PÍLULAS: Grandes empresas seguem incapazes de compreender o SUS

• CNI não entende o SUS e também quer privatizá-la • O SUS maior fortaleceria a indústria • Como a privatização do NHS mata • Na Amazônia, o risco de aparecerem novas doenças • Risco de desnutrição infantil é global • Agrotóxicos e câncer • Mortes em presídios por precariedade •

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Grandes empresas seguem incapazes de compreender o SUS…

Em dois anos e meio de pandemia, a sociedade brasileira percebeu como nunca o valor da Saúde Pública. Reconhecido pela população, o SUS recebeu elogios inclusive de onde não se esperaria – seguidos comentários positivos no Jornal Nacional, por exemplo. Mas esta consciência ainda não chegou à Confederação Nacional da Indústria – a CNI –, conhecida tanto pela fidelidade aos dogmas neoliberais quanto pela prática de fisiologismo político. Nesta terça-feira, ao convidar os candidatos à Presidência para um diálogo sobre as propostas que defende para o Brasil, a entidade apresentou-lhes uma visão mercantilista e retrógrada da Saúde. Mário Scheffer, professor de Medicina Preventiva da USP, analisa, em sua coluna no Estadão, o documento preparado pela CNI sobre o tema. Ele vê o SUS como um sistema apenas para a “população de baixa renda”. Opta pela medicina privada (tratada como “sistema de saúde complementar”). E sugere que esta deveria receber ainda mais subsídios públicos…


…E não enxergam quanto a saúde pública poderia lhes ser útil

O próprio Scheffer aponta, no texto, a cegueira dos industriais – certamente corresponsáveis pelo declínio acentuado do setor nas últimas décadas, no Brasil. “Em 2021, a indústria desembolsou mais de R$ 60 bilhões com planos de saúde para trabalhadores”, lembra o professor. “Um SUS maior, universal e de qualidade, liberaria recursos para a indústria melhorar os salários que paga, diminuiria o preço dos produtos que fabrica, fazendo aumentar o consumo como um todo, alavancando a economia”, prossegue ele. E conclui, sem esconder o espanto: “Incrivelmente, o SUS está fora do radar da CNI”.


NHS: terceirização é cara e mata

Há uma nova pedra no caminho do discurso que vê como “eficiente” terceirizar serviços de saúde pública para operadores privados. Trata-se de um vasto estudo da Universidade de Oxford sobre o NHS – o National Health System do Reino Unido. Conduzida ao longo de oito anos (de 2013 a 2020), a pesquisa apurou que ao menos 557 pessoas morreram de doenças “tratáveis”, depois que parte de seus tratamentos foi transferida pelo NHS a terceiros. Pior: o sistema público paga caro para submeter a população a assistência de pior qualidade e ao risco ampliado de morte. A mesma pesquisa demonstrou que cada aumento de 1% nos gastos com terceirização produz, no ano seguinte, uma alta de 0,29 mortes a cada 100 mil pessoas. O estudo foi publicado, em 29/6, pela revista Lancet.


Devastação da Amazônia abre caminho para “novas covids”

Os sete estados amazônicos são os mais expostos a enfermidades que, como a covid, saltam de animais para humanos, com consequências potencialmente devastadoras. É o que mostra pesquisa brasileira publicada pela Science Advances, a partir de estudos em sete estados do país – Amazonas, Roraima, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Maranhão e Amapá. O trabalho demonstrou que, situados na Amazônia, eles apresentam alto risco de surtos de zoonoses, doenças resultantes de um processo de mutações contínuas até que um determinado patógeno tenha capacidade de infectar humanos. Os autores do estudo explicam que o adentramento em áreas florestais – intensificado pelo desmatamento – é o principal fator de risco, pois aumenta o contato de humanos com animais silvestres. No Brasil, isso se dá principalmente devido a atividades de extração de madeira, garimpo e pesca ilegais. A Fiocruz ressalta o perigo na Amazônia, onde foram identificados 173 patógenos (entre vírus, bactérias, vermes, parasitas, fungos) associados à caça e que podem causar ao menos 76 doenças em seres humanos.


Unicef alerta para desnutrição infantil em plano mundial

A crise alimentar desencadeada, em todo o mundo, pela especulação com o preço das matérias-primas e alta dos juros está atingindo a infância. Um documento divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), alerta para o aumento de casos de desnutrição infantil severa e sem tratamento. São cerca de 10 milhões de crianças – destas, duas entre três não têm acesso a alimentos adequados para tratamento. O professor Raphael Del Roio Liberatore Júnior, especialista em Nutrição Pediátrica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, relaciona esses dados com os números brasileiros divulgados pelo Ministério da Saúde: 13,78% das crianças de até 5 anos, atendidas pelo SUS de janeiro a setembro de 2021, apresentaram peso inadequado.


Paraná expõe relação entre agrotóxicos e câncer

Acaba de surgir mais um sinal de que o aumento de incidência de câncer, em todo o mundo, precisa ser relacionado ao uso descontrolado de agrotóxicos – no Brasil, incentivado ao máximo desde o início do governo Bolsonaro. Pesquisa realizada pela Universidade do Oeste do Paraná, em parceria com a Universidade de Harvard (EUA), revelou níveis elevados de 11 agrotóxicos na água que abastece 127 cidades produtoras de grãos no oeste do Paraná, onde vivem 5,5 milhões de pessoas. Segundo os cientistas, a intoxicação da água está associada a pelo menos 542 casos de câncer diagnosticados em moradores da região em um período que vai de 2017 a 2019. 


Precariedade nos presídios matou mais que a pandemia

O aumento de mortes nas prisões brasileiras durante a pandemia, em 2020, foi consequência direta das próprias condições de funcionamento dos presídios. A pandemia apenas agravou o que já era dramático. É o que acaba de demonstrar pesquisa Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade de São Paulo (USP) publicada na Cadernos Ibero-Americanos de Direito Sanitário. No caso da covid-19, a prisão – superlotada e sem quaisquer condições sanitárias de atender exigências de distanciamento e higiene impostas pela pandemia – tornou-se um local mais que propício para a propagação do vírus.

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