Os caminhos do coronavírus

Patógeno já circulava na Europa e nos Estados Unidos em dezembro, antes do primeiro caso registrado na China

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Alguns pesquisadores estavam na expectativa de descobrir que o novo coronavírus estivesse circulando muitos meses antes de dezembro, que tivesse infectado muito mais gente silenciosamente e que, portanto, algumas populações tivessem imunidade. Mas uma nova análise genética do SARS-CoV-2 apresentada por cientistas britânicos mostra que não. Eles observaram amostras retiradas de 7,6 mil pacientes em todo o mundo e descobriram que o vírus, de fato, circula apenas desde o fim do ano passado, e deve ter se espalhado muito rapidamente depois da primeira infecção.

No trabalho, revisado por pares e publicado na Infection, Genetics, Evolution, é apresentada a descoberta de várias mutações – 200 só no Reino Unido. Isso não quer dizer que o vírus esteja se tornando pior, mas os relatórios sobre mutações podem ser especialmente importantes para a pesquisa de vacinas. Afinal, elas precisam atingir as partes do vírus que não mudam muito ao longo do tempo.  Também foram apontadas evidências que reforçam as suspeitas de que o vírus estava infectando pessoas na Europa, EUA e outros países semanas antes de seus primeiros casos oficiais serem registrados na China. Segundo os autores, é impossível encontrar o ‘paciente zero’ em qualquer país.

Aliás, a OMS recomendou ontem que os países passem um pente fino nos seus casos de pneumonias ‘suspeitas’ do fim de 2019, analisando amostras de pacientes para identificar possivelmente o novo coronavírus. Isso porque, como dissemos ontem, um médico francês decidiu testar seus pacientes antigos e descobriu que um homem internado em Paris em dezembro tinha coronaǘirus – antes que a China anunciasse seu primeiro caso, e um mês antes do primeiro caso oficial na França. O caso é ainda mais instigante porque o homem não tinha relação nenhuma com a China nem tinha viajado recentemente, o que sugere que a doença já estava se espalhando entre a população francesa àquela altura.

Para ler com calma: uma compilação das principais descobertas já feitas sobre o SARS-CoV-2 (e dos principais buracos que ainda precisam ser preenchidos) está neste longo artigo da Nature. O texto fala da descoberta dos primeiros coronavírus, há décadas, conta que na verdade eles devem circular há milênios e explica as hipóteses sobre como podem ter passado a infectar humanos. Além, é claro, de abordar o que se pensa até agora sobre o futuro do novo coronavírus. Um dos pontos diz respeito às mutações: parte da comunidade científica espera que elas tornem o vírus mais brando, ficando ao mesmo tempo mais infeccioso e menos mortal. Assim, mais gente ficaria infectada (bom para o vírus) e menos gente morreria (bom para as pessoas). Mas, até agora, não há nenhum sinal de que isso possa mesmo acontecer.

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