?️ Pode haver ministério da Saúde sob Bolsonaro?

Pesquisadora da Fiocruz questiona papel do ministro, em governo de pensamento único. Pasta, historicamente pautada pela ciência, é empecilho ao presidente — que conta com aval grotesco do CFM. Agora, “só teremos saúde com a democracia”

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Sonia Fleury em entrevista a Maíra Mathias, no Tibungo

Nelson Teich não durou nem um mês no ministério da Saúde. Sua saída, anunciada na última sexta-feira, abriu espaço para que um general assumisse o comando da pasta. Eduardo Pazuello é uma figura totalmente estranha à Saúde. Nomeado por Jair Bolsonaro para tutelar o ex-ministro e não deixar se repetir uma atuação como a de Luiz Henrique Mandetta, visto como insubordinado pelo Planalto, o general levou consigo dezenas de fardados, numa verdadeira ocupação militar do Ministério – algo que não aconteceu nem mesmo na ditadura.

Não sabemos por quanto tempo Pazuello será ministro, mas ele tem uma missão clara: redigir um novo protocolo nacional sobre a cloroquina que agrade Bolsonaro. O presidente, que tinha aparentemente se esquecido da substância, voltou à carga total na semana passada. A exigência de que o Ministério da Saúde orientasse seu uso aos menores sintomas da covid-19 foi a gota d´água para Teich. Mas toda a história demonstra algo muito mais grave: no meio da pior pandemia que várias gerações já viram, a autoridade sanitária nacional não tem autoridade nenhuma.

Para discutir como tudo isso pode afetar o futuro do SUS convidamos alguém que participou da redação do capítulo que criou o Sistema Único na Constituição. Nossa analista da semana é a sanitarista Sonia Fleury.

O Brasil abriu a semana ostentado mais um número preocupante. Com 254 mil casos, ultrapassamos o Reino Unido e passamos a ocupar o terceiro lugar no ranking dos países com mais infecções confirmadas no mundo. Tudo isso parece ser um pequeno detalhe para o governo Bolsonaro que se empenha mesmo em distrair a população da tragédia e animar sua base de apoio nas redes sociais.

Assim, o presidente parece não ter pressa para substituir o general no comando do Ministério da Saúde. E pode entrevistar para o posto figuras tão bizarras quanto o youtuber Italo Marsili, discípulo de Olavo de Carvalho talhado para a radicalização política virtual com suas reinações de que mulheres votam porque são seduzidas pelos candidatos. Tudo isso distrai das falhas no envio de respiradores para estados, do atraso na sanção do pacote emergencial para estados e municípios, do caos que é o sistema de cadastro para o auxílio emergencial de R$ 600, e do loteamento de cargos para o Centrão – que vai abocanhar uma parte do Ministério da Saúde, inclusive.

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