O pesadelo da covid longa, segundo médica inglesa

Em relato impressionante sobre suas dores e alucinações, paciente chama atenção para o descuido com a proteção dos servidores de saúde. Dezenas de milhares foram acometidos da doença, que segue negligenciada na maior parte do mundo

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Após um teste positivo para covid, a médica inglesa Kelly Fearnley, recém-formada, conta o pesadelo subsequente da sua evolução para uma covid longa. “A fase aguda da doença durou duas semanas e foi comparável a uma gripe de leve a moderada”, relata ela na revista Medical News Today. “Como uma jovem de 35 anos, em forma e saudável, sem comorbidades, eu ingenuamente esperava me recuperar rapidamente”. Ao fim da quarta semana, porém, tentou mas não conseguiu trabalhar, e sua condição deteriorou rapidamente.

Com taquicardia de 140 batimentos por minuto, sem fôlego, passou a sofrer dores cíclicas de alfinetadas nos membros e tremores violentos no corpo. Uma sede insaciável, vômitos e falta de ar a acometiam em ataques diários, de até 14 horas por vez. Tremia a noite inteira. De dezembro de 2020 a março de 2021, o quadro se agravou; Kelly foi tomada por dor de ouvido violenta, alucinações auditivas e ruídos cerebrais profundos. Ela afinal se recuperou, exceto por sintomas leves, após dez meses de horror. E acha inaceitável que o sistema público inglês ainda não proteja melhor seus profissionais de saúde, além de simples máscaras e luvas, embora 122 mil deles tenham sido afastados por estarem afetados pela covid longa.

Essa pandemia “particular” está provocando grande tensão dentro do NHS (Sistema Nacional de Saúde na sigla inglesa), porque além da saúde – ameaçando seriamente a prestação do atendimento – também é um problema trabalhista, que estaria custando dezenas de milhões de libras esterlinas. Os servidores de saúde são o grupo mais afetado pela covid longa, conforme os dados do Escritório Nacional de Estatística. Os professores vêm em seguida, com 114 mil doentes. Há 1,1 milhão de pessoas no Reino Unido nessa condição.

A covid longa inglesa virou pauta de pesquisa acadêmica, e um resultado recente parece dar certa razão a Kelly, quando reclama da proteção insuficiente aos servidores de saúde: aponta que o risco das sequelas de longo prazo varia de acordo com a gravidade da infecção inicial sofrida pelos pacientes.

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