?️ Brasil: a reabertura trágica do que nunca fechou

Epidemiologista da USP avalia: população reagiu bem ao isolamento, mas entraves à Renda Básica Emergencial e boicote presidencial minaram a quarentena. Chance de ouro foi perdida. Agora, estados decidem reabrir no pior momento

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Paulo Lotufo em entrevista a Raquel Torres, no Tibungo

As medidas de isolamento nos estados e municípios brasileiros começaram entre março e abril, de forma descoordenada e sem apoio do governo federal. A pressão exercida pelo presidente Jair Bolsonaro no sentido de “voltar à normalidade”, como ele costuma dizer, é feita há meses.

O auxílio emergencial de R$ 600, sem o qual é impossível pra boa parte da população deixar de sair em busca de trabalho, demorou pra ser liberado e, até hoje, existem problemas na sua distribuição.

O desemprego aumenta vertiginosamente. Ao mesmo tempo, governadores e prefeitos ainda não receberam o repasse financeiro do governo federal para ajudá-los a não quebrar durante a pandemia. Essa semana, vários estados começaram suas reaberturas econômicas.

Esta semana, São Paulo, Amazonas, Maranhão, Ceará, Espírito Santo e Pernambuco começaram a reabrir serviços em parte de seus municípios. Outros estados, como Minas Gerais e Santa Catarina, já haviam flexibilizado suas regras, e há outros mais em vias de fazer o mesmo. Além disso, cidades também já tomaram essa decisão isoladamente — a capital do Rio é uma.

Há diferenças entre os planos, mas comércio, construção civil, salões de beleza, igrejas e templos são atividades permitidas que se repetem em alguns deles. Mais de 200 shoppings já reabriram no país.

A situação é muito preocupante, já que as reaberturas não ocorrem depois de quedas bruscas e consistentes no número de casos e mortes registrados. Mas, quando olhamos as taxas de isolamento brasileiras, notamos que elas já vêm caindo há muito tempo, mesmo antes dos movimentos de flexibilização.

No país como um todo, esse nível ficou em torno de 45% em maio, e chegou a 39% na última sexta-feira. O maior índice registrado, em março, tinha sido de 62,2%. Mesmo nos estados e municípios que decretaram lockdown (o confinamento geral), os níveis de isolamento não passaram muito de 50%.

O isolamento no Brasil foi importante, mas ficou longe de ter o impacto necessário para que o país estivesse numa situação confortável agora. Paulo Lotufo ajuda a entender o porquê.

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