Vacinas: quem deve receber primeiro?

Países mais populosos ou mais afetados? Pessoas dos grupos de risco ou potenciais espalhadores?

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Conforme uma vacina viável contra a covid-19 parece se tornar uma realidade mais próxima, cresce a necessidade de discutir (e definir) estratégias para distribuir as doses de modo a dar cabo da pandemia o quanto antes. Isso é mais complicado do que parece, uma vez que, no curto prazo, não haverá vacina para todos. A Science publicou ontem o relatório de um grupo de 19 especialistas em saúde pública que descreve o que chamam de Modelo de Prioridade Justa. Eles criticam alguns planos sugeridos anteriormente, inclusive duas propostas da OMS – uma que previa a distribuição para cada país de acordo com o tamanho de sua população, e o outra que definia prioridade para profissionais de saúde, idosos e pessoas com doenças que sejam fatores de risco para a covid-19.

Os autores argumentam que tomar o tamanho das populações como base não seria suficiente para corrigir distorções, porque países mais populosos não são necessariamente os que mais sofrem com o descontrole da pandemia. Dizem ainda que os países mais ricos são os que têm mais profissionais de saúde e idosos, e que colocar esses grupos na frente também tenderia a beneficiar as nações de alta renda. O modelo defendido por eles se divide em três fases: na primeira, seriam priorizados países onde a vacina evitaria o maior número de mortes prematuras; na segunda, aqueles que iriam reduzir mais a pobreza e evitariam maior perda de renda nacional bruta a cada dose da vacina. A terceira fase teria como foco a redução do contágio na comunidade, e aí teriam prioridade, inicialmente, os locais com maior transmissão.

Agora, pensando na distribuição dentro de um país, também não há muita unanimidade. Embora priorizar grupos de risco pareça fazer sentido, não necessariamente será a melhor escolha. Pesquisadores da Universidade Johns Hopkins University e da Universidade do Sul da Califórnia explicam, no site The Conversation, que proteger os mais frágeis tem sido um guia em políticas públicas pelo menos desde a pandemia de influenza nos anos 1950 – mas, no caso da gripe, estudos têm demonstrado que a melhor forma de proteger idosos é vacinar crianças, os principais propagadores dessa doença. Para a covid-19, defendem eles, também deveriam ser priorizados os prováveis transmissores assintomáticos, especialmente os que trabalham em contato com muita gente: “Depois de cuidar de trabalhadores essenciais, a vacinação deve ser dada aos maiores transmissores do vírus – principalmente os jovens – e só então aos mais vulneráveis. (…) Por mais contraintuitiva que essa estratégia possa parecer, muitas evidências mostram que seria a abordagem certa”, resumem.

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