Por outro jornalismo, com a garra de Jean-Claude Bernardet

Outras Palavras oferece o clássico O que é cinema – autografado pelo crítico – para marcar o esforço de sustentação autônoma das mídias alternativas, em tempos difíceis

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Outras Palavras oferece o clássico O que é cinema – autografado pelo crítico – para marcar o esforço de sustentação autônoma das mídias alternativas, em tempos difíceis

BOTAOZIN

Se faltassem provas de que a mídia converteu-se num pilar central para sustentação do poder de uma minoria ínfima, valeria olhar para o Brasil pós-golpe. Ocupa o Palácio do Planalto um presidente apoiado por apenas 3% da população. Este governante impõe, sem debate algum, o que se poderia chamar de Desconstituinte dos direitos sociais. Sustenta-o um tripé: o poder econômico, beneficiário das medidas; o Congresso Nacional, onde quase inexistem parlamentares independentes das grandes empresas; e os jornais e TVs, cujo papel é esconder da população a agenda de retrocessos.

A vinculação entre mídia e poder está expressa em alguns números. Entre 2000 e 2016 (período que envolve os governos FHC, Lula, Dilma e Temer), o Estado brasileiro ofereceu R$ 34,7 bilhões, sob forma de compra de espaço publicitário, ao oligopólio que controla os meios de comunicação no país. Foram, em média, R$ 2,06 bilhões por ano – ou três vezes mais que o orçamento do ministério da Cultura em 2016. Não houve alterações significativas nos valores transferidos pelos sucessivos governos. E os números omitem outra transferência, muito mais volumosa, porém opaca: a que abastece os jornais, TVs, rádios e revistas, com publicidade das empresas privadas – aliás, as que mais ganham com o silêncio da velha mídia diante do ataque aos direitos e aos serviços públicos.

Uma única emissora – a Rede Globo – recebeu, ao longo do período, R$ 9,47 bilhões. O pico foi alcançado em 2013 (sob Dilma): R$ 734,9 milhões. Em apenas doze meses, os valores recebidos por uma única TV seriam suficientes para manter uma publicação como Outras Palavras por 2543 anos (veja nosso orçamento) Visto por outro ângulo: uma política democrática de Comunicação, que favorecesse a diversidade, permitiria ao país estimular, todos os anos, 2543 iniciativas como a nossa, com o mesmo orçamento hoje destinado à família Marinho.

Outras Palavras nunca recebeu um centavo de verba publicitária do governo federal ou de empresas privadas. Continua publicando análises e informações que não saem na Rede Globo nem nos outros canais do oligopólio. Para tanto, recorre aos leitores, a parcerias incomuns (não-mercantis) com produtores culturais e da Economia Solidária e à generosidade de alguns de seus colaboradores.

Jean-Claude Bernardet, um dos grandes críticos de cinema do país (além de diretor, escritor roteirista e ator), é um deles. Entre seus dezenove livros, encontra-se uma obra sintética e expressiva, lançada no já longínquo 1980: O que é Cinema, nono volume da coleção Primeiros Passos, Editora Brasiliense. A obra está esgotada. A editora, saudosa, sucumbiu. Porém, Jean-Claude doou, há alguns meses, trinta exemplares a Outras Palavras. Todos têm seu autógrafo.

Serão oferecidos como mimo especial a quem aderir a Outros Quinhentos, nosso programa de sustentação autônoma, até a próxima terça-feira, 7/11. Sinalizam nosso compromisso com a leitura e os livros. Entre as contrapartidas oferecidas por Outros Quinhentos a seus participantes destacam-se reduções muito relevantes nos preços de centenas de títulos disponíveis em nossa livraria virtual. Editoras como Boitempo, 34, Autonomia Literária, N-1, Expressão Popular e Elefante anunciam em Outras Palavras. Nada pagam por isso. Porém, reduzem os preços e o benefício (entre 20% e 60% do valor de capa) é transferido a quem ajuda a sustentar nosso jornalismo de profundidade.

Dirigido a não-cinéfilos, didático porém provocador, O que é Cinema empenha-se, num dos capítulos introdutórios a desfazer o mito da “realidade objetiva”, que as imagens em movimento supostamente projetariam. O cinema comercial é a “arte criada pela burguesia”: aquela que, por sua natureza industrial, permite erguer em seu redor uma mística – a de que seria expressão neutra da “realidade”.

Porém, há resistência. Diz Bernardet: “o cinema, como toda área cultural, é um campo de luta e a história do cinema é também o esforço constante para denunciar este ocultamento e fazer aparecer quem fala”. Quiçá seja também, nosso jornalismo. Para mantê-lo, contamos com você.

BOTAOZIN

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