Pesquisadores relatam a inesperada cura de um câncer nos EUA

Dois pacientes adquiriram imunidade permanente contra a leucemia linfocítica crônica, responsável por um quarto dos casos da doença. Cura foi um sucesso mas não se sabe bem como aconteceu. “Está além da minha imaginação”, disse um autor do estudo

Uma micrografia eletrônica de varredura colorida de leucemia linfocítica crônica, um tipo de leucemia que afeta as células B e é responsável por um quarto dos novos casos de leucemia a cada ano. Keith R. Porter/Science Source
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O norte-americano Doug Olson parece ter sido agraciado com a cura definitiva de um câncer, algo realmente singular. O fato, porém, é que ele não apenas venceu sua doença, uma leucemia linfocítica crônica, mas adquiriu, misteriosamente, uma espécie de imunidade permanente contra ela. Desde o tratamento, em 2010, seu organismo incorporou um tipo de célula, conhecido como CD4, cujo papel, na opinião de alguns pesquisadores, tem sido vigiar sua leucemia e mantê-la sob controle.

Esse resultado foi apresentado em um artigo publicado dia 2/2 na revista Nature. Seus autores relatam que Olson e mais dois pacientes receberam um tratamento experimental, à época, com células modificadas do sistema imunológico, que fez o câncer desaparecer em dois dos três pacientes tratados. O jornal The New York Times conta que esse tipo de terapia requer repetidas sessões – os autores não esperavam um resultado permanente. “Pensamos que as células fornecidas a Olson desapareceriam em um mês ou dois”, disse ao jornal o médico Carl June, um dos autores do artigo.

O tratamento utiliza células imunológicas do tipo T, que são removidas do sangue do paciente, modificadas geneticamente para combater o câncer, e reinjetadas na corrente sanguínea da pessoa. Seu nome técnico é “terapia do receptor de antígeno quimérico de células T”. Abrevia-se para “terapia com células T CAR”. É um ramo bastante promissor atualmente e se aplica a outras condições clínicas, como se vê, por exemplo, em outro estudo recente sobre fibrose cardíaca.

O caso de Olson, no entanto, é especial. Outra das suas anomalias é que as células T utilizadas sofreram um mudança inesperada: eram originalmente de um subtipo, o CD8, mas se transformaram no subtipo CD4. Que não devia ser capaz de combater o câncer, como a CD8. A CD4 também não deveria continuar vigilante no organismo de Olsen, já que seu câncer há tempos desapareceu. Ele vive bem, atualmente, aos 75 anos, na Califórnia. Mas ninguém sabe o que se passa em seu corpo, comentou outro autor do estudo, o oncologista David Porter, ao New York Times. Seja o que for, disse, “está além da minha imaginação”.

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