PÍLULAS | Crise climática: IPCC convoca ao “agora ou nunca”

• Queimadas e saúde pública • População de rua vacinada • Farmacêuticas querem desregulação • Hospital São Paulo em crise • A irresponsabilidade de Bolsonaro será esquecida? • Campanha de vcina contra a gripe • Novas regras para fronteiras brasileiras • Luta contra privatização da saúde na Grécia •

.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicou ontem a terceira seção de sua revisão abrangente sobre o clima e suas consequências globais. A última parte do relatório estabeleceu as maneiras pelas quais o mundo pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Ele demonstrou que os países estão atrasados nas políticas e ações necessárias para atingir zero emissões de gases de efeito estufa. Na situação atual, as temperaturas podem subir até 3°C, um nível catastrófico. O custo final de fazê-lo será mínimo, correspondendo a apenas uma pequena porcentagem do PIB global. Os relatórios do IPCC levam cerca de sete anos para serem compilados, tornando este potencialmente o último aviso antes que o mundo esteja irrevogavelmente no caminho do colapso climático. Segundo uma leitura do Observer no último domingo, 3/4, o último relatório já havia emitido um alerta sobre “convulsões catastróficas e irreversíveis”, mas foi mal noticiado – ofuscado principalmente pela guerra na Ucrânia, o aumento dos combustíveis e questões domésticas como a inflação, que dominaram as primeiras páginas nas últimas semanas.


Como as queimadas afetam o Sistema de Saúde

Não é só o impacto ambiental: a revista Pesquisa FAPESP reportou um estudo recente que identificou um aumento no número de internações em decorrência de problemas respiratórios e circulatórios associado à inalação da fumaça gerada pela queima de biomassa. O pesquisador Weeberb Réquia, da FGV em Brasília, e colaboradores dos Estados Unidos analisaram mais de 2 milhões de internações hospitalares por doenças cardiorrespiratórias registradas em todo o território nacional entre 2008 e 2018. Em média, as temporadas de queimadas estiveram associadas a um aumento de 23% das internações por problemas respiratórios e de 21% por doenças do sistema circulatório no país. Na região Norte, a elevação foi de 38% de internações por doenças do trato respiratório e 27% do sistema circulatório.


Vacinação da população de rua: as dificuldades e acertos

As capitais não estão se saindo mal na iniciativa de proteger sua população em situação de rua. Em São Paulo, 80% tomaram as duas doses ou receberam imunizante de dose única, estando totalmente vacinados. No Rio de Janeiro, o total chega a 90% – e a adesão é muito alta, segundo seu secretário de Saúde. Em Curitiba, espantosos 121% do público alvo estão imunizados. Isso se explica porque a população costuma ser flutuante, e migrar entre cidades de uma mesma região. O sucesso só foi possível graças a um programa do SUS criado em 2011: os Consultórios de Rua, que oferecem tratamento de saúde itinerante ou em UBSs com médicos, enfermeiros, psicólogos e dentistas à população desabrigada. A principal dificuldade é contabilizar e alcançar parte dessas pessoas. Estima-se que cerca de 222 mil brasileiros estão em situação de rua. Em Salvador, por exemplo, apenas 52% dessas pessoas se imunizaram – mas isso segundo uma estimativa conservadora de que haja 6 mil pessoas na rua. Outros levantamentos estimam que esse número seja mais que o dobro: 14 mil.


Farmacêuticas “desinteressadas” em produzir dipirona injetável

As empresas brasileiras que fornecem a dipirona injetável ao SUS estão deixando de produzi-la, segundo reportagem da Folha, por suposta falta de viabilidade financeira. O alerta foi dado pelo Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde). O medicamento tem uso hospitalar intenso, e diversos municípios já estão relatando risco de desabastecimento e dificuldade de adquiri-lo. No levantamento enviado pelo Conasems ao ministério da Saúde, relata-se que três de cinco laboratórios brasileiros interromperam a produção. A indústria farmacêutica alega que “está inviável” comprar os insumos – todos importados. Isso porque o preço dos remédios sob prescrição e de uso hospitalar é subordinado a uma regulamentação que impõe valor limite a ele. A Anvisa respondeu que prevê a possibilidade de “promover o equilíbrio” dos preços. Mais uma alta de remédios vem aí?


