Estéticas das Periferias: 50 anos do hip hop

Nesta terça, em SP, evento promove um circuito cultural das quebradas, mobilizando mais de 40 distritos. Com atividades descentralizadas — como graffi, MCs, danças e DJs –, o Encontro aborda as múltiplas expressões das bordas da cidade

Foto: Pablo Bernardo/Divulgação
.

O Encontro Estéticas das Periferias realiza sua 13ª edição entre os dias 22 e 27 de agosto. Promovido desde 2011, a trajetória do evento foi ininterrupta até aqui. Durante esse período se formou a rede que lhe dá sustentação política, formada atualmente por 50 coletivos. Uma articulação que se reconhece como grupo curatorial. E isso não é retórica. A partir dessa curadoria coletiva, o evento se torna participativo, descentralizado, territorializado e distributivo. Temos assim uma cadeia de efeito que revela o conceito por trás desse que se tornou uma das mais importantes mostras da arte e da cultura que é produzida nas bordas da metrópole paulistana.

O Estéticas das Periferias acaba por evidenciar um circuito cultural que desenha a cartografia periférica da Cidade. São 25 territórios que englobam os 46 distritos que margeiam a metrópole. Em cada região há dois coletivos de linguagens e perfis distintos que organizam a programação local orientada pelos eixos curatoriais e o tema central. Desse modo, o evento consegue captar a cena cultural de cada quebrada, atualizando anualmente o panorama da cultura periférica. Há também um território no Centro que apresenta uma programação marginal, pois há inúmeros coletivos artísticos de periferia que encontram na região central seu espaço de articulação e apresentação. Isso ocorre, principalmente, na cultura LGBTQIAP+.

O Estéticas das Periferias é assim uma iniciativa, cujo processo de organização é tão importante quanto o evento como produto. Por isso, não há shows e atrações de grande porte. Já há muitos eventos que fazem isso e muito bem. A Virada Cultural que ficou mais descentralizada nos últimos anos e mais periférica, consequentemente, é um bom exemplo. A vocação do Estéticas é o fortalecimento da produção cultural na ponta de uma ação orgânica e em rede.

Meio século de Hip Hop

O Encontro Estéticas das Periferias também renderá homenagem ao hip hop que surgiu há 50 anos nos Estados Unidos e há 40 anos no Brasil, uma efeméride muito festejada em 2023.

O tema permeará toda a programação do evento desafiando os coletivos a incorporarem os elementos da cultura hip hop em suas apresentações: graffiti, MC, dança e DJ. O ator e DJ Eugenio Lima, ligado ao Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, aceitou nosso convite de levar ao palco do Sesc Pinheiros um espetáculo de abertura que recupera a trajetória do hip hop no mundo e no Brasil numa abordagem múltipla e diversa ressaltando a presença das mulheres, dos LGBTQIAP+ e indígenas.

O show acontecerá no dia 24 no TTeatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, às 20h. Duas horas antes, a pesquisadora e recém-empossada na Academia Brasileira de Letras, Heloisa Buarque de Hollanda, que passou a assinar como Heloisa Teixeira, vai falar da influência da cultura hip hop na literatura periférica no mesmo local.

A cultura hip hop na Ação Educativa

O tema do hip hop é muito caro para a Ação Educativa, organização que realiza o Encontro Estéticas das Periferias. Nos anos 1990, a instituição produziu vídeos e estudos sobre essa cultura, além de promover articulações entre diversas posses que era a denominação dos grupos e coletivos do movimento hip hop naquele tempo. Já no ano 2001 criou a Semana de Cultura Hip Hop que teve 10 edições até 2010. Paralelamente, organizou as duas primeiras edições do Encontro de DJs de Hip Hop (2008 e 2009) que tinha a curadoria do DJ Erry G que seguiu adiante com o projeto.

Ainda em 2010, a Ação Educativa participou da organização e mobilização nacional do Prêmio Hip Hop, realizado pelo Ministério da Cultura. Também naquele ano, o rapper Criolo passou a fazer a lendária Rinha dos MC’s na sede da Ação Educativa, inaugurando a programação do Ponto de Cultura Espaço Cultural Periferia no Centro. Naquele mesmo espaço, o poeta Sergio Vaz já fazia, desde 2008, o não menos icônico Sarau Rap que lá se realizou por três anos.

E para fechar o ciclo, é importante destacar que a Lei que estabelece a Semana Hip Hop na cidade de São Paulo, promulgada em 2004 sob a autoria da então vereadora Claudete Alves, teve sua efetivação também no histórico ano de 2010. Mas, isso só foi possível em função de uma ação civil pública impetrada pela Ação Educativa junto ao Ministério Público que obrigou a Prefeitura a realizar o evento que passou a ser Mês do Hip Hop anos depois.

Na Avenida Paulista e nas bordas da Região Metropolitana

A programação do Encontro Estéticas das Periferias conta com mais de 100 atrações em 50 bairros periféricos e no Centro. Além do Sesc, participam o Itaú Cultural, Instituto Moreira Salles e Casa das Rosas. Sete unidades das Fábricas de Cultura reforçam a programação nos arrabaldes, incluindo Diadema e Osasco. A expansão para a Região Metropolitana inclui também o município de Itapecerica da Serra onde o escritor Ferréz montou o espaço cultural Indústria 262, no qual o autor de Capão Pecado fará um bate-papo sobre os desafios da gestão de espaços culturais nas periferias.

O tempero da programação do evento terá sabor nordestino. O premiado restaurante Mocotó, que também está fazendo 50 anos, se somou ao Encontro Estéticas das Periferias e vai receber um sarau comandado pelo poeta cearense Costa Senna na noite do dia 23 na sua matriz que fica na Vila Medeiros, periferia da Zona Norte. Essas e as demais atrações podem ser acessadas no site do evento e no Instagram. É tudo de graça!

Nota da organização: Devido à grande repercussão, o espetáculo de abertura do Encontro Estéticas das Periferias “Hip Hop aos 50 anos” será realizado na Unidade de Pinheiros do Sesc e não mais no Consolação, como anteriormente divulgado. A capacidade do novo endereço é quatro vezes maior e poderá atender melhor ao público interessado em prestigiar o show.

Endereço: Rua Pais Leme, 195, Pinheiro, ao lado da Estação Faria Lima do Metrô. Dia 24 de agosto, às 20h. Ingressos gratuitos devem ser baixados do site do Sesc ou retirado em qualquer unidade no dia do evento, a partir das 14h.

O bate-papo com a escritora Heloisa Teixeira (Heloisa Buarque de Hollanda) sobre “Literatura Periférica e Cultura Hip Hop” também foi transferido para a Unidade de Pinheiros. Será também no dia 24, às 18h.

Leia Também:

Um comentario para "Estéticas das Periferias: 50 anos do hip hop"

  1. Parabéns ao Outras Palavras, só matérias importantes, aliás, essenciais para quem se interessa por cultura.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *