Desdobramentos do MárciaGate

Será que Crivella vai cair por, entre outras coisas, sugerir facilidades para aliados na fila de cirurgias?

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Vereadores do Rio querem suspender o recesso para analisar denúncias de improbidade administrativa de Crivella. O resumo dessa e outras notícias do dia aqui, em seis minutos.

10 de julho de 2018

DESDOBRAMENTOS

Será que o prefeito de uma das maiores capitais do país vai cair por, entre outras coisas, sugerir facilidades para aliados na fila de cirurgias? Ontem, nove vereadores do Rio de Janeiro entraram com pedido para que a Câmara interrompa o recesso parlamentar para analisar as denúncias de improbidade administrativa contra Marcelo Crivella (PRB). Faltam oito assinaturas, sendo que a oposição garante que tem pelo menos mais quatro. Por outro lado, bastaria o presidente da Casa, Jorge Felippe (MDB) convocar a sessão extraordinária para que o assunto fosse debatido.

Enquanto isso, para evitar o impeachment Crivella negocia a Casa Civil justamente com o MDB. O partido, com nove cadeiras, é a maior bancada do legislativo carioca. O prefeito é alvo de reclamações dos vereadores alinhados por “não cumprir acordos” e exonerar indicados políticos sem explicações.

Já são três pedidos de impeachment protocolados na Câmara contra Crivella. Mas para passar, a cassação precisa ser votada em dois turnos e obter dois terços dos votos (ou seja, pelo menos 34, dos 51 vereadores precisam concordar). Um integrante da base aliada ouvido por O Globo disse que a adesão ao processo vai depender do apoio das ruas. Não custa lembrar: amanhã tem protesto na frente da sede da Prefeitura.

E o repórter Bruno Abbud, do grupo Globo, conta como se infiltrou no “Café da Comunhão” e conseguiu gravar a reunião secreta em que Crivella ofereceu aos pastores e líderes religiosos convidados por seu gabinete contatos para furar a fila do mutirão da catarata.

PRODUTO NACIONAL

O Instituto Butantan acaba de registrar a patente da vacina contra a dengue nos Estados Unidos. Isso significa que, em alguns anos, teremos no mercado a imunização contra os quatro vírus da doença desenvolvida pela instituição pública brasileira. Em entrevista ao Nexo, o cientista Alexander Precioso fala sobre o processo de pesquisa, que começou 18 anos atrás.

A HISTÓRIA DO “CLUBE”

Felipe Betim, no El País Brasiljuntou as peças da operação da Lava Jato no Rio que descortinou a corrupção de multinacionais no setor da saúde. Vendendo equipamentos e insumos, como próteses e órteses, as empresas Philips e Johnson & Johnson atuavam da mesma forma que empreiteiras – superfaturando contratos para abastecer campanhas e desvios diretos para contas em paraísos fiscais. O Ministério Público afirma que o esquema durou de 1996 até 2017. Mas seu auge foi justamente em 2015 e 2016, quando o Rio de Janeiro já estava em plena crise econômica e a saúde foi uma das áreas mais afetadas, com hospitais estaduais sendo municipalizados e UPAs fechando as portas devido ao atraso no pagamento de funcionários.

Ao todo, 37 empresas são investigadas. Elas formavam o que o MP apelidou de “clube do pregão internacional”, cartel comandado pelos empresários Miguel Iskin e Gustavo Estellita e pelo ex-secretário estadual de saúde, Sérgio Côrtes, junto com o ex-governador Sérgio Cabral. No “clube” as empresas eram avisadas dos produtos que o setor público precisava, e as concorrentes fora do clube eram desclassificadas das licitações. Para dar uma aparência de legalidade, havia até firmas laranjas (Rizzi, Medlopes e Agamed). As “comissões” pagas pelo setor privado chegavam à impressionante cifra de 40% do valor dos contratos. É o caso, segundo o MP, do contrato de R$ 300 milhões assinado pela fabricante alemã de equipamentos médicos Maquet.

TOYOTISMO

Em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, o Ministério da Saúde está adotando nos hospitais públicos e conveniados ao SUS um sistema chamado Lean. Criado na Toyota na década de 1940, visa organizar fluxos. A ideia é que desafogue as filas nas emergências, ajudando a fazer seleção de usuários graves dos de baixo risco, que segundo a matéria da Folha, seriam encaminhados para a atenção básica. O sistema foi implantado no hospital de urgências de Goiânia e, segundo a unidade, reduziu a espera por atendimento na emergência em 55% em seis meses, chegando a “apenas” 3,27 horas.

O Ministério pretende estender o uso do Lean para cem hospitais até 2021. Muitos gestores temem o efeito rebote: caso fiquem mais rápidas, estas emergências tendem a se destacar das demais e atrair mais gente. O Conass, que representa os secretários estaduais de saúde, também está interessado em uma parceria com o Sírio Libanês para levar o sistema a mais hospitais.

ENQUANTO ISSO…

Um panorama mais feijão com arroz na saúde pública. Em 2017, as picadas de escorpião mataram mais do que as picadas de cobras: foram 184 mortes contra 105, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Há cinco anos, foram apenas 70 óbitos decorrentes do artrópode. O que mudou de lá para cá? Não é fácil chegar à resposta, mas segundo a BBC Brasil, muitos lugares não contam com soro antiescorpiônico e os profissionais de saúde têm de descobrir de supetão onde há, ao invés de terem claro o serviço de contrarreferência para onde encaminhar o paciente. Outra causa, mais estrutural, é a ocupação irregular e desordenada nas cidades, em locais sem saneamento e coleta de lixo. A dificuldade de comunicação com crianças pequenas, que junto com idosos são os alvos mais vulneráveis aos efeitos das picadas, é outro elemento que pode levar à demora em buscar socorro. Em 2018, o Ministério deve distribuir 62 mil frascos do soro antiescorpiônico, produzido na maior parte (70%) pelo Instituto Butantan e, em menor parte, pelo Instituto Vital Brazil.

GUINADA CONSERVADORA

Donald Trump anunciou ontem o novo nome para a Suprema Corte dos Estados Unidos.  E o critério-chave da indicação, segundo o El País, é a posição do candidato sobre o aborto. Brett Kavanaugh é um juiz federal que, recentemente, votou contra a concessão de permissão de aborto para uma imigrante sem documentos que estava em um centro de detenção. Caso aprovado pelo Senado, Kavanaugh desequilibrará o tribunal para a direita: a Corte terá cinco membros conservadores e quatro progressistas.

ESTAMOS DE OLHO

New York Times abordou no último domingo como o governo Trump atuou em maio na Assembleia Mundial da Saúde, principal fórum de decisão da OMS, para barrar uma resolução que visava recomendar a amamentação. Os jornais brasileiros estão repercutindo a reportagem. O furo, no entanto, foi do site O Joio e o Trigo, que no começo de junho relatou toda a movimentação estadunidense na Assembleia.

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