Piora da covid no Rio é prenúncio de novo caos nacional?

País tem redução de casos, internações e óbitos pela 8ª semana seguida, mas Rio de Janeiro caminha no sentido oposto

Foto: Fábio Teixeira / Anadolu Agency
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Por Leila Salim

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Queda no número de mortes, mas avanço das infecções pela variante Delta. Campanha de vacinação chegando aos adolescentes em algumas cidades, planos de abertura com direito a 40 dias de carnaval no Rio em 2022, mas alta de hospitalizações e mortes entre idosos. Assim fragmentadas, as notícias que dão conta do quadro da pandemia no Brasil desenham um cenário preocupante, mas difícil de entender. O volume de informação (e desinformação) se soma à gestão criminosa da pandemia pelo governo Bolsonaro e a projeções de autoridades locais que são, para dizer o mínimo, contraditórias. Afinal, em que pé estamos?  

Os dados mais recentes do consórcio dos veículos de imprensa confirmam uma redução no número de mortes por covid no Brasil. A média móvel ficou em 765 óbitos por dia, representando redução de 16% em relação ao número de duas semanas atrás. A média móvel de casos, de 29.490 infecções por dia, ficou estável. 

Um alerta, no entanto, vem do Rio de Janeiro: com crescente circulação da Delta, o estado já registra alta nos casos e internações. É o que mostrou o último boletim do Observatório Covid-19 da Fiocruz, divulgado na quinta da semana passada. Os números confirmam a redução do número de casos, internações e óbitos no Brasil pela 8ª semana consecutiva e apontam que o Rio caminha no sentido oposto à tendência nacional

A situação do Rio  precisa ser olhada de perto porque pode antecipar um cenário nacional. É o que diz Leonardo Bastos, pesquisador da Fiocruz. Ele explica que o que acontece no estado se espalha rapidamente pelo país, já que o Rio é um ponto de rede importante no Brasil. Um lembrete: como dissemos aqui, a alta de infecções pela Delta é real e preocupante, mas os dados sobre o rastreamento das amostras e proporção da variante entre o total de infecções precisam de contextualização, já que está sendo priorizada a investigação para sequenciamento dessa variante.

Ainda segundo o boletim da Fiocruz, os idosos já são quase sete entre cada dez mortos no país. O que explica a reversão da tendência anterior, que era de “rejuvenescimento” da pandemia, são o aumento da vacinação entre os mais jovens, a alta na circulação do vírus e, como temos falado bastante por aqui, o fato de que esse grupo etário, com sistema imune mais frágil, já pode estar sendo afetado pela queda no desempenho das vacinas após alguns meses.  Entre junho e agosto, a proporção de idosos entre os mortos por covid saltou de 44,6% para 69,2%. 

Diante dos novos números, na última sexta o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD) sinalizou que as medidas de restrição da cidade “podem voltar”, mas que nada está decidido e será avaliado “com muita calma”. Em coletiva, ele reforçou que o momento exige atenção: “Nunca antes, no ano de 2021, nós tivemos tantas pessoas com covid na cidade do Rio de Janeiro como neste momento agora. Pessoas próximas, familiares, amigos. Eu, pessoalmente, nunca vi tanta gente com covid no meu entorno como estou vendo”, disse.

No mesmo dia, no entanto, veio uma perfeita demonstração do que não fazer para se comunicar objetivamente com a população: a empresa de turismo da mesma prefeitura publicou em seu site a convocação para parceiros privados participarem do carnaval de rua do ano que vem. A divulgação das regras do evento – prevendo 40 dias de festa entre janeiro e março e até 500 desfiles de blocos oficiais – obviamente repercutiu como um anúncio do carnaval de 2022 e foi recebida como um sinal de “volta à normalidade”, diluindo totalmente a nota de rodapé sobre a celebração estar “condicionada às determinações estabelecidas pelos órgãos competentes no combate à covid-19”.  

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