Por que o Coronavírus assusta a Ásia e o mundo

Seis vítimas já morreram na China e transmissão entre humanos, já confirmada, amplia risco de pandemia. OMS cogita declarar emergência internacional de saúde pública. Leia também: Brasil confirma morte por nova febre hemorrágica

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Por Maíra Mathias e Raquel Torres

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A SITUAÇÃO SE DETERIORA NA CHINA

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde convocou, ontem, uma reunião extraordinária do comitê de crise do organismo para quarta-feira (22). Tedros Ghebreyesus antecipou pelo Twitter que quer autorização dos países membros para declarar o novo coronavírus que surgiu na China como uma emergência internacional de saúde pública. A última vez que a OMS enquadrou uma situação nessa categoria foi na epidemia do zika vírus, com o surgimento de casos de microcefalia no Brasil. 

Nessa segunda-feira, a situação ficou mesmo mais preocupante. As autoridades chinesas confirmaram, pela primeira vez, que a doença pode ser transmitida entre seres humanos. Além disso, o número de casos divulgados mais que triplicou: já são 223 infectados – 139 deles registrados ao longo do fim de semana –, num total de quatro mortos pela doença respiratória causada pelo novo coronavírus. Pelo menos 14 infectados são profissionais de saúde que trataram doentes. A essa altura, a enfermidade já se espalhou mais um pouquinho: há casos reportados não só na Tailândia (2) e no Japão (1), mas também na Coreia do Sul (1) e em algumas das principais cidades chinesas: Pequim, Xangai e Shenzhen. Um relatório publicado pelo Colégio Imperial de Londres calcula que o número real de infectados deve ser maior do que os números oficiais, chegando a 1,7 mil

A Austrália e os EUA anunciaram que vão examinar todos os passageiros vindos de Wuhan, enquanto o governo de Singapura decidiu que colocará em quarentena todos os indivíduos com sintomas de pneumonia e histórico recente de viagem àquela cidade. A Opas emitiu ontem um alerta para os países das Américas, recomendando que os profissionais de saúde tenham acesso a informações atualizadas sobre a doença e estejam prontos para manejar a infecção. Nos EUA, a entidade que reúne os institutos nacionais de saúde anunciou ontem que já trabalha numa vacina contra o novo coronavírus – contudo, meses devem se passar até que o imunizante esteja pronto para a primeira fase de testes clínicos e, na melhor das hipóteses, poderá ser liberado em pouco mais de um ano. Contudo, coisas mais básicas sobre a infecção ainda precisam ser entendidas, como a forma de contágio. O primeiro caso foi registrado no dia 31 de dezembro e a principal suspeita é que isso tenha acontecido em um mercado que vende peixes e outros animais vivos.

E já há bastante ‘nervosismo’ nos ‘mercados’, com a moeda chinesa tendo perdido quase a metade do valor ontem e as ações de companhias aéreas e de turismo despencando. As autoridades chinesas, por seu turno, têm sublinhado que a doença ainda está sob controle. 

Como falamos por aqui bem no comecinho, há um grande temor das autoridades de a situação degringolar com o Ano Novo chinês, que começa na sexta. Milhões de pessoas devem se deslocar pelo país, e há risco de que o novo coronavírus se espalhe muito mais, repetindo o cenário da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), em 2003, que matou 774 pessoas no mundo.

NOVO VÍRUS POR AQUI

E o Ministério da Saúde confirmou ontem à noite uma morte por febre hemorrágica brasileira que, segundo a Pasta, foi causada por um novo vírus. A vítima foi um homem, morador de Sorocaba, que veio a óbito no dia 11 de janeiro. O governo divulgou um boletim epidemiológico explicando que o novo vírus é da família Arenavírus e do gênero Mammarenavirus. “Considerando a família, este vírus pode apresentar alta patogenicidade e letalidade. Este fator representa um risco significativo para a saúde pública, ainda que nenhum caso secundário tenha sido identificado até este momento da investigação”, destacou o órgão. A febre hemorrágica provocada por vírus não era registrada no país desde 1999 – e é um evento raro: na literatura científica, há apenas quatro casos do tipo no país. O vírus que infectou essas pessoas, nos anos 1990, é conhecido como Sabiá. 

