“Parecia petista”: na Paulista, dois casos de violência fascista

Fã de Bolsonaro decretou, antes de comandar agressão no Metrô: “Se não gritar fora Lula é petista”; no Masp, dois jovens foram agredidos por “parecerem petistas”

Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

O vídeo acima mostra um casal de amigos sendo ameaçado e agredido por uma turba. A acusação: “Parecem petistas”. A prova: ele estava com uma bicicleta vermelha. Não foi o único caso, ontem, durante a manifestação na Avenida Paulista pela derrubada de Dilma Rousseff e contra a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro. No Metrô, um estudante teve de sair correndo porque não gritou “fora Lula”. “Se não gritar fora Lula é petista”, decretaram.

O vídeo fala por si só. Vejamos o relato de Klismann Matos, estudante de Geografia na USP:

“Eu peguei o Metrô na estação Vila Madalena. Enquanto esperava na fila pra comprar o ticket, as pessoas gritavam. Um moço atrás de mim dizia que só o Bolsonaro salvaria o Brasil. Eles viram que eu estava na minha e não falava nada. Foi aí que começaram a me intimidar. Um senhor de uns 60 anos ficava falando: “tem que ser imbecil pra não ir na Paulista agora”, Perguntei  ele por que ir pra Paulista. Ele falou que a situação política havia chegado no limite e eles iam ‘arrancar o PT e o governo comunista do poder’. Perguntei o que fazer depois, e ele disse que ia pra rua até tirar todos os corruptos. Falei: ok. Aí ele ficou ao meu lado gritando, comprei o bilhete e entrei na estação.
Quando entrei no vagão fiquei de cabeça baixa, estava incomodado com a situação e tinha uma galera de mais ou menos 20 pessoas gritando fora Lula e fora Dilma. Foi assim até descermos na estação Consolação. Aí esse senhor que falou comigo na Vila Madalena e o cara que falava do Bolsonaro vieram gritando ao pé do meu ouvido, eu de cabeça baixa sem dar um pio, porque eles já eram mais de 30, todo mundo com bandeiras e vuvuzelas. Quando já estava saindo da estação o cada falou pra mim: “Se não gritar fora Lula é petista”.

Respondi que não era petista, mas não ia participar do que estava acontecendo. Foi aí que ele bateu com o cabo da bandeira na minha orelha. Tomei um susto, quando vi parecia um movimento de cardume de peixes, todos vinham na minha direção levantando bandeira, vuvuzelas e cartazes. Comecei a correr para sair da estação, saí de lá aos gritos de petista, vagabundo, militonto. A última coisa que me lembro foi de ver a cara de um menino que jogou um saco de pipoca na minha direção. O fã do Bolsonaro correu pra me intimidar e desci a Augusta correndo”.

CAMISETA FLORIDA

Em Porto Velho, um caso similar. O ator e poeta Elizeu Braga caminhava hoje pela rua com uma camisa estampada florida, feita de tecido chita. De repente ouviu um grito vindo de um carro, com uma mulher dirigindo e o homem no banco do passageiro:

– Com uma camisa escrota dessa só pode ser petralha comunista. Bando de filho da puta! Vai visitar teu papai analfabeto na prisão, babaca.

Braga pensou que fosse um conhecido brincando. Percebeu que não. Pegou outro caminho para casa, sem fazer o que se propusera: caminhar até uma castanheira na rua de cima para refletir e pedir paz. Ainda tenta entender o que aconteceu: “O cara ficou incomodado com as flores na minha camisa”.

LEIA MAIS:

Rubrofobia: fascismo brasileiro consolida sua intolerância bruta a uma cor

Reflexões sobre fascismo (I) – Umberto Eco

Reflexões sobre fascismo (II) – Thomas Mann

Reflexões sobre fascismo (III) – Camus, Graciliano, Adorno, Fellini…

Reflexões sobre fascismo (IV) – Sartre, Brecht, Sabato, Monsalve

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2 comentários para "“Parecia petista”: na Paulista, dois casos de violência fascista"

  1. Fred disse:

    Ontem também fui agredido na Paulista.
    Um maluco passou gritando “bora Brasillllll” do meu lado, quando eu não gritei junto ele puxou minha mochila vermelha, eu reagi e me defendi, ele ficou assustado com minha reação (que foi explosiva e bem agressiva) e não veio mais pra cima.

  2. Fred disse:

    Ontem também fui agredido na Paulista.
    Um maluco passou gritando “bora Brasillllll” do meu lado, quando eu não gritei junto ele puxou minha mochila vermelha, eu reagi e me defendi, ele ficou assustado com minha reação (que foi explosiva e bem agressiva) e não veio mais pra cima.

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