A Realidade, esta danada, e a Mídia Pinóquia
São Paulo: como jornais atropelam os fatos para tentar destruir Fernando Haddad, um prefeito não-enquadrado. Dois fatos singelos
Publicado 23/07/2014 às 13:55
Por Carol Almeida*
E vamos nós pra mais um capítulo daquela novela tão conhecida mídia pinóquia: como destruir a gestão Haddad em SP. Cena de ontem (22/7): #EstadãoIngrato. Sabe aquelas medidas bem celebradas e super “cool” lá na Europa de criar mais ciclovias, investir em transporte público pra eliminar a presença do carro travando as cidades, entender que dependente químico precisa de tratamento humanizado e criar ações sustentáveis pra reciclar lixo e comer comida saudável?
Pois bem, pro Estadão, tudo isso representa nada mais que, palavras de seu editorial nesta terça, “experiências esdrúxulas e marqueteiras“. Sobre o Braços Abertos: o Estadão diz (em tom de chacota): “A ‘inovação’ foi oferecer a esses drogados (leia-se: drogados-merecia-tudo-morrer) hospedagens em hotéis da região e um emprego de varredor de rua, com remuneração e R$ 15 por dia (leia-se: é muita fortuna pra esses… drogados!) e assistência médica. A óbvia contrapartida – a de que o viciado fosse obrigado a se tratar – não foi exigida. O resultado é que, em vez de resolver o problema da Cracolândia, a Prefeitura, em nome de uma nova ‘atitude’ acabou financiando indiretamente o consumo de crack.”
A Realidade diz (em tom de “really”?): de janeiro a junho deste ano, foram 422 beneficiários cadastrados, 50% a 70% de redução do consumo de crack entre os beneficiários (em média), 228 participantes no serviço de varrição de ruas, 66 participantes trabalhando no projeto Fábrica Verde, 330 pessoas conseguiram novos documentos e mais de 28 mil atendimentos de saúde realizados. PAM! O jornal canadense “The Globe and Mail” já fez uma extensa matéria louvando o programa Braços Abertos, mas Canadá é terceiro mundo, né gente? Vai confiar?
Sobre os corredores de ônibus, o Estadão diz: “Mas nada traduz melhor o improviso dessa administração despreparada do que as faixas exclusivas de ônibus.” A Realidade, essa danada, responde: segundo uma pesquisa do Ibope encomendada pela Rede Nossa São Paulo, divulgada em setembro de 2013, 93% dos 805 entrevistados disseram ser a favor da implementação de faixas exclusivas de ônibus. Numa pesquisa feita pelo Datafolha sobre o mesmo tema, 88% dos 823 entrevistados aprovaram as faixas, sendo que 77% estavam entre os que mais utilizam automóveis. PAM PAM!
Querido (not!) Estadão, ingrato é você, promovendo um jornalismo que atira contra a população da cidade de SP. Igualzinho àquela polícia daquele senhor que vocês tanto amam… Mas essa é uma outra história (na verdade, é a mesma, mas enfim).
Concordo em gênero, numero e grau. Por essas e outras eu escrevi minha carta aberta no blog “Alguém ai fora”:
http://alguemaifora.wordpress.com/2014/07/22/carta-aberta-a-fernando-haddad/
Cara, a média é calculada de acordo com a quantidade de usuários que param de consumir o crack. Não faz mal pensar um pouco antes.
Você realmente compara a experiência de usar ciclofaixas para o transporte público de uma cidade de 12 milhões de habitantes com relevo não uniforme com Amsterdan de 1.2 milhões? E você acredita que a avaliação negativa do governo é exclusivamente por causa da mídia?
Acredite ou não, sou um dos poucos que aprova o governo do haddad e não votou nele. Mas não desabono a opinião dos outros, colocando a culpa na “mídia pinóquia”. Até porque, quando o Estadao e a Folha tem artigos pró-gestão petista, ninguém as chama de pinóquia ou golpistas. Vamos acabar com o chororô.
Mas o mais engraçado é que o editorial do Estadão “esqueceu” de comentar qual foi a medida que o Alckmin tomou para resolver o mesmo problema na Cracolândia: de um dia pro outro colocou a PM pelas ruas do centro, dando porrada em todo drogado que encontrava. Com isso, além de não resolver em absolutamente nada a situação, ainda descentralizou momentaneamente a Cracolândia, criando grupos de viciados pelo centro inteiro. Além disso, logo de cara, o texto é uma imensa contradição: fala que o prefeito toma atitude populistas visando reeleição, sendo que pela ultima pesquisa, ele tem uma enorme rejeição. A emoção e a razão do editor precisa entrar em acordo…
São paulo é elitezinha no geral? É, tu definitivamente não sabe que toda generalização é burra.
Quando fala a populaça, a razão empalidece e desaparece. Então viva a miséria da alma que a tudo compreende e afaga.
Então porque um jornal do Canadá achou o programa Braços Abertos bom ele está aprovado?
Pra mim ele estaria aprovado se agora meses depois da implementação houvesse menos viciados naquela área, não é o que vejo quando passo por lá.
E só uma pergunta, como se verificou a diminuição no uso entre os participantes? entraram no quanto de hotel dele pra contar quantas pedras ele fuma depois que chega da rua? Ou simplesmente acreditam no que ele diz?
A única coisa realmente verificável que aconteceu na área com esse programa é que o preço da pedra, seguindo uma lei simples de mercado, teve uma leve subida…
E para fechar a tampa do caixão vem a pesquisa datafolha, colocando Alkmin absoluto em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais. Com exatamente o oposto da política adotada pela prefeitura para dependentes químicos, escândalos de corrupção, incompetência no abastecimento d’água, violência contra a população civil, criminalização de movimentos sociais e desprezo pelas questões ambientais do estado.
Concordo com a Carol Almeida, o prefeito Haddad tem feito muito bem feito seu trabalho e o jornaleco da familia Mesquita continua uma porcaria desde sempre.
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Para saber mais sobre o Estado aqui vai uma dica do jornalista Palmério Dória:
Nascidos para perder – História do jornal da família que tentou tomar o poder pelo poder das palavras – e das armas
Autor: Mylton Severiano
ISBN: 978-85-7474-589-3
Páginas: 280
Peso: 400 g
Ano: 2012
Palmério Dória
O livro conta a história d’O Estado de S. Paulo, fundado em 1875 para defender interesses de fazendeiros, capitalistas e republicanos paulistas. Graças aos encantos da atriz Luísa Satanella, um sócio deu um desfalque e com ela se foi para a Itália em 1902, pondo o jornal todo no colo da família Mesquita, de Júlio I. Sob a fachada de liberal, gente do Estadão no entanto chegou a conspirar e até a aderir à luta armada, como em 1932, quando sentiu suas aspirações ao poder ameaçadas. Perdeu todas as eleições na República Velha, perdeu em 1930, 1932, mesmo em 1964 – sob censura após o golpe vitorioso que apoiaram, e cedem lugar aos Frias em 1984 ao negar apoio às Diretas Já. Perdem em 2002 e 2006 para Lula, em 2010 para Dilma.
Estando para nós como The New York Times para os americanos, chega ao auge no governo Geisel, em plena ditadura, contra a qual assestam golpe que nenhum outro jornal ousaria, a série conhecida como “escândalo das mordomias”. Ao mesmo tempo, montam a maior rede de sucursais, com correspondentes até no exterior. Com a quarta geração, sobrevindo uma série de erros, o jornal cai nas mãos de banqueiros, “engenheiros”, perde a importância de outrora. A saga, apurada com ajuda de alguns dos maiores repórteres brasileiros, inclusive da antiga equipe do Estadão, e escrita por Mylton Severiano, expõe a História do Brasil no último século e meio tendo como pano de fundo a história de uma família que teve um grande jornal.
Todo empreendimento humano segue a lógica do ciclo vital: nasceu, já começa a morrer. Não estamos a contar novidade. Morrem fábricas, bancos, casas comerciais, escolas, nações, impérios – e jornais. Aos 74 anos, morreu em 1975 o Correio da Manhã; o Correio Paulistano aos 109 anos, em 1963; e mais recente finou-se a versão em papel do Jornal do Brasil, aos 119 anos.
Tal como acontece com os seres, alguns jornais vivem mais, outros menos, de acordo com o que determina seu DNA, sua fonte de alimentação, seu comportamento.
Diz o povo que se morre ou de morte morrida ou de morte matada. O que impressiona na trajetória do Estadão é a persistência da família Mesquita em erros administrativos, escolhas políticas desastrosas, bem como a assiduidade com que perdem praticamente todos os “bondes da história”.
Dos bondes perdidos, o mais clamoroso foi talvez deixar a Folha empunhar sozinha a bandeira das “Diretas Já” em 1984. Dos erros administrativos, campeão foi mudar do centro da capital paulista para a várzea do Tietê, o que fez o jornal pela primeira vez não chegar às bancas por causa das enchentes de janeiro de 2010.
Apostam em Getúlio, perdem; apostam contra Getúlio, perdem. Jogam todas as fichas no movimento constitucionalista de 1932, e perdem feio; apostam no golpe de 1964, e perdem.
Para resumir, quando este livro é concluído, acabam de apostar contra Dilma Rousseff, eleita primeira mulher presidente do Brasil.
Os Mesquitas parecem o avesso de Deus: de hora em hora, a família piora. Chegando ao sesquicentenário, o jornalão tropeça nas pernas. Nascidos para Perder conta como o Estado chegou a esse estado.
O Autor:
Mylton Severiano, paulista de Marília, onde concluiu o ensino médio e um curso de música de seis anos, passou por inúmeras redações de jornais, revistas e telejornais, antes de se tornar free-lancer e dedicar-se a criar peças para campanhas eleitorais e a escrever livros. Publicou, entre outros, Se Liga! – O livro das drogas (Record) e a biografia Paixão de João Antônio (Casa Amarela). Ao concluir este livro em 2011 estava gravando um cd com músicas suas e em parceria com Katia Reinisch e Palmério Dória.
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A respeito do projeto Braços Aberto, na cracolândia. tudo que sei e que acredito ser a melhor proposta para resolver o problema e fiz este video com a comunidade:
https://www.youtube.com/watch?v=e5I5zNmRysA&list=UUd0p4xyPdiwLSD70GNCja-g
VIDA BOA AE!!!!
maravilha, Carol! seu texto deveria ser veiculado nas universidades! é preciso estranhar o instituído, o naturalizado! parabéns pela coragem
Se o pessoal de São Paulo não quiser Haddad de novo, quero ele pra Prefeito do Recife.
Boa, excelente, esclarecedora comparação de opiniões. Não parte de um ponto de vista neutro – como se autoproclamam tais jornais, até por que sabemos que neutralidade nem existe! – e defende aquilo que é necessário defender: atender as necessidades da classe que trabalha e produz tudo o que existe, apenas. PS: Talvez seria necessário e é apenas uma opinião na qual sempre penso quando leio a folha, ou veja ou meios de imprensa sem culhão com a verdade – começar os artigos, as notas, os diálogos dessa maneira: MAIS UM CASO DE DESONESTIDADE INTELECTUAL! Só uma ideia…
Carol, parabéns por seu texto. Pobre e limitada mídia nós temos. Não consegue distinguir atos administrativos de política partidária o tempo todo.
Aplausos pra F Hadadd, com programa “braços abertos”…se no Canadá dá certo, em SP pode sim ser uma solução.
O contra-ponto, feito por mídias alternativas, é ótimo para um melhor entendimento de um mesmo fato. Vida longa ao outro lado da moeda!
Este é o jornal da família cujo principal herdeiro acabou de comparar Lula e Dilma ao Getúlio de 1932, E em seguida declarou que, assim como São Paulo (ou seja, a elitezinha da província, da qual brotou o Estadão) lutou solitário contra Getúlio, agora também luta brava e solitariamente contra os novos ditadores que controlam o governo federal. O que mais dizer?