Tuberculose: Brasil não vai bater metas de redução
Casos e mortes aumentaram entre 2018 e 2019. Doença é prevenida por BCG, que teve menor cobertura em 25 anos. Relatório da OMS aponta esforço global insuficiente – quatro mil pessoas morreram por dia no ano passado
Publicado 15/10/2020 às 08:38

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 15 de outubro. Leia a edição inteira.
Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.
A OMS lançou ontem seu relatório anual sobre tuberculose e, para o Brasil, a conclusão é que não vamos alcançar as metas de redução de casos e mortes pela doença. “Surpreendentemente, podemos ver, nos últimos dois anos, aumento na incidência de tuberculose no Brasil“, afirmou Tereza Kasaeva, diretora do programa global de tuberculose da OMS. Segundo o G1, passamos de 95 mil casos e 4,8 mil mortes em 2018 para 96 mil casos e 6,7 mil mortes em 2019. Considerando que se trata de uma doença tratável, é bem preocupante ver as mortes crescendo ainda mais do que as infecções.
É bom lembrar que a tuberculose pode ser prevenida com a vacina BCG, dada a recém-nascidos. E que em 2019 essa vacina teve a menor cobertura da série histórica: só 85,1% dos bebês foram imunizados. Em 25 anos, essa foi a primeira vez que a meta de 90% de cobertura não foi atingida.
A estratégia de redução da tuberculose no mundo, estabelecida em 2014, incluía uma diminuição de 20% na incidência da doença e uma queda de 35% nas mortes de 2015 a 2020. Por enquanto, a Europa e a África estão conseguindo bons resultados – embora os números ainda sejam muito altos nesse último continente. Apesar dos avanços locais, a média global é ruim. Dez milhões de pessoas pegaram a doença no ano passado e 1,4 milhão morreram, o que dá quase quatro mil mortes por dia. Em parte, por falta de diagnóstico e a consequente falta de tratamento. Em parte, por resistência microbiana: quase meio milhão de pessoas foram diagnosticadas com tuberculose resistente a medicamentos, e menos de 40% delas conseguiram obter remédios adequados. A maior parte dos casos está no Sudeste Asiático (44%), na África (25%) e no Pacífico Ocidental (18%). A incidência é menor nas Américas (2,9%) e na Europa (2,5%).
A preocupação obviamente aumenta com a pandemia e, segundo a OMS, no ano que vem o número de mortes por tuberculose pode aumentar em 400 mil. Se isso acontecer, vamos regressar aos números de 2012.
Sem publicidade ou patrocínio, dependemos de você. Faça parte do nosso grupo de apoiadores e ajude a manter nossa voz livre e plural: apoia.se/outraspalavras