Testagem: há caminhos para vencer a paralisia do governo

Desorientação do Planalto e ministério podem pôr a perder avanços como a produção de testes pela Fiocruz e sua possível distribuição pelo SUS. Desempenho de cidades como Niterói no combate à covid

Em Araraquara (SP), testes são realizados de graça pela prefeitura, em lugares públicos como a Praça Santa Cruz
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Os novos desafios da covid colocados pela ômicron têm como foco os meios de controlar a alta capacidade de transmissão da variante. Esses meios, conforme avaliou liminarmente a OMS há alguns dias, são levar a vacinação à quase totalidade das populações e multiplicar de modo expressivo a testagem em massa das populações, fazendo uso criterioso dos recursos de Saúde disponíveis. O Brasil, naturalmente, está atento a essa agenda. Mas os avanços são lentos e difíceis – quando não resultam em retrocesso – graças à desorientação política do país.

O governo brasileiro, de fato, anunciou ontem, 31/1, que vai comprar mais testes e pode, inclusive, distribuí-los pelo SUS – após sofrer uma avalanche de críticas por ter se omitido de fazer isso, nesses dois anos de pandemia. Mas a medida é um arremedo de ação: o ministério Saúde disse à imprensa que começou a distribuir 13,1 milhões de testes rápidos, de uma compra de 18,2 milhões para fevereiro e março. O pacote incluiria em alguma medida os testes de antígeno da Fiocruz. Sem mais detalhes.

Enquanto isso, os EUA estão a caminho de fazer 3 bilhões de testes. Essa é a escala da testagem que o Brasil, em princípio, teria que fazer. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, diz apoiar a medida. É importante, exortou ele ontem, “que os Estados e municípios se engajem nessa estratégia de testagem”. Ora, o governo sequer entregou os 60 milhões de testes que deveria ter fornecido de setembro a dezembro de 2021. Chegou a 43 milhões ou pouco mais. Depois previu 28,2 milhões, em janeiro – e mal passou dos 15 milhões.

Acredita-se que a partir do final de fevereiro a indústria privada poderá oferecer até 10 milhões de testes por mês a um preço menos exorbitante do que os atuais, em torno de 150 reais – oscilando entre 45 e 75 reais. Seria outro pequeno sinal de avanço recente, assim como a autorização da Anvisa, dia 28/1, para o uso de autotestes. Mas isso pode não ajudar muito, pondera, por exemplo, o médico sanitarista Reinaldo Guimarães, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Ele lembra que o ideal seria oferecer os testes amplamente, sem custo. O governo americano está fazendo isso, observa, e a Inglaterra, também. Também no Brasil, há vários ótimos exemplos de condução muito mais bem feita da pandemia. Como na cidade de Niterói, onde o pico da ômicron até já passou, conforme relato do prefeito Axel Grael. Começa a haver diminuição nas pessoas procurando as unidades com sintomas e testes positivos.

Lá a secretaria da Saúde realiza 5 mil testes por dia, em 55 pontos de testagem. A imunização de 05 a 11 anos começou na semana passada e já deve estar concluída na semana que vem. “São as vacinas que nos protegem e salvam vidas. Estamos chegando [à faixa dos] 5 anos, completando toda a cadeia etária de vacinação. É isso que garante a proteção da população como um todo”, sintetizou o prefeito.

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