Ricardo Barros: o que não faltam são fios a puxar
Enredado no escâncalo da Covaxin, líder do governo Bolsonaro tem coleção de estranhas ligações
Publicado 29/06/2021 às 08:45 - Atualizado 29/06/2021 às 08:46
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Hoje deve ser analisado o requerimento de convocação do deputado Ricardo Barros (PP-PR). Diferentes veículos de imprensa apontam que enquanto a tática do líder do governo na Câmara seria depor o mais rápido possível, a ideia do G-7 é deixá-lo “sangrar” mais um pouco, enquanto surgem mais informações comprometedoras.
E elas estão jorrando. Agora, as atenções se voltam para o advogado de Barros desde a época da delação da Galvão Engenharia na Lava-Jato, quando foi acusado de receber R$ 5 milhões em propinas. Flávio Pansieri, notou a Folha, assina a defesa do deputado na investigação que corre na Justiça Federal sobre a Covaxin.
O advogado também tem seus próprios rolos com outra vacina, já que atuou até o último dia 10 junto à Anvisa para a liberação do imunizante da CanSino, que como destacamos ontem, deve se tornar foco na CPI.
Ele participou no dia 30 de abril de uma reunião com a agência reguladora brasileira, em nome do Instituto Vital Brazil S.A, que aparecia junto com a empresa Belcher como representante da vacina no país.
Seis dias antes dessa reunião, Pansieri acompanhou Barros na solenidade de posse de João Roma, que ocorreu no Palácio do Planalto. Lá, o advogado não se fez de rogado: tirou uma foto com Bolsonaro.
Tem mais: na fotografia, também estava o marido da filha de Ricardo Barros – que vem a ser ex-sócio de Pansieri. A sociedade acabou há pouco tempo, em 30 de abril.
Para fechar a série de ligações perigosas, a Belcher é uma empresa de Maringá, que teria como um dos sócios um empresário próximo do líder do governo. Já foram prefeitos de Maringá o pai de Barros, o irmão de Barros e o próprio Barros.
Procurados pela Folha, tanto o deputado quanto seu advogado escolheram a mesma expressão – “não há impedimento” – para rebater as muitas coincidências.
Não fica só aí
Além de Regina Célia Silva Oliveira, nomeada para o Ministério da Saúde por Barros em 2017 e fiscal do contrato da Covaxin, também está na mira da CPI outro apadrinhado pelo deputado. Trata-se de Roberto Ferreira Dias, que teria pressionado o servidor Luís Ricardo Miranda durante o processo de compra da vacina.
De 2019, quando passou a comandar o Departamento de Logística da pasta, até agora ele autorizou pagamentos que somam R$ 24,8 bilhões. Antes disso, teve cargo de confiança na gestão de Cida Borghetti, mulher de Barros, no governo do Paraná.
No ano passado, Ferreira Dias chegou a ser indicado por Bolsonaro para assumir uma diretoria na… Anvisa. Sim. A indicação foi retirada em novembro, depois que seu nome apareceu em outra história suspeita: um contrato de R$ 10 milhões para a compra de kits com insumos para testes de covid-19.
Finalmente, há mais um personagem nesse enredo: o servidor do Ministério da Saúde Thiago Fernandes da Costa – que é réu em ação de improbidade administrativa no fornecimento de medicamentos para doenças raras ao lado de Ricardo Barros e da Global. Ele também atuou na compra da vacina indiana Covaxin. Segundo a investigação de 2018 feita pelo Ministério Público Federal, Costa deixou de cumprir uma despacho do seu superior na pasta que levaria à desclassificação da Global no processo licitatório.
Nunca é demais lembrar: a Global é sócia da Precisa, a empresa representante da Covaxin. O senador Humberto Costa (PT-PE) quer convocar o servidor para depor na CPI.
Recado
“Eu sei me defender. Não vou sair da liderança.” Esse foi o recado dado por Ricardo Barros ontem ao Planalto durante uma reunião de líderes da qual participou a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda.
E Bolsonaro?
À claque postadadiante do Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro se fez de desentendido ontem: “São 22 ministérios, não tenho como saber o que acontece, vou na confiança em cima de ministros e nada fizemos de errado”. O presidente ainda não conseguiu coadunar uma explicação coerente para a acusação feita pelo deputado Luís Miranda (DEM-DF) de que não teria feito nada mesmo depois de alertado sobre a suposta roubalheira.
Tampouco negou que tenha afirmado que os possíveis “rolos” teriam a ver com Ricardo Barros. “Por que o presidente, ao invés de atacar membros da CPI, simplesmente não negou que tenha dito que o seu líder, era o responsável por operações suspeitas na compra da vacina Covaxin?”, questionou ontem o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM) em um tuíte. “Na verdade, por que ele não negou isso até agora?“, insistiu.
Bola está com Aras
A ministra Rosa Weber encaminhou à Procuradoria-Geral da República a notícia-crime protocolada por senadores da CPI que pedem abertura de inquérito contra Jair Bolsonaro por prevaricação no caso envolvendo a compra da Covaxin. Agora, cabe a procurador-geral Augusto Aras decidir se abre inquérito… Aras quer ser indicado pelo presidente à vaga do ministro Marco Aurélio Mello no STF – ou, pelo menos, ter sua recondução à PGR garantida.