Pará se junta ao Maranhão e estabelece lockdown

Enquanto isso, MPs do Amazonas e do Rio atuam para que os bloqueios sejam decretados nesses estados

Foto: Prefeitura de São Luís
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No Maranhão, o primeiro dia de lockdown teve saldo positivo. As coisas parecem estar bem organizadas por lá. A Polícia Militar instalou 50 pontos de bloqueio nas quatro cidades da ilha de São Luís contempladas pela medida. Para passar por eles, os trabalhadores de serviços essenciais tiveram que mostrar uma declaração fornecida pelas empresas e emitida em papel timbrado. Também é permitido circular de carro dentro das cidades para comprar alimentos e medicamentos ou buscar atendimento de saúde. Pontos movimentados da capital tiveram menor circulação, segundo avaliação do governo do estado. A exceção ficou por conta da desesperada busca por informações e tentativas de saque do auxílio emergencial de R$ 600 em agências da Caixa Econômica Federal e lotéricas. Foram registradas grandes filas, mas o governo informou que conseguiu organizar melhor esses pontos de aglomeração. O funcionamento do porto e das indústrias que trabalham em turnos de 24 horas não foi atingido pelo lockdown, que tem prazo de dez dias.

No Pará, Helder Barbalho (MDB) e prefeitos decretaram a suspensão de todas as atividades não essenciais em Belém e nove cidades próximas: Ananindeua, Marituba, Benevides, Castanhal, Santa Izabel do Pará, Santa Bárbara do Pará, Breves, Vigia e Santo Antônio do Tauá. O primeiro lockdown que parte do poder Executivo começa amanhã e dura dez dias. Mas terá uma “fase educativa” até domingo (10), quando as multas – de R$ 150 para pessoas e de até R$ 50 mil para empresas – não serão aplicadas. Calha de pegar justamente o Dia das Mães, quando a circulação deve aumentar… 

O decreto proíbe as visitas a casas e prédios, com exceção dos trabalhadores de serviços essenciais. Além disso, só permite a circulação nas ruas de quem busca atendimento e precisa comprar alimentos, medicamentos, produtos de limpeza e higiene pessoal. Os estabelecimentos comerciais devem controlar a entrada das pessoas, limitado a um membro por família e respeitando a lotação máxima de 50% da sua capacidade. Fica também proibida a circulação entre cidades, com exceção de profissionais das atividades essenciais ou pessoas em busca de tratamento de saúde, mediante comprovação. O Pará registra uma taxa de ocupação de 97,38% de leitos de UTI, segundo a secretaria estadual de saúde.

No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) estendeu a quarentena no estado até o dia 20 de maio e estabeleceu – em conjunto com a Prefeitura – regras mais duras para Fortaleza. Agora, a capital cearense segue outras, como Recife e Salvador, e passa a proibir o acesso às praias. Também não será permitido circular em praças e algumas vias serão bloqueadas na tentativa de restringir o número de carros nas ruas. O prefeito Roberto Cláudio (PDT) ficou de publicar novos parâmetros de funcionamento para supermercados, farmácias, etc. As regras começam a valer a partir da sexta-feira (8). 

É preciso ver o quão parecidas essas restrições serão em relação ao lockdown, já que não faltam sinais de que a capital precisa de um. Por lá, estão sendo instaladas câmaras frigoríficas em UPAs para guardar corpos das vítimas da covid-19. Segundo a Prefeitura, as agências funerárias têm demorado para fazer a retirada dos corpos. Mas o Sindicato das Funerárias do Ceará rebate, apontando um problema de fluxo, com aumento de 30% nos funerais desde o início da pandemia.

No Amazonas, o Ministério Público estadual ingressou ontem com uma ação civil pública para que a prefeitura e governo decretem lockdown em Manaus. O bloqueio duraria dez dias, no mínimo. O MP pede que, junto com o fechamento, haja uma limitação do número de pessoas nos estabelecimentos considerados essenciais, dentre outras medidas. Também é solicitado o veto absoluto às carreatas da morte. A ação é assinada por 11 promotores, que pedem que a Justiça decida até hoje sobre o bloqueio. 

Enquanto isso, o governador Wilson Lima (PSC) prefere insistir em um plano para reabrir indústria e comércio a partir de 14 de maio. A decisão foi tomada com base em um “estudo” coordenado pelo economista e comentarista de rádio e TV, Samy Dana. Foi feito pela empresa Easynvest, que se descreve como “a maior plataforma de investimentos independente do Brasil”. A base para a reabertura leva em conta a crença de que o pico de casos ficou para trás, em abril. Para contabilizar a capacidade de leitos do SUS e do setor privado no estado, Dana admite ter consultado o Data-SUS sem ter checado com o próprio governo estadual se os dados ali estão atualizados. “Acho que a gente deve esperar um pouco mais. Ver o comportamento, o que pode acontecer. Fazer relaxamento nesse momento é inoportuno. Vai provocar um rebote na curva. Ou seja, diminuir a infecção e depois aumentar novamente a curva”, alertou Bernardino Albuquerque, presidente do Comitê Central de Combate à Covid-19 da UFAM, ao site Amazônia Real.

No Rio, o Ministério Público estadual pediu que o governo providencie até sexta-feira um estudo sobre a decretação do lockdown. Mas na semana passada, um conselho composto por profissionais renomados de saúde já havia recomendado o bloqueio. Ontem, eles entregaram uma carta ao governador Wilson Witzel (PSC). O político tem se mostrado escorregadio nesse sentido. Em entrevista ao Roda Viva, ele defendeu que o bloqueio total é uma decisão que deve partir… do Judiciário. Ontem, ele se restringiu a anunciar que vai aumentar a fiscalização e mandar a PM punir quem está descumprindo as medidas de isolamento social. 

Pausa para um comentário: no Grajaú, na mesmíssima rua onde o governador tem casa e uma patrulha da Polícia Militar fica eternamente estacionada na esquina guardando esse ‘patrimônio’, dois bares têm funcionado normalmente no fim de semana, com mesas na calçada e tudo. No mesmo bairro, exatamente em frente a um posto policial, há semanas um salão de beleza atende clientes. Enquanto isso, os policiais ficam sentados, conversando com as máscaras no pescoço. Com o anúncio de ontem, Witzel só fez confirmar que, antes, era uma quarentena para inglês ver. Segundo o próprio governador, a adesão tem sido de apenas 40% da população.

Em São Paulo, o nível de 48% de adesão ao isolamento foi ontem caracterizado como “inaceitável” pelo infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus do estado. O índice foi detectado mesmo após a vigência dos bloqueios viários. “Não é possível trabalhar com este número”, disse Uip, alertando que o colapso do sistema de saúde pode acontecer em um mês. “As pessoas continuam a não acreditar no vírus”, constatou.

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