Tumores de proveta para ajudar a conter o câncer

Criados em laboratório, “avatares” da doença simulam as reações dos pacientes e abrem espaço para pesquisa mais ampla. Podem sugerir tratamentos mais eficientes para doença que vem aumentando nas últimas décadas em todo o mundo

.

O combate ao câncer avança lentamente, estimulando o surgimento de pesquisas e ideias criativas – como a dos xenoenxertos e organoides, que são versões cultivadas em laboratório de tumores reais, isolados de pacientes de câncer. Imagina-se que essas entidades biológicas podem imitar a reação dos tumores reais a medicamentos, e sugerir quais deles poderão ser usados para tratar pacientes. No caso dos xenoenxertos, os tecidos biológicos obtidos dos tumores são implantados em camundongos. No caso dos organoides, os tecidos tumorais são cultivados em placas de plástico.

Cerca de 45 medicamentos foram inicialmente testados nesses dois modelos artificiais da doença, de acordo com reportagem da revista Wired. Os resultados pareceram animadores para os cientistas, que usando organoide de um paciente encontraram uma droga de resultado promissor. Usada posteriormente no paciente, ela eliminou células cancerígenas do seu organismo. A equipe aprimorou o estudo e agora acredita que xenoenxertos e organoides indicam com precisão como os cânceres respondem a uma droga em humanos.

Os medicamentos foram experimentados em cânceres diversos e perigosos, que tendem a ser resistentes e disseminar metástases por órgãos vitais. A verificação foi feita examinando um expressivo conjunto de xenoenxertos e organoides de tumores de pacientes reais, sistematizado pela equipe em um “banco de dados” tumoral. E após a análise dos dados, recomendou um tratamento usado em uma paciente com câncer de mama. Esse é o grande desafio: achar um tratamento adequado ao paciente. Usualmente, mesmo após conhecer bem os tecidos alterados pela doença em um paciente, poucas vezes se encontra uma droga que o ajude.

Daí a ideia de procurar por tentativa e erro, aplicando os tratamentos aos xenoenxertos e organoides e observando os resultados. Esse tipo de busca por terapias – a “medicina de precisão funcional” – é relativamente recente e ainda é prematuro fazer uma avaliação sobre ela. Um estudo recente a esse respeito concluiu que sua relevância clínica ainda está por demonstrar. Mas os autores dizem que o estudo mostrou um aumento gradual de pesquisas da medicina de precisão, a partir de 2014. Também assinalam que “o câncer continua sendo uma grande ameaça à mortalidade e morbidade em todo o mundo, apesar da intensa pesquisa e do financiamento generoso” que recebe.

Essa frase serve de pano de fundo a esse cenário no qual o número de mortes por câncer está aumentando bastante (veja no gráfico abaixo). Os óbitos, de fato, cresceram 66% desde 1990, quando morreram 5,7 milhões de pessoas. E vêm avançando ao ritmo de quase dez milhões de pessoas ao ano. Foram 9,6 milhões em 2017, último dado do site Our World in Data. Em comparação, a soma de todas as mortes aumentou 22% desde 1990, de 46 milhões para 56 milhões por ano. Também ficou mais alta a taxa de mortalidade: o número de mortes por câncer por 100.000 pessoas cresceu 17%. Em 2018 houve mais de 18 milhões de novos casos registrados.

Leia Também: