Assim a Folha de S.Paulo tenta silenciar seus críticos

Incapaz de suportar paródia, jornal mantém processo contra irmãos Bocchini. Julgamento em segunda instância, confirma ameaças à liberdade de expressão

. Por Renato Rovai, em seu blog

Lino Bocchini, co-criador da “FAlha de S.Paulo” e um dos alvos do jornalão paulista. Ao contrário do “New York Times”, família Frias não suporta humor ou dissidências

Lino Bocchini, co-criador da “FAlha de S.Paulo” e um dos alvos do jornalão paulista. Ao contrário do “New York Times”, família Frias não suporta humor ou dissidências

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Incapaz de suportar paródia, jornal mantém processo contra irmãos Bocchini, da “FAlha de S.Paulo”. Julgamento vai a segunda instância, e confirma ameaças à liberdade de expressão

Por Renato Rovai, em seu blog

No próximo dia 20 será julgado, em segunda instância, o caso Falha de S.Paulo x Folha de S.Paulo. Trata-se de um julgamento de fundamental importância para a defesa da liberdade de expressão.

O site Falha de S.Paulo, criado pelos irmãos Mário e Lino Bocchini, era uma divertida paródia do jornal Folha de S.Paulo e brincava com os recorrentes erros da publicação da família Frias. Porém, Lino e Mário mexeram em um verdadeiro vespeiro. Uma vez parodiada, a Folha convocou ao ataque seus advogados

Com apenas um mês do site no ar, a Folha de S.Paulo entrou na Justiça e conseguiu censurá-lo. O juiz, em julgamento de primeira instância, determinou o congelamento da página por “concorrência desleal” e por provocar suposta “confusão” no leitor.

Pois bem, não vejo como o Falha de S.Paulo pode ser acusado de concorrência desleal contra o gigante Folha de S.Paulo. O Falha não tinha qualquer remuneração: assinantes, venda ou qualquer outra forma de obtenção de lucro. E muito menos pretendia concorrer com os Frias, uma vez que seus públicos são completamente distintos.

O mais interessante é que a ação movida pelo jornal sequer apresentava o argumento de “concorrência desleal”. A ação contra a Falha era baseada no suposto uso indevido da marca do periódico e na confusão que poderia gerar nos seus leitores.

Este caminho também está totalmente equivocado. FalhaFolha não se confundem. A brincadeira com o nome é simplesmente um recurso para que a paródia seja facilmente identificável com o seu alvo. O leitor jamais iria entrar no site Falha de S.Paulo e acreditar que está acessando o site da Folha. Um é uma paródia, com brincadeiras de uma ironia fina; o outro, pretende ser um site de notícias “sérias”.

Um dos casos concretos na jurisprudência apresentado pelo jornal na sua peça inicial refere-se a uma empresa que utilizou-se do nome Dall para a venda de computadores, causando assim confusão com a marca Dell entre os consumidores. Porém, neste caso, o intuito de ambas é o mesmo, a comercialização de produtos de informática. Algo completamente distinto do caso Folha x Falha, onde uma parte é uma empresa de comunicação com fins comerciais e, a outra, uma paródia sem qualquer finalidade comercial.

“O site não possuía sequer um banner comercial. A tese de confusão entre os sites é um desrespeito com o próprio leitor da Folha de S.Paulo. Não vejo como um leitor entraria em um site que, por exemplo, associa a figura do Otávio Frias com o personagem Darth Vaider, e acreditar que estava acessando o site da Folha”, afirma Lino Bocchini.

No campo dos exemplos, prefiro citar o que foi apresentado pelo relator especial da ONU, Frank La Rue, durante visita ao Brasil. La Rue citou o jornal norte-americano The New York Times, que já sofreu diversas sátiras semelhantes à Falha de S.Paulo, como a feita pelo site Not New York Times, e nunca acionou judicialmente aqueles que o criticavam.

“É o mais lógico”, disse o relator. “É interessante esse uso da ironia que vocês fizeram usando as palavras folha e falha. Uma das formas de manifestação mais combatidas hoje em dia, e que deve ser defendida, é o jornalismo irônico”, defendeu La Rue.

Apesar da tentativa de manipulação dos fatos pelos advogados da Folha de S.Paulo, o pano de fundo do julgamento passa longe de questões como concorrência desleal, uso indevido de marca ou confusão no público leitor. Trata-se de uma disputa judicial onde a questão central é a liberdade de expressão. O direito à paródia e à sátira como forma de crítica, não importando o quão poderoso seja o seu alvo.

Leia a análise de Lino Bochini sobre os possíveis desdobramentos do caso:

Esse julgamento é importante porque, segundo o próprio juiz de primeira instância, trata-se de um caso inédito na Justiça brasileira. A disputa que está posta, é um suposto desejo da Folha de defender sua marca e, de nossa parte, a defesa da liberdade de expressão. A jurisprudência que se abrirá para um lado é importantíssima. Em caso de vitória da Folha, outras empresas que quiserem censurar blogueiros ou qualquer conteúdo na internet ganhará uma nova arma. Bastará usar o mesmo argumento vago de “uso indevido da marca” e pronto. A boa notícia é que, no caso de vitória nossa, a jurisprudência que se abre é a favor da coletividade. Ou seja, se outra empresa quiser censurar alguém por via judicial, terá mais dificuldades.

Essa questão coletiva é um dos motivos que tornou o caso tão visado. O outro é o que nos motivou a criar a falha: seu jornalismo extremamente partidário, travestido de imparcial. Isso não é contra lei. Mas denunciar a hipocrisia do jornal, que tem lado e claras preferências políticas, também é permitido. E é esse direito que queremos ter assegurado.

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9 comentários para "Assim a Folha de S.Paulo tenta silenciar seus críticos"

  1. Milton Mgg disse:

    Não é só a "Folha de São Paulo"o sistema globo igualmente. A globo-CBN fui impedido de me cadastrar, pois só assim eu podia fazer comentários e "eles" não gostam das minhas criticas.Nunca usei de palavras agressiva a moral de quem quer que fosse. Era a critica as suas inverdades sobre os mais diferentes assuntos. Fiz até ciente a direção que meus comentários não eram publicados. Agora resolveram bloquear, uma vergonha.

  2. Divino Ignacio Ribeiro Jr disse:

    Liberdade de expressão, desde que somente para o oligopólio da mídia… É uma manobra clara de censura.

  3. Que perigo é a liberdade de expressão dos outros…

  4. Arnaldo Kogut disse:

    Eu acho que a Folha de S. Paulo deveria ser investigada pela commissão da verdade, por causa de suas ligações com a ditadura militar.

  5. Pedro Simpson disse:

    Admirável a iniciativa dos irmãos Bocchini, com a paródia “FAlha de S.Paulo” . Lamentável a truculenta e deshumorada reação. Estranha a menção a 'concorrência desleal' pelo juiz da primeira instância. Desejo, desde já, sucesso aos Bocchini. Entretanto, no caso de insucesso, posso compartilhar com eles a marca 'Não Folha de São Paulo'.

  6. Claudio Recco disse:

    O discurso é um, mas a prática outra. Sem surpresa.

  7. Que vença a liberdade de expressão!

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