Mulheres, trans, vitoriosas
No 8 de Março, história de três trans que assumem sua singularidade e enfrentam o preconceito para trabalhar, criar filhos e constituir famílias não-ortodoxas
Por Caroline Santos, Calle2
Publicado 08/03/2016 às 19:43
No Dia Internacional da Mulher (e em favor da liberdade de gêneros), história de três trans que assumem sua singularidade e enfrentam o preconceito para trabalhar, criar filhos e constituir famílias não-ortodoxas
Por Caroline Santos, na Calle2
Porém, virar mãe, tornar-se educadora e ser a primeira trans a passar na prova da OAB (Organização dos Advogados do Brasil) em Pernambuco são realizações de sonhos que ajudam essas mulheres a se empoderarem – e a sair das duras estatísticas do preconceito.
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a Calle2 traz a inspiradora história de três transexuais que romperam a barreira da marginalidade e do anonimato e elevaram suas condições de trans para níveis sociais além das esquinas e prostíbulos, onde estão cerca de 90% das travestis e transexuais do país, de acordo com a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).
“O Estado tem uma dívida social comigo. Enquanto uma cidadã sujeita a direitos e a deveres, sempre tive meus direitos ceifados, mas os deveres cobrados. Mesmo acreditando que possam existir políticas públicas a nosso favor, ainda tenho medo do que nos aguarda, já que a escola continua sendo um motor da exclusão”, analisa a professora Naider.
‘ENGRAVIDAR MEU MARIDO FOI BEM ESTRANHO’
Helena Freitas, 26 anos, operadora de telemarketing e mãe do Gregório (Porto Alegre)
Engravidar meu marido foi estranho no começo [Anderson também é trans – nasceu mulher, mas hoje é homem]. A minha ficha demorou um pouco para cair. Mas depois seguimos normalmente, como um casal de homem e mulher, só que no meu caso quem estava grávido era o homem.
Foi engraçado ver um homem grávido, mas eu nunca ri na frente do Anderson. Ele é muito bravo e não gosta de brincadeiras… e também estava muito sensível.
Eu curti muito a gravidez. Fiz um chá de bebê sem a participação do Anderson. Mas também tive meus receios, fiquei com medo de tudo, de perder o emprego, medo da separação e, principalmente, de faltar alguma coisa para o meu filho. Durante o parto, os médicos achavam que éramos irmãs. Ficamos o tempo todo de mãos dadas. Só uma enfermeira se deu conta do que estava acontecendo e passou a me chamar de ‘mãezinha’.
A briga para registrar o Gregório foi muito constrangedora. O rapaz do cartório disse que minha identidade social não é de verdade e perguntou onde eu a havia conseguido. A maioria das pessoas não conhece a identidade de nome social. O Gregório está registrado com meu nome civil.
Em qualquer lugar vem o questionamento de que não somos uma família normal, que eu não sou a mãe. Para mim isso é preconceito. Somos prova viva de que o amor se constrói entre seres humanos. Somos um casal transgênero e temos uma família.