Hospital São Paulo, da Unifesp, pena por falta de financiamento

O que começou com uma crise de financiamento, se agravou com a pressão causada pela pandemia, e agora o Hospital São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), está em crise grave e corre risco de morte. É o que afirmou seu novo gestor, Nacime Salomão Mansur, que assumiu a superintendência em fevereiro, em entrevista ao Estadão. Cerca de 200 funcionários foram demitidos, segundo ele. A dívida com os bancos é de R$ 450 milhões. Há um déficit de R$ 8 milhões por mês. Pacientes e trabalhadores reclamam da precariedade das estruturas. O financiamento do hospital vem majoritariamente do SUS, mas outra fonte importante (de cerca de R$ 3 milhões por mês) era o Programa de Reestruturação de Hospitais Universitários Federais (Rehuf). Foi cortado pelo ex-ministro da Saúde, Ricardo Barros, nomeado por Michel Temer. 


Estamos esquecendo o que Bolsonaro fez na pandemia?

Segundo a OMS, o Brasil é o terceiro em mortes, com mais de 660 mil. Desde o início da crise sanitária, o presidente desdenhou da gravidade da covid, incentivou a aglomeração, sabotou o isolamento social, questionou sem base científica o uso de máscaras e defendeu medicamentos sem eficácia. Por isso, eram 54% os que consideravam seu desempenho ruim ou péssimo em sua gestão da pandemia. Seis meses depois, nova pesquisa do Datafolha aponta que esse número caiu para 46% em março de 2022, e já converge com sua rejeição nas pesquisas eleitorais. Apesar de seu trabalho contra, as vacinas foram garantidas e os índices de imunização, com a consequente melhora na situação sanitária, podem ter garantido a queda de desaprovação. Além disso, orientado por aliados, Bolsonaro reduziu manifestações públicas contrárias a diversos temas, como o das vacinas. Cientista política ouvida pelo Nexo também considera o retorno das atividades presenciais, e um certo retorno do alívio cotidiano, como fatores para os recentes dados da pesquisa.


Iniciada a importante campanha de vacinação contra gripe

Começou ontem (4/4) a Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe, e o ministério da Saúde espera imunizar cerca de 76,5 milhões de pessoas em dois meses. Na fase iniciada nesta segunda-feira, espera-se idosos com 60 anos ou mais e trabalhadores da saúde. A partir de 3 de maio, abre-se para crianças de 6 meses a 4 anos, gestantes, professores, povos indígenas e outras categorias profissionais. Em 2021, a campanha não alcançou um público abrangente o suficiente, o que resultou num surto de influenza nos últimos meses do ano. A vacina Influenza trivalente utilizada pelo  SUS em 2022 é produzida pelo Instituto Butantan. Será eficaz contra as cepas H1N1, H3N2 e tipo B.


Viajantes que chegam ao Brasil não precisam mais de teste PCR

Na sexta-feira (1º/4) entraram em vigor as novas regras para viajantes que entram no Brasil por transportes aéreos, terrestres ou aquaviários, que mudaram após o início da pandemia. Ainda é exigida a apresentação do comprovante de vacinação para todas as idades em que ela está disponível. Há uma exceção para aqueles brasileiros ou estrangeiros com residência no país que comprovem, por laudo médico, que a imunização não é recomendada ou oriundos de países onde há baixa cobertura vacinal. Apenas para estes é exigido um teste de RT-PCR feito um dia antes da viagem. Estrangeiros sem residência que não estiverem vacinados, não entram. A partir de agora, quarentenas não serão mais exigidas em nenhuma situação. 


A luta pela saúde eclode também na Grécia

Na última quarta-feira, 30/4, os trabalhadores da saúde organizaram uma paralisação para protestar contra um novo projeto de lei que, segundo os profissionais, afetaria todo o sistema nacional de saúde, já enfraquecido por dois anos de resposta à pandemia e escassez de pessoal. Segundo noticiou o People Dispatch, os trabalhadores também realizaram marchas em Atenas e outras cidades, onde foram confrontados pela polícia. A reforma, segundo os profissionais e entidades sindicais, privilegiam o setor privado, incluindo diversas parcerias que ampliam a desregulamentação do setor no país. A nova legislação permitirá que médicos realizem cirurgias em hospitais fora do horário de trabalho mediante pagamento, transformando temporariamente os hospitais públicos em clínicas privadas; pretende também introduzir um sistema que obriga os cidadãos a registrarem-se junto de um médico de família privado para poderem procurar cuidados nos hospitais; além de alterar mudanças na forma de contratação de profissionais, para regimes temporários, aprofundando a precarização da categoria.

Leia Também: