Vergonhas da ditadura espanhola reveladas

Relatório descoberto após meio século dá ‘bofetada’ na propaganda da ditadura franquista

Fonte: Wikimedia Commons

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O resumo dessas e outras notícias do dia aqui, em oito minutos.

06 de julho de 2018

VERGONHAS DA DITADURA ESPANHOLA REVELADAS

Foi um achado involuntário: a historiadora Rosa Ballester procurava dados antigos da OMS sobre a poliomelite na Espanha, mas acabou topando com um relatório desconhecido sobre a organização dos serviços de saúde no país em 1967. O autor era um médico chamado Fraser Brockington, uma figura importante na saúde pública, que visitou o país durante três meses naquele ano como consultor da OMS. “E ele descobriu a vergonha”, conta Ballester ao El País espanhol. A matéria classifica seu diagnóstico como uma “bofetada” diante da propaganda da ditadura franquista – e a tradução do relatório acaba de ser publicada na revista especializada Gaceta Sanitaria por outro pesquisador, Rodriguez Ocaña.

Há a descrição de várias deficiências, e o documento deixa claro que a situação da saúde espanhola era pior que em muitos outros países em desenvolvimento. Além de problemas de acesso a consultas com especialistas, pré-natal, proteção da infância e cuidados com doenças venéreas, havia “o fracasso da Escola Nacional de Saúde em relação à formação e pesquisa em Saúde Pública” e um “deserto estatístico” que o impedia de conhecer as verdadeiras informações. “Os princípios da medicina social e preventiva são evidentes por sua ausência”, escreveu o médico na época.

Ele criticava o fato de que Franco não havia criado um Ministério da Saúde, que havia pouco diálogo entre os ministérios e que o escalão central fazia “pouco ou nenhum esforço para coordenar sua política”. E alertava: era urgente resolver a situação. Mas, segundo Ocaña, as recomendações foram engavetadas.

PLANOS INTERFEREM NA AUTONOMIA DE MÉDICOS

Numa pesquisa feita com 604 ginecologistas e obstetras em São Paulo, 94% afirmaram que os planos de saúde interferem em sua autonomia. Uma das maiores intervenções é o não pagamento de procedimentos já realizados – no fim da gestação, por exemplo, quando se recomenda uma consulta por semana, eles só pagam uma a cada 15 dias. Há obstetras que acabam não aceitando gestantes de alto risco, que podem precisar de muito mais consultas do que o plano paga.

Também foram citadas restrições a doenças pré-existentes, a exames e a tratamentos, e até uma pressão para influenciar o tempo e o local de internação. A Amil e a NotreDame foram os planos com pior avaliação e, no geral, 66% avaliaram a qualidade dos serviços dos planos como regular, ruim ou péssima. Mas também avaliaram muito mal o SUS: 84% já atuaram no sistema (e 45% ainda atuam), e 83% consideram a qualidade do atendimento como regular, ruim ou péssima.

DESTRINCHANDO RAZÕES E CONSEQUÊNCIAS

As novas regras para planos com coparticipação e franquia devem aumentar os gastos, piorar o estado de saúde das pessoas e pressionar o SUS. Esses efeitos são explicados pelo economista Carlos Ocké-Reis em entrevista a Vitor Necchi e Patricia Fachin, do IHU-Online. O que está em jogo, afirma ele, é “reduzir ao máximo os planos individuais, justamente porque esse segmento do mercado é regulado”. A outra parte da estratégia é a aprovação de reajustes abusivos nesses últimos, o que acaba expulsando parte da clientela. “O plano está rescindindo unilateralmente os contratos, mesmo que nos planos individuais isso não seja possível”.

SAÚDE NA COPA

É comum que vários serviços parem na hora dos jogos do Brasil, mas a reportagem da BBC  mostra casos em que isso pode gerar problemas graves. Tanto no setor privado como no SUS, há pessoas tendo exames importantes desmarcados em cima hora e reagendados – não para o dia seguinte, mas para até várias semanas depois. Uma das entrevistadas nem recebeu aviso algum do laboratório privado Sérgio Franco e só descobriu que não faria suas três ultrassonografias quando deu com a cara na porta. Cabe processo, diz a matéria.

“É DE DAR INVEJA”

A sanitarista Sonia Fleury comenta, neste artigo, a eleição de López Obradorpara a presidência do México. Lembra que, entre suas propostas, está a do direito universal à saúde, com atenção médica e remédios gratuitos a todos, e que ele teve uma experiência em alguma medida próxima a isso enquanto governador do DF: “teve como secretária de Saúde Asa Cristina Laurell, sanitarista de grande prestígio internacional. Sua secretaria criou a Pensão Alimentar universal para idosos e a cobertura gratuita de saúde e medicamentos para todos que não estavam cobertos pelo Seguro Social. Essa experiência tão exitosa terminou sendo alçada a uma Lei Federal com cobertura de toda população idosa do México”.

ALERTA DA OMS

Diagnósticos imprecisos, erros médicos, tratamentos inapropriados ou desnecessários, práticas inadequadas ou pouco seguras e profissionais sem formação adequada: segundo a Organização, essas são características que existem em todos os países e dificultam avanços na saúde. Mas, como é de se esperar, a situação é pior nos de baixa e média renda, onde 10% das pessoas internadas correm o risco de pegar infecções hospitalares (nos de alta renda, são 7%).

SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA

Com 271 casos e 1.841 suspeitas de sarampo, o prefeito de Manaus decretou situação de emergência. Ontem foi confirmada a primeira morte pela doença: um bebê de sete meses que não havia sido vacinado (menores de seis meses não podem receber esta vacina). Também é investigada a morte de outro bebê, de nove meses. O decreto autoriza a aquisição imediata de bens e serviços.

Já em Campos dos Goytacazes (RJ), o problema é a chicungunya. Até terça-feira, eram 2.366 casos confirmados. Ontem foi decretada a situação de emergência, e agentes do Centro de Controle de Zoonoses estão autorizados a entrar em imóveis onde os proprietários estejam ausentes ou recusem o serviço. Funcionários da Vigilância e PMs vão entrar junto.

HEPATITES

O Ministério da Saúde anunciou um plano para acabar com a hepatite C até 2030: redução das etapas para diagnóstico, ampliação da testagem em grupos prioritários (pessoas com HIV/Aids, pacientes que fazem diálise, usuários de drogas e filhos de mães  que têm hepatite) e ampliar o tratamento. A pasta informa que quer tratar 19 mil pessoas este ano, 50 mil por ano entre 2019 e 2015 e 32 mil a partir de 2025. Mas o Estadão lembra que a quantidade de tratamentos previstos para este ano é menor que a prometida: antes, havia o compromisso de já ofertar no mínimo 50 mil tratamentos anuais a partir de 2018. O jornal também atribui o plano do Ministério às queixas de associações sobre a falta de medicamentos para novos pacientes.

E a hepatite A cresceu 73% – o aumento foi puxado pelo estado de São Paulo, que teve mais da metade dos novos casos. A maior parte dos pacientes são homens (80%) e 36% adquiriram por contato íntimo.

GENÉRICOS

Sua venda aumentou 65% em três anos, segundo a Anvisa, e eles foram prescritos em 35% das receitas emitidas entre fevereiro do ano passado e fevereiro deste ano. O presidente da Agência, Jarbas Barbosa, diz que o público aceita bem, mas médicos ainda desconfiam.

RESSARCIMENTO

Neste semestre os planos ressarciram ao SUS R$ 358 milhões pelas despesas que o Sistema teve com beneficiários dos planos. O montante equivale a 61% do que foi repassado em todo o ano passado.

AGENDA

Estão abertas as inscrições para apresentar trabalhos no seminário internacional Medicalização do parto. O evento vai ser nos dias 22 e 23 de outubro na Fiocruz (RJ).

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