Clientelismo 2.0

Marcelo Crivella mostra que certas práticas não mudam

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 O resumo dessa e outras notícias do dia aqui, em dez minutos.

09 de julho de 2018

CLIENTELISMO 2.0

O prefeito do Rio Marcelo Crivella (PRB) concluiu as atualizações de clientelismo. Marcou, por mensagem de celular, na sede da Prefeitura um evento batizado de ‘Café da Comunhão’. Na lista de convidados, 250 pastores e líderes religiosos, instados a levar “por escrito” reivindicações que seu gabinete trataria de resolver. Antes de começar, uma assessora de Crivella pediu no microfone que nenhum dos presentes usasse o celular.

“Vamos aproveitar esse tempo em que nós estamos na Prefeitura para arrumar nossas igrejas”, disse Crivella. E propôs: “Nós estamos fazendo o mutirão da catarata. Contratei 15 mil cirurgias até o final do ano. Então se vocês tiverem alguém da igreja com problema de catarata (…). Por favor fala com a Márcia ou com Marquinhos. É só conversar com a Márcia que ela vai anotar, encaminhar e daqui uma semana ou duas a gente está operando.”

O vazamento gerou indignação. E memes. A imprensa foi atrás de pessoas que esperam há anos pela cirurgia na fila do SUS. O Ministério Público está investigando o caso. A oposição pede a saída do prefeito.

E na quarta-feira, às 10h, os cariocas têm um encontro marcado com ela. ‘Vamos falar com a Márcia?’ é o mote do protesto que acontece em frente à Prefeitura, na Cidade Nova.

PÓLIO

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal solicitou ao Ministério da Saúde informações sobre a queda de cobertura vacinal contra a poliomielite no Brasil. Aconteceu na segunda passada, quando um ofício foi enviado ao secretário de vigilância em saúde Osnei Okumoto, após notícias de que pelo menos 312 cidades têm menos de 50% das crianças protegidas contra a doença (quando o índice recomendado pela OMS é de, no mínimo, 95%). O MPF quer saber quais são, por que a cobertura vacinal está baixa e o que a pasta prevê para solucionar o problema.

Na sexta (06/07), outro ofício foi enviado, desta vez aos prefeitos dessas cidades, pedindo que adotem imediatamente as medidas necessárias para aumentar o índice de imunização, como estender o horário de funcionamento das salas de vacina e busca ativa por crianças com carteira de vacinação atrasada. Recomendou ainda que os municípios cumpram pactuação feita com Ministério e secretarias estaduais de saúde e façam o registro nominal das crianças vacinadas. Hoje, em muitos lugares, esse controle ainda é feito por doses de vacina.

Mauro Junqueira, do Conasems – que representa os secretários municipais de saúde – afirmou ao Estadão que um dos problemas é que os frascos vem com mais de 50 doses de vacinas, o que, segundo ele, faz com que o gestor prefira vacinar várias crianças de uma tacada só ao invés de vacinar uma a uma, conforme buscam as unidades de saúde, por exemplo. Mas disse que vai orientar o contrário, por ser “preferível, por enquanto, desperdiçar o insumo a ser chamado a atenção sobre isso, do que deixar uma criança sem proteção”.

Os prefeitos podem ser acusados de improbidade administrativa e desrespeito do Estatuto da Criança e do Adolescente caso descumpram a recomendação do MPF.

SARAMPO

O aparecimento de centenas de casos de sarampo é um mergulho na “idade das trevas”, segundo a virologista Clarissa Damaso, professora da UFRJ e membro de um comitê da OMS sobre varíola. Segundo ela, o retorno da doença – erradicada há dois anos – se deve a falhas no Programa Nacional de Imunização, como a falta de vigilância adequada das coberturas vacinais, e a um clima de falta de respeito por doenças como sarampo e pólio na sociedade. “Não existe doença do passado. Existe doença controlada com vacina. Vivemos cercados por micro-organismos causadores de doenças à espera de oportunidade. A baixa cobertura vacinal é essa chance. Se deixa de existir o que a ciência chama de imunidade de rebanho [quando o índice de cobertura vacinal é menor do que 95%], a doença volta. Vacinar é preciso”, disse aoGlobo.

Estadão conta a peregrinação de Ingrid, 21 anos, diagnosticada com sarampo em junho. Ao procurar atendimento no Copa D´Or, a jovem primeiro foi medicada com antitérmico e liberada; depois diagnosticada com zika e, só depois de se deslocar do Rio, onde mora, para São Paulo, onde a família vive, foi internada em isolamento até que o resultado positivo para sarampo saísse. Quando criança, ela tomou as doses de vacina contra a doença, de acordo com a família.

FAKE NEWS

Assim como a Radis de julho (revista da Fiocruz), a capa da Veja aborda esta semana os efeitos dos boatos de internet na saúde. Vídeos e notícias afirmam que a cura do diabetes está ao alcance de todos, desde que consumam preparados com quiabo, ou da artrite com infusão de ervas. Ou, ainda, afirmam que a cura do câncer existe há anos. A reportagem fez um levantamento de três mil notícias sobre saúde em seis páginas do Facebook famosas por divulgar fake news. Entre elas, o Cura pela Natureza (3,5 milhões de seguidores), que divulga dietas capazes de “matar” o câncer e “destruir” diabetes. O pior é que o site está hospedado no portal R7 (que, procurado pela reportagem, não comentou a parceria).

