Por que não vacinar crianças com CoronaVac?

Versão pediátrica da Pfizer, aprovada pela Anvisa, não está disponível no país. Já a do Butantan é amplamente utilizada em diversos países, mas o governo federal rejeitou 15 milhões de doses. Vecina considera posição “imperdoável”

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No final da quarta-feira, 15/12, os jornais brasileiros noticiaram que, em algumas horas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciaria a aprovação da vacina da Pfizer/BioNTech contra a covid para as crianças entre 5 e 11 anos (atualmente, ela é a única autorizada para adolescentes de idades entre 12 e 17). Mas não deu nem tempo de os pais comemorarem, pois logo seria publicada outra notícia importante: a Pfizer produz uma formulação da vacina para adultos e outra para crianças – e o Brasil ainda não conta com a formulação pediátrica. Tampouco há um prazo estabelecido para que isso aconteça. Na manhã de ontem, a jornalista Mariana Varella alertou, em seu Twitter: sem pressão da população, o ministério da Saúde “vai demorar”.

Enquanto isso, em território brasileiro – mais precisamente na fábrica do Instituto Butantan, em São Paulo – estão estocadas 15 milhões de doses da vacina CoronaVac. Destas, 12 milhões estão reservadas à imunização pediátrica. As instalações, que têm capacidade de produzir 1 milhão de doses por dia, estão paradas. Também na última quarta-feira, o Instituto enviou novamente à Anvisa um pedido para que a vacina seja utilizada nos menores de idade. A primeira requisição à agência foi feita em julho, e rejeitada por suposta falta de dados. 

Na semana passada, durante o evento online CoronaVac Symposium, que reuniu pesquisadores de diversos países, o médico sanitarista e fundador da Anvisa Gonzalo Vecina Neto disparou: “Temos a tarefa de vacinar todas as nossas crianças tendo uma vacina eficaz e segura em estoque aqui no Butantan. A ignorância em relação a utilizar a CoronaVac para vacinar nossas crianças e jovens é imperdoável.” Durante o evento, especialistas comentaram uma pesquisa lançada no início do mês, que utilizou a CoronaVac em mais de duas mil crianças e adolescentes, de seis meses a 17 anos, na China, África do Sul, Chile, Malásia e Filipinas. Segundo os resultados, a vacina é segura e provoca uma resposta imune significativa no público de 3 a 17. Dimas Covas, presidente do Butantan, lembrou que no Chile e no Equador as crianças já estão sendo imunizadas com a CoronaVac.

A imunização dos pequenos é importante por dois motivos principais. Primeiro porque, segundo a revista Nature, há evidências de que as crianças podem ser importantes vetores do vírus, dificultando o controle da pandemia. Com variantes mais transmissíveis, há algumas projeções que indicam que a situação pode piorar muito sem a decisiva vacinação infantil. Segundo, porque apesar de serem proporcionalmente menos relevantes em relação à população geral, as mortes de crianças por covid são altas. Mataram, durante o período da pandemia, no Brasil, mais de 2.500 – número maior que o de óbitos infantis por coqueluche, diarreia, sarampo, gripe e meningite juntas.

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