A doença é contraída principalmente por meio de inalação de partículas formadas a partir da urina, fezes e saliva de roedores infectados. A transmissão de pessoa a pessoa pode ocorrer quando há contato muito próximo e prolongado ou em ambientes hospitalares, quando não utilizados equipamentos de proteção, por meio de contato com sangue, urina, fezes, saliva, vômito, sêmen e outras secreções ou excreções. De acordo com o Ministério, os funcionários dos três hospitais por onde o paciente passou estão sendo monitorados e avaliados, assim como os familiares. O governo brasileiro comunicou o caso à Opas.

COMIDOS VIVOS

Pelo menos 24 presos da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR), pegaram uma doença infecciosa desconhecida que tem causado feridas profundas nas suas mãos, pés e pernas – em alguns casos, a pele fica em carne viva e eles não conseguem andar por conta das dores. Tudo começou no início do mês, mas o caso veio a público na sexta, quando o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB no estado, Hélio Abozaglo, foi ao Hospital Geral de Roraima verificar a situação: 14 presos estavam nos corredores, enquanto dez estavam medicados na enfermaria. “É deprimente. Um dos presos estava com ferimento no pé em carne viva e relatou que se sentiu como se algo estivesse corroendo ele por dentro”, relatou Abozaglo ao G1.

Ainda não se identificou a causa da contaminação, mas os infectados dizem que começaram a sentir os sintomas após tomarem água com mau cheiro e gosto ruim. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos já está acompanhando o caso.

SABOTAGEM MAIS IMPROVÁVEL

são 21 os casos suspeitos de intoxicação pelo dietilenoglicol presente nas cervejas da Backer, de acordo com o comunicado da secretaria estadual de Saúde de Minas Gerais divulgado ontem. Segundo a secretaria, quatro casos tiveram a intoxicação confirmada e 17 estão sob investigação. Até agora, quatro pessoas morreram. Três dessas mortes estão entre os casos sob investigação. Ontem, a Polícia encaminhou à Justiça pedido para a exumação do corpo da mulher que teria sido a primeira vítima da intoxicação. Ela morreu em 28 de dezembro, ou seja, antes da detecção da substância nas cervejas. Parentes de pessoas intoxicadas também foram ouvidas ontem e a fábrica da Backer novamente visitada pelos policiais. 

Em entrevista ao Fantástico, o delegado responsável pelas investigações, Flávio Grossi, disse que “se houve uma sabotagem, ela foi realizada em longo prazo, de forma contínua”. A substância já foi detectada em 32 lotes de 11 rótulos produzidos em tempos diferentes pela Backer.

ÁGUA E GUERRA

Pela primeira vez, fatores ambientais foram usados em um modelo para prever onde novos conflitos podem acontecer no mundo. Trata-se de uma ferramenta desenvolvida por pesquisadores da Parceria de Água, Paz e Segurança, financiada pelo governo holandês e exibida recentemente no Conselho de Segurança da ONU. Ela cruza dados de imagens de satélites sobre problemas ambientais com métodos tradicionais para prever conflitos, como instabilidade política, e mostra onde a falta d’água pode gerar violência. Um desses lugares é uma região já delicada: o Oriente Médio. A ferramenta mostra que o clima lá está esquentando mais rápido do que no resto do planeta e que as secas vão ameaçar o Iraque e o Irã em breve. Segundo os pesquisadores envolvidos, a escassez de água sozinha não deve desencadear um conflito, mas pode se combinar com questões geopolíticas e assim levar à guerra. O presidente do Centro para Segurança Climática, Francesco Femia, defende na Vice que a crise de refugiados atual da Síria, por exemplo, poderia ter sido prevista a partir de uma mudança climática: a forte seca que começou lá em 2016 matou 85% do gado do país, empurrou 1,5 milhão de pessoas do campo para as cidades e criou instabilidade social, ajudando a exacerbar a guerra civil.

SECA NOS RECURSOS

E, por aqui, o Programa Cisternas vem perdendo recursos no governo Bolsonaro, como mostra a matéria d’O Joio e o Trigo. Desde 2003, a iniciativa promoveu a construção de 1,3 milhão de cisternas para atenderem a cinco milhões de pessoas e foi fundamental para tirar o país do Mapa da Fome. Mas o montante previsto na Lei Orçamentária Anual para o programa em 2020 é de R$ 50,7 milhões – o mais baixo da história. Em 2012, ápice dos investimentos, o valor chegou a R$ 925,8 milhões.

TAMANHO ÚNICO

Parece até bom demais para ser verdade: cientistas da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, descobriram uma parte do nosso sistema imunológico que poderia vir a ser aproveitada para eliminar todo tipo de câncer. A pesquisa foi publicada na Nature Immunology e, embora o trabalho esteja em estágio inicial e não tenha havido ainda testes em pacientes, os pesquisadores dizem que há “um enorme potencial”.

A descoberta se baseia em células T, presentes no sangue, que são imunes e podem escanear o corpo para avaliar ameaças que precisem ser eliminadas. A equipe encontrou uma determinada célula T que poderia identificar e matar uma grande variedade de células cancerígenas e, no laboratório, os testes funcionaram para as de pulmão, pele, sangue, cólon, mama, osso, próstata, ovário e rim, entre outras. Segundo Andrew Sewell, autor principal do estudo, isso melhora a perspectiva de um dia se conseguir uma espécie de tratamento “tamanho único” contra o câncer.

OUTROS USOS

Enquanto isso, um grupo de pesquisadores  testaram em laboratório mais de quatro mil medicamentos aprovados pela FDA (agência reguladora dos EUA) para diversas doenças – como diabetes – para ver se funcionavam também contra células cancerígenas. E encontraram 50 componentes que conseguiram matar essas células, deixando as saudáveis intactas. O trabalho saiu na Nature Cancer.

SEM DIFERENÇA

Um estudo publicado ontem no British Medical Journal põe em xeque a capacidade da Cannabis de ajudar pacientes com câncer a lidar com a dor. Os pesquisadores fizeram uma revisão sistemática de seis ensaios clínicos randomizados (o ‘padrão-ouro’ de pesquisa) envolvendo cerca de 1,5 mil pessoas em países europeus. Os estudos verificaram os níveis de dor em pacientes em tratamento com analgésicos opióides quando a maconha era usada para controle adicional da dor, comparando esses níveis com os de grupos que receberam placebos (pílulas simuladas). E não foi encontrada nenhuma mudança na intensidade média da dor entre os grupos.

NÃO SÓ AS ABELHAS

Uma espécie de borboleta nativa dos campos sulinos do Brasil pode estar em extinção. No IHU-Unisinos, o biólogo Guilherme Atencio conta como “locais que estavam sendo acompanhados nos últimos anos estão rapidamente se tornando vazios de fauna nativa“. Isso é preocupante: borboletas são polinizadoras, fazem parte da cadeia alimentar, são predadoras de outros insetos e funcionam como indicadores ambientais (indicando o estado de ‘saúde’ dos ambientes). Há três hipóteses para o desaparecimento da espécie: a perda de habitat para a agropecuária, as mudanças climáticas e o uso de agrotóxicos na agricultura.

UM MANIFESTO

Na sexta, após uma reunião com mais de 600 lideranças indígenas na aldeia Piaraçu (Mato Grosso), foi finalizado um documento com reivindicações para ser entregue a Jair Bolsonaro. O Manifesto do Piaraçu denuncia o projeto de “genocídio, etnocídio e ecocídio” do governo brasileiro e ressalta o direito constitucional dos povos indígenas de serem consultados previamente sobre projetos que impactem seus territórios. O governo prepara um projeto que libera mineração e muitas outras atividades econômicas predatórias nas terras indígenas.

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