Vacinas: a terceira dose e a força do SUS

Ministério da Saúde muda protocolo e estende a todos o reforço da imunização. Há 10 meses, a primeira dose era aplicada no país. Apesar da negligência governamental, PNI provou eficiência e capilaridade

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Foi anunciada, ontem, pelo ministério da Saúde, a oferta da terceira dose de vacina contra covid-19 a todos os brasileiros com mais de 18 anos. Há, ainda, outra mudança, relativa ao protocolo com o imunizante da Janssen: agora, a recomendação é de que sejam ministradas duas doses, com intervalo de dois meses. O ministério também indica que a dose de reforço seja feita com uma vacina diferente da utilizada no primeiro ciclo – e dá preferência às da Pfizer/BioNTech. A Anvisa anunciou, em nota, que não foi avisada sobre a decisão.

O anúncio foi feito algumas horas depois de as capas dos jornais estamparem a notícia de que o Brasil ultrapassou os Estados Unidos em porcentagem da população totalmente imunizada. O sucesso da vacinação no país, à revelia dos impropérios presidenciais, é um indicativo de como poderíamos ter enfrentado a pandemia de forma exemplar, utilizando a abrangência e capilaridade do SUS.

Os números são expressivos. Podemos continuar a comparação feita com os EUA, cujo sistema de saúde é privado e inacessível, mas que contou com investimento pesado do governo em vacinas e um grande esforço de convencimento da população. A primeira dose em terras estadunidenses foi aplicada em 14 de dezembro do ano passado, ainda sob Trump; no Brasil, a enfermeira Mônica Calazans foi a primeira a receber a dose de CoronaVac, em 17 de janeiro. Os EUA correram rápido na frente: em apenas 85 dias, alcançaram os 20% da população vacinada com ao menos uma dose. No Brasil, o atraso das negociações do governo com farmacêuticas pesou: foram 18 semanas para conseguir alcançar um quinto de vacinados, em 26/5. 

A partir daí, com a produção mais veloz da Oxford/AstraZeneca na Fiocruz e a chegada de novas vacinas como a Pfizer/BioNTech e a Janssen, a imunização acelerou. Em apenas 46 dias o SUS vacinou mais 20% da população, e foram alcançados os 40% totais, em 11/7. A essa altura, os EUA já contavam com mais de 55% da população vacinada, mas o ritmo por lá começou a minguar. Já se passaram 128 dias desde então, e apenas 67,5% dos norte-americanos tomaram alguma dose – contra quase 76% no Brasil.

EUA e Brasil foram dois dos piores países do mundo no enfrentamento da pandemia – e o negacionismo e a inaptidão continuam custando vidas e destruindo a economia por aqui. Mas o pesadelo da pandemia parece estar começando a chegar ao fim: desde 19/6 as mortes por covid caem, e estão no patamar de cerca de 250 por dia. Nos EUA, após um período de calmaria no verão, os óbitos voltaram a subir e estão em torno de 1.100 diários. Europa também vê um espalhamento da doença, já na entrada para o inverno. Pode ser, portanto, uma boa hora para começar a distribuir doses de reforço da vacina por aqui.

Imagem: Joaquin Sarmiento/AFP

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