Amil vende usuários ao capital especulativo
Operação anunciada na semana passada é mais novo indício de que as operadoras planejam focar-se apenas nos planos corporativos – que têm menos regulamentação pela ANS
Publicado 13/12/2021 às 11:50 - Atualizado 13/12/2021 às 13:50
A Amil abriu mão de 370 mil usuários, nesse início de mês. Eram planos individuais que estavam dando prejuízo à empresa, e foram vendidos ao fundo de investimentos Fiord Capital e à operadora APS (Assistência Personalizada à Saúde), que hoje possui pouco mais de 11 mil clientes. Especula-se que a operadora está fazendo a operação para se focar nos planos empresariais, que são muito menos regulamentados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
A visão de Saúde como negócio fica clara nessa estranha venda a um fundo de investimentos. Análises do setor revelam que os compradores da carteira da Amil planejam fazer mudanças na gestão dos planos de saúde para que, num horizonte de cinco a sete anos, 80% da carteira se torne lucrativa. A Fiord, empresa recém-fundada (provavelmente já com a intenção de herdar os clientes da Amil), é especialista em “reestruturação financeira”. As companhias garantem que não haverá nenhum prejuízo aos usuários – e pelas regras da ANS, não pode haver mesmo –, mas a reportagem de O Globo explica que a rede credenciada nos contratos costuma ser alterada após esse tipo de mudança.
Os planos de saúde já foram notícia, na semana passada, por pressionar pela desregulamentação de seu setor. Lutam pelo salve-se quem puder, ao apoiar a revisão da lei 9.653/98, que, entre outras medidas, pretende ignorar a Classificação Internacional de Doenças da OMS e desconsidera o Estatuto do Idoso. “Estão em jogo o futuro do sistema de saúde no Brasil, nossa saúde e nossas vidas”, alerta um estudo organizado pelo Grupo de Estudos sobre Planos de Saúde da Faculdade de Medicina da USP, coordenado pelo professor Mário Scheffer, e pelo Grupo de Pesquisa e Documentação sobre Empresariamento na Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenado pela professora Ligia Bahia.