As notícias falsas que envolvem vacinação são conhecidas e, aparentemente, têm ganhado audiência no Brasil, que tem visto seus índices de imunização contra várias doenças caírem. O boato mais famoso diz que vacinas causam autismo – e, infelizmente, partiu de uma pesquisa divulgada pela revista científica The Lancet que se retratou sobre a publicação do que caracterizou como um estudo “totalmente falso”. Mas é a mensagem original, e não a retratação, que circula freneticamente das redes sociais e nos grupos de WhatsApp.

PIOR QUE A FIFA

“A medicina moderna é hoje uma grande ameaça à saúde pública.” A crítica é de um médico, o cardiologista Aseem Malhotra, criador do movimento Choosing Wisely, que atua contra procedimentos desnecessários no Reino Unido. Entrevistado pela Folha, ele argumentou que, ao invés de focar na prevenção de doenças, baseando-se em evidências como mudanças na dieta, por exemplo, os médicos prescrevem muitos medicamentos – e isso é grave, já que erros de prescrição são a terceira maior causa de mortes no mundo, atrás de doença cardíaca e câncer.

É um cenário, aponta Malhotra, de grande influência comercial, que abarca o financiamento da pesquisa, a publicação de relatórios tendenciosos em periódicos, reportagens igualmente tendenciosas na mídia, e por aí vai (pra lembrar: essa reportagem do Outra Saúde descreveu os problemas relacionados ao conflito de interesses na pesquisa de remédios).

Diz ele: “O governo tem a responsabilidade de proteger os cidadãos das manipulações e excessos da indústria, mas o verdadeiro escândalo é que aqueles com responsabilidade para com os pacientes e integridade científica, como instituições acadêmicas, revistas médicas e médicos influentes, são coniventes com a indústria para obter ganhos financeiros. A American Heart Association e a European Society of Cardiology, por exemplo, que recebem enormes somas de patrocínio da indústria, fazem a Fifa parecer um anjo.”

EVENTO PÚBLICO

Falando em patrocínios, o Congresso Nacional de Secretarias Municipais de Saúde conta com Bayer, Sanofi e Biogen. Acontece entre os dias 25 e 27 de julho.

DUAS RESPOSTAS

Na seção Tendências e Debates da Folha, a pergunta do sábado foi: ‘A nova regulamentação de coparticipação e franquia dos planos de saúde é correta?’ O não foi dado pela presidente do Conselho Diretor do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor Marilena Lazzarini:

“Corretores vão acenar com o desconto supostamente vantajoso, mas não será nada fácil para as pessoas compreenderem o que de fato estão comprando. A senhora prefere franquia ‘acumulada’ ou ‘limitada por acesso’? Qual a diferença?Na primeira, se a senhora gastar R$ 1,5 mil com procedimentos médicos, durante o período de 12 meses, e o valor da franquia contratada for de R$ 1 mil, o plano só vai arcar com R$ 500. Na segunda, o valor adicional a ser pago será estipulado a cada exame, procedimento ou internação, e não por ano.

E para o senhor, interessa um plano de coparticipação? Saiba que o contrato pode prever o pagamento de até 40% do valor do procedimento. Além do preço da mensalidade (por exemplo, R$ 500) se um exame custar R$ 4 mil, o senhor terá que pagar ao plano R$ 1,6 mil, parcelados em quatro vezes. Mas, se o contrato for coletivo, pode ser cobrado até 60% do valor de cada procedimento.”

E o sim foi defendido pelo presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde Reinaldo Sheibe: “A adoção de coparticipação tem crescido no mundo todo, principalmente nos planos corporativos. Com essa tendência, a resolução da ANS veio parametrizar e estabelecer limites. Mecanismos financeiros de regulação são reconhecidos por estimular a participação e a fiscalização do beneficiário de plano de saúde que passa a participar mais das tomadas de decisões junto aos médicos, laboratórios e hospitais.Possibilitam, ainda, entender melhor a real necessidade de certos exames e tratamentos —lembrando que o Brasil é campeão mundial de utilização de ressonância magnética, um triste exemplo de desperdício.Tais modelos ajudam a criar consciência no cidadão, que passa a ser o protagonista da gestão de sua própria saúde e se torna fiscal dos serviços prestados. A ideia, portanto, não é restringir o acesso à saúde, mas sim ampliar, à medida que se combatem custos desnecessários, más práticas e fraudes.Certamente, isso trará resultados positivos também ao empresário, que não tinha condições de ofertar plano de saúde a seus funcionários e agora terá novas opções, que talvez se encaixem em seu poder aquisitivo.”

ABRASCÃO

O maior congresso da Saúde Coletiva anunciou duas novidades nos últimos dias. A ex-presidente do Chile, Michele Bachelet, vai ser a conferencista. E os participantes podem baixar o aplicativo do evento para dar conta da programação, montando sua própria agenda. O app também dá avisos úteis, como mudanças nas mesas e horários dos transportes no campus da Fiocruz, onde acontece a maior parte do Abrascão.

AGENDA

Hoje, às 19h, a Associação Paulista de Saúde Pública organiza uma reuniãopreparatória para a Conferência Nacional Aberta de Luta Contra o Golpe, marcada para os dias 21 e 22 de julho. Acontece na Rua Cardeal Arcoverde, 1.749, n.78, em São Paulo.

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