Tratamento inovador contra o câncer recebe o aval da Anvisa

As próprias células dos pacientes podem ser modificadas no laboratório para atacar as células doentes. A terapia é recomendada para casos em que outras opções falharam. Ainda requer pesquisas e seu preço pode ser exorbitante. É um avanço importante, mesmo assim

Tratamento prevê que células são coletadas para serem alteradas com um novo gene Foto: Instituto Nacional do Câncer / Divulgação
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Uma terapia potencialmente revolucionária para pacientes de cânceres como a leucemia e o linfoma foi aprovada no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A terapia gênica com células CAR-T, como é chamada, coleta células imunológicas, da defesa orgânica do paciente, e as converte em atacantes das células de câncer. A técnica considera as características moleculares de cada tipo de câncer, relata a Folha de S. Paulo, para desenhar uma resposta específica contra a doença.

Para o médico Vanderson Rocha, da USP, a técnica é promissora, mas ainda é necessário muito investimento em pesquisa para entender riscos e benefícios. O tratamento combina terapia gênica com terapia celular e imunoterapia, afirma o hematologista Jacques Tabacof, do Centro Paulista de Oncologia. “Vários compostos com o mesmo princípio serão aprovados no futuro próximo”, prevê ele, tendo em vista as possibilidades promissoras das técnicas empregadas nesse tipo de tratamento.

São terapias ainda em desenvolvimento, em larga medida. A que foi agora aprovada pela Anvisa, desenvolvida pela empresa Novartis Biociências, é indicada para pacientes que já passaram por outros tratamentos e não tiveram melhora, como salienta a Anvisa. “O produto (de nome comercial ‘kymriah’) vai ao encontro de necessidade não atendida por outros tratamentos”, escreve a agência. O uso também não é simples, já que as células coletadas dos pacientes no Brasil têm que seguir para os EUA, onde passam por modificações genéticas e anatômicas.

Depois são reenviadas aos hospitais brasileiros para aplicação. Pode produzir efeitos colaterais pesados e nem sempre dá resultado satisfatório. Enfim, lê-se no site do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, seu preço seriam espantosos 475 mil dólares. Sem contar custos médicos. São fatos preocupantes. Mas o emprego das células CAR-T é um grande progresso, como reportou há algumas semanas Outra Saúde, numa história surpreendente sobre o americano Doug Olson.

Seu tratamento – um caso raro e ainda não compreendido –, além de curá-lo de forma definitiva de uma leucemia linfocítica crônica, também lhe deu uma espécie de imunidade permanente contra ela. Pura sorte, até onde se sabe. Mas indica as possibilidades implicadas pelos recentes conhecimentos incorporados à ciência médica.

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