com mais força, após seu recente ascenso — que ele é o melhor candidato para derrotar o presidente. Para tanto, tira proveito de sua personalidade carismática, em contraste com um François Hollande morno. E politiza o debate. Há alguns dias, o candidato do PS reafirmou, em entrevista ao jornal londrino The Guardian, o caráter limitado das mudanças que propõe. I’m not dangerous [“Não sou perigoso”], disse, ele. Ontem, em resposta, Mélenchon sacudiu a multidão em seu comício, ao afirmar, em inglês: We are very dangerous!

Sua fala refere-se sempre aos valores da Revolução Francesa — o que amplia sua audiência para além dos militantes tradicionais da esquerda. Mas esta mesma militância é constantemente valorizada: “Somos os construtores de uma grande força, disciplinada. É uma honra marchar em nossas fileiras, à condição de que cada um saiba onde está”, disse também ontem o candidato.

Em seu discurso, fustigou a candidata de ultra-direita, Marine Le Pen (uma infeliz, babando de raiva). Reafirmou seu orgulho de pertencer a “um grande povo miscigenado” (em contraponto à xenofobia). Referiu-se à América do Sul (“onde se repartem as riquezas”). Lembrou que, devido às políticas dos últimos 25 anos, o capital apropriou-se de 10 pontos percentuais do PIB, roubados ao trabalho. Prometeu elevar o salário mínimo a 1700 euros (hoje, 1375), ao chegar ao governo. Exortou os chefes do Partido Socialista a não se voltarem contra sua candidatura (“sejam polidos conosco!”), rejeitando a ideia, lançada há dias por um assessor de Hollande, de que o programa de governo do PS é inegociável (“ou se pega, ou se larga”).

Concluiu: “[Há um meio de] reunir a esquerda para derrotar de modo mais efetivo a direita? Que sejamos nós a passar ao segundo turno. Conosco, não haverá ‘pegar ou largar'”.

Leia Também:

Um comentario para "A Frente de Esquerda avança de novo na França"

  1. egle e siquera disse:

    Vital p tdos os povos, e países, resume-se no seguinte:as forças progressistas n podem se dividir por mera disputa de poder, ou visando cargos.
    Muito menos colocando em risco as eleições, e seus resultados, c o perigo de retrocessos.
    Precisamos de estadistas, pessoas q pensam no povos, e no países antes de tdo.
    E q lutem pelas comunidades, estados, cidades, e viabilizando os melhores projetos, e n os descartando se forem de outras fôrças, ate mesmo próximas.
    Abrs,
    Egle.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *