PÍLULAS | Como a crise afeta a saúde dos brasileiros
• Crise financeira afeta a saúde no Brasil • A bagunça na gestão de medicamentos pelo governo federal • Número de mortes maternas é maior que o registrado • Cigarros eletrônicos continuam proibidos • Moradores de Brumadinho expostos a metais tóxicos • A sabedoria indígena que se perde com algumas línguas •
Publicado 08/07/2022 às 12:20
Como a insegurança financeira afeta a saúde psíquica e física no Brasil
Baixos salários, endividamento, desemprego e a alta inflação têm um impacto direto na saúde dos brasileiros. Segundo pesquisa realizada pela International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), para 78% da população a incerteza financeira é a principal causa de preocupação. Doenças psiquiátricas como ansiedade e depressão são consequências conhecidas, mas estudos apontam que a insegurança financeira está associada a um risco maior para doenças cardiovasculares e infecções persistentes devido ao enfraquecimento do sistema imunológico. Isso porque hormônios como adrenalina e cortisol respondem ao estresse psíquico, aumentando a frequência cardíaca e a pressão arterial. Além disso, os mais atingidos são os mais velhos: aqueles que têm mais de 50 anos e lutam enfrentam problemas financeiros são oito vezes mais propensos a ter níveis reduzidos de bem-estar mental, segundo um estudo do Centro de Pesquisa de Finanças Pessoais (PFRC) da Universidade de Bristol e do Instituto Internacional de Longevidade do Reino Unido (ILC-UK).
A péssima gestão de insumos e medicamentos pelo governo
Relatório da Controladoria Geral da União aponta que o Ministério da Saúde perdeu R$ 104 milhões em medicamentos e vacinas no primeiro semestre de 2021. O documento ainda indica R$ 20 bilhões em distorções contábeis, ocasionando a perda de 500 mil vacinas contra a hepatite B, 200 mil contra a varicela, 87 mil vacinas tetraviral, 245 mil frascos de BCG e 800 mil kits de insulina não utilizados que perderam a validade. Além disso, 11,7 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 irão vencer no mês de julho e 28 milhões de doses de Pfizer e Astrazeneca vencem até agosto; os últimos dois lotes custaram, no total, R$ 1,21 bilhão. Segundo o professor Fernando Aith, do Centro de Direito em Saúde (Cepedisa) da USP, o relatório revela “uma perda de capacidade técnica do Ministério [da Saúde] para executar políticas nacionais estