Photofagia: Em Tapajós, nem todos amam o rio-mar
As águas dominam vida dos ribeirinhos. Menos Mateus, que se assusta com a superfície líquida e as histórias de botos, arraias e cobras d’água
Publicado 30/05/2014 às 15:57
Por Leticia Freire
A vida na Amazônia está intimamente ligada aos rios. Seja pela importância fundamental enquanto meio de sustento, via de transporte ou superfície sobre a qual se desenrolam as atividades cotidianas de parte da população, a rotina do caboclo ribeirinho estende-se sobre as águas. Desse encontro nascem outros tempos de deslocamento, outras dinâmicas e hábitos, reflexo dos próprios ciclos de cheias e vazantes. Na comunidade de Pini, situada na Floresta Nacional do Tapajós, é sempre possível observar o deslocamento de um barco ou canoa no horizonte.
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Embora ligado à água do igarapé desde o nascimento, Mateus nunca gostou da hora do banho. Seus olhos lagrimejam sempre que sua mãe pega o sabonete e a toalha. Parece um castigo, contradizendo a felicidade que marca o mesmo momento das outras crianças.
Dessa vez entramos juntos na água. Imagino o que o ameaça: histórias sobre botos, arraias e cobras d´água sempre voltam àquela superfície líquida, assustadoras. A água fria arrepia seu pequeno corpo. Ele começa a chorar. A mãe conta que ele se sente desconfortável com a areia, um tanto lodosa. Também não gosta quando os passos deixam turvo o fundo das águas. Para amenizar o sofrimento do filho, “a chinela amarela fica no pé”.
Ainda assim chora. Tenta voltar à terra firme. Cada mergulho é um suplício. A mãe o olha com afeto. “Não quer saber do Tapajós”, diz ela, que banha Mateus a contra gosto, habilidosamente.
Que boniteza!!!! Bora fazer a exposição mana?????
Que banho difícil, esse… Parabéns pelo ensaio. Belo!