Uma outra abordagem

E se as testagens começassem a mirar assintomáticos?

Reprodução / TV Brasil
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Com a quase eliminação do coronavírus em seu território, a China parece estar conseguindo testar ainda mais amplamente, e por aqui observamos o quanto são relevantes os casos assintomáticos.  Ontem, por exemplo, foi registrado apenas um caso sintomático, enquanto 16 pessoas sem sintomas testaram positivo.

Esse tipo de achado faz pensar sobre as melhores maneiras de usar os quase sempre escassos testes nos países que ainda estão no sufoco. Na Vox, a reportagem de Umair Irfan traz a incômoda pergunta: deveríamos nos preocupar em testar casos leves? A questão é contra-intuitiva, mas tem uma interessante argumentação. É que testagem em massa importa muito para identificar casos e impedir que o vírus se espalhe (do ponto de vista clínico não faz tanta diferença, já que não existe tratamento); por outro lado, incontáveis pessoas sem sintomas estão por aí ajudando a espalhar o vírus, e obviamente não vão procurar serviços de saúde para obter um diagnóstico.

Segundo os pesquisadores entrevistados, pessoas com sintomas, mesmo leves, já estão infectadas há alguns dias e possivelmente também passaram o vírus adiante. Elas não deveriam ser testadas, mas ficar isoladas. Eles defendem que os testes ‘economizados’ dessa maneira deveriam ser voltados para encontrar aqueles que, mesmo sem sintomas, têm grandes chances de contaminar e de ser contaminados: os contatos dos pacientes que testaram positivo, mesmo que eles não apresentem sintoma algum; trabalhadores que ficam expostos ao contato diário com muita gente, como profissionais de saúde, caixas de supermercado e entregadores; pessoas que vivem e circulam em casas de repouso, prisões e instalações para imigrantes. Além disso, pessoas que têm mais chances de desenvolver complicações, como idosos em geral e com doenças pré-existentes, também deveriam ser testados sem sintomas, para que fossem monitorados de perto.

Nada disso resolveria o problema de não entender a real prevalência do vírus em cada local, algo que dificulta a tomada de decisões sobre endurecimento ou flexibilização das quarentenas, por exemplo. Para isso, a solução talvez esteja nas pesquisas por amostragem, testando (sintomáticos e assintomáticos) grupos da população. Ainda que tomado a partir de amostras, o resultado de levantamentos desse tipo provavelmente é bem mais exato do que aquele obtido pela testagem de todas as pessoas com sintomas.

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