Divisão do Pará: a vantagem de Tapajós

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Embora pesquisas sejam imprecisas e pouco confiáveis, parece haver sensação de que é legítima a causa dos que defendem novo Estado, com capital em Santarém

Por Lúcio Flávio Pinto na Agência Adital

Se a pesquisa Vox Populi estiver correta, a redivisão do Estado do Pará ainda é um tema em aberto. Apenas 42% são contrários à divisão territorial para a criação de dois novos Estados, de Carajás e Tapajós, enquanto 37% dizem que votarão a favor dessa mudança no plebiscito de 11 de dezembro. Como a margem de erro da pesquisa é de 2,8% para cima ou para baixo, na hipótese mais pessimista para os que querem deixar tudo como está, os emancipacionistas ganhariam a votação.

Mas 22% dos entrevistados pelo Vox Populi disseram que ainda não têm opinião formada. Essa grande margem de indecisos abre perspectivas para o trabalho de convencimento através do marketing e outras formas de influenciar a opinião pública pelos próximos cinco meses.

Se dependesse apenas da capital, não haveria qualquer dúvida: o Pará continuaria com seus 1,2 milhão de quilômetros atuais, como a segunda maior unidade federativa brasileira. Em Belém, 67% do eleitorado seriam contrários à redivisão. O que indicaria outra característica importante da situação atual: o interior poderia decidir a sorte do plebiscito.

Os números causaram surpresas. Exigem outra pesquisa para checagem. O jornalista Paulo Bemerguy se referiu no seu blog a uma pesquisa do Ibope encomendada pelo governo, com resultados mais próximos do que é a presunção geral, inclusive entre os que levantam as bandeiras dos dois novos Estados: de que a rejeição é maior do que a registrada pelo Vox Populi. Mas Bemerguy não pôde apresentar resultados concretos da sondagem do Ibope, guardada pelos que a encomendaram.

Não se sabe também se é possível acessar a íntegra do trabalho do Vox Populi. A edição de O Liberal do dia 3, que divulgou a pesquisa, por encomenda do jornal, não diz que ela foi registrada no TRE (Tribunal Regional Eleitoral), conforme a exigência legal para sua divulgação. Certo ceticismo quanto à fidelidade da aferição tem seu fundamento em outro resultado das entrevistas realizadas pelo Vox Populi entre 18 e 22 de junho, junto a 1.200 pessoas, em Belém e 58 municípios do interior, dos 143 que o Pará possui (a relação dos municípios também não foi divulgada, assim como o peso relativo de cada um).

De acordo com Vox Populi, 45% dos leitores de jornal no Pará lêem O Liberal, enquanto apenas 28% preferem O Liberal e 10% fazem sua opção pelo Amazônia, o segundo jornal diário dos Maioranas. Os dados do IVC (Instituto Verificador de Circulação) dizem o contrário: que o líder do mercado é o Diário do Pará. O IVC é uma fonte muito mais confiável e aceita sobre circulação real de jornais do que o Vox Populi ou qualquer outro instituto de pesquisa. Logo, o resultado não merece crédito, por estar em contradição radical com as auditagens do IVC. O grupo Liberal se desligou do instituto depois que suas fraudes nos dados sobre circulação foram constatadas. Hoje, os jornais da empresa não têm verificação regular de sua circulação.

A pesquisa sobre a redivisão pode ter sofrido algum tipo de manipulação, como parece provável ter acontecido na apuração da circulação dos jornais e na medição do índice de credibilidade das três publicações diárias que circulam em Belém? É possível. Admitindo-se, contudo, que neste particular a pesquisa retrate a realidade (embora causando surpresa aos observadores da questão), pode-se intuir que a emancipação do Tapajós parece mais viável do que a de Carajás.

Infelizmente, por um erro metodológico clamoroso, o Vox Populi submeteu aos entrevistados uma questão genérica e imprecisa. Perguntou se, em caso de plebiscito, o eleitor era favorável ou contra “a divisão do Pará em três estados”. A cédula eleitoral, entretanto, individualizará as opções por Carajás e Tapajós. O eleitor votará duas vezes, não sendo obrigado, se for favorável a uma nova configuração territorial do Pará, a atrelar Tapajós a Carajás.

Esse detalhe importantíssimo talvez explique por que, de imediato, os defensores do Tapajós anunciaram que não iriam recorrer da decisão do Tribunal Superior Eleitoral de consultar toda a população do Pará e não apenas a que reside nas duas regiões propostas para emancipação. Os tapajônicos devem ter percebido que há uma simpatia maior por sua causa do que pela de Carajás, tanto em Belém como nas áreas que remanesceriam da redivisão como paraenses.

Essa parte do Pará tem mais afinidades com o Tapajós do que com Carajás. Não só porque nela estão instaladas muitas famílias oriundas do Baixo-Amazonas, que continuam fiéis à bandeira do novo Estado, como porque a causa, defendida há mais de um século, parece mais justa e natural, com fundamento mais forte na posição geográfica de Santarém, que já foi a terceira maior cidade da Amazônia, imprensada a meio caminho entre Belém e Manaus.

O Tapajós é constituído majoritariamente por paraenses de gerações ou imigrantes que se enraizaram na região, enquanto em Carajás a dominância é de imigrantes de outros Estados, sobretudo do vizinho (mas rival) Maranhão, com uma tendência (real ou atribuída) de se apossar de recursos naturais que seriam usurpados do Pará, justamente quando começam a render mais aos nativos.

É de se prever que se os defensores de Carajás prosseguirem na luta judicial contra o plebiscito em todo Pará, a campanha emancipacionista, que vinha sendo conduzida em conjunto, perca essa unidade. É provável que Tapajós comece a se diferenciar e se distanciar de Carajás. Assim procedendo na perspectiva de que, se o plebiscito trouxer mudanças, dele saiam dois Estados e não três.

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7 comentários para "Divisão do Pará: a vantagem de Tapajós"

  1. POR FAVOR QUEM TIVE ALGUMA NOTICIA LIGA PRA ESSE NUNERO (031)9836547599 SANTA LUZIA MA PAI DELE SE CHAMA ELIAS LIOR

  2. eu procuro um irmão nessa região NONE dele é ENOQUE PEREIRA DE ARUJO CONHECIDO POR CIRA

  3. jordy disse:

    concerteza a divisão vai beneficiar quem mora aqui na região do tapajós
    não é uma surpresa saber que o pessoal de belém seja a maioria contra
    mas seria muito bom se eles pudessem conhecer o descaso que essa população sofre é difícil colocar em palavras o tanto q nós queremos essa divisão

  4. Carlos disse:

    Reproduzo aqui este comentário que ví na internet, de um policial militar lotado no garimpo do cripurizão município de itaituba mas que fica perto da cidade de parintins no amazonas. Vejam o absurdo. Meu Deus! Precisamos mudar isso neste plebiscito. Está em nossas mãos.
    Por: rafael verissimo em 22/07/2011 – itaituba/PA
    Sou policial militar e nao estou nem um pouco satisfeito com a estrutura de trabalho que é oferecido no interior, estou atualmente trabalhando no distrito de CREPURIZÃO-ITAITUBA, aqui a policia só trabalha com a ajuda da comunidade, o predio do destacamento foi feito pela comunidade, a conta de energia é doada, a alimentação tambem, o acesso ate aqui é 24hs de estrada estadual em condições muito precarias no inverno so chega de aviao de pequeno porte, obs.R$ 500,00 a passagem aerea, ate este computador e a iternet são originárias de doações………UM NOVO ESTADO JAAAA…
    Eu, Carlos pergunto com todo amor e carinho: Alguém tem dúvida? Alguém concorda com esse tipo de coisa, tendo a oportunidade nas mãos em poder mudar isso?

  5. Carlos disse:

    Povo de Belém não pode ser manipulado pela elite de Belém comandada pela tv liberal da família “maiorana”. Esses maioranas estão defendendo os interesses deles. Não querem de jeito algum perder as conceções de tv que possuem nas cidades cujas regiões querem se emancipar e que sempre sofreram como massas de manobras por parte da tv liberal para eleger governador de acordo com seus interesses econõmicos. Em Santarém, por exemplo, há uma briga na justiça da tv liberal contra a tv tapajós pela conceção do canal da globo. Você belenense sabia disso? Ou vc pensa que a tv liberal tá realmente preocupada com seu emprego ou com seu futuro? Abrem os olhos de vocês. Vocês são inteligentes. Não aceitem ser caixa de resonância dos polítiqueiros latifundios do Pará. Eles querem que fique do jeito que está porque sempre foi mais fácil desviar recursos de uma área muito grande, é óbvio. Já em uma área menor vai ser muito mais difícil continuar com esses procedimentos, principalmente porque os recursos repassados pelo governo federal vão continuar praticamente os mesmos, e eles mentem pra população de belém dizendo que esses recursos vão diminuir. Os argumentos do contra são vasios e sem consistência, por isso vão apelar pra quem é famoso e que também ainda não tem conhecimento da verdade. Não podemos desperdiçar a chance da região norte deixar de ser chamada de quintal do brasil, onde as regiões do sul e sudestes sempre foram mais desenvolvidas e o norte sempre foi esquecido. Vamos dividir pra somar forças em brasília.

  6. Selestino disse:

    Sou aqui de Belém e com certeza não sou sego e nem tapado então meu voto e favorável (VOTO SIM 77) a divisão do estado, com estado menor com certeza fica mais fácil aplicar os recursos na saúde e na educação ate mesmo fiscalizar as despesas publica porque o dinheiro some e falam que ta sendo aplicado, mas a onde? “nos Hospitais do interior” como tudo e muito longe num tem nem como saber se e verdade, e o quanto ira ajudar o povo do interior a divisão, se existe alguém contra e porque num parou pra pensar os benefícios, vou dizer uma coisa só vai ser ruim pros políticos aqui de Belém e as emissoras de TV os políticos porque vão perder muitos votos e ficarão inelegíveis as emissoras porque vão perder concessões dos canais nos municípios que ficar nos novos estados, tendo esses políticos poderosos (Jader Barbalho e mais alguns ) e a mídia contra com certeza vai arrastar muita gente pro contra sem argumentos fundamentais, vamos abrir o olho aproveitar essa chance.
    Sempre votei no Jader e fui a favor dos seus projetos, mas nesse vou ser contra por conta da necessidade pena que ele vai perder muitos votos nas zonas eleitorais que ficar nos outros estados mas acho que num vai ficar inelegível.

  7. Jason disse:

    Só espero que os próximos plebiscitos para a criação de novas unidades federativas no Brasil, seja realizado apenas com os moradores locais, isto é, com a população das áreas que querem se separar do núcleo (estado-troco). Por que senão faz sentido, afinal de contas, o assunto só irá envolver os separatistas e não o estado como um todo. Só espero que o plebiscito do Pará dê um resultado favorável a separação, caso contrário, vai ficar evidente de que não valeu apena e o dinheiro público jogado fora. É importante que o povo paraense saibam que a divisão é um questão sócio-econômica (no caso de novos Estados) e bio-sustentável (no caso de Territórios Federais administrados pela União sobre a rígida tutela do IBAMA). Os paraenses precisam entender que a divisão não vai deixar o Pará mais pobre, ao contrário, o Pará apenas deixará de se responsabilizar pelos novos Estados de Carajás e Tapajós. Já tramita no Congresso/Senado o Território Federal do Xingu ao sul do Tapajós e extremo-norte e no Pará o Território Federal de Marajó.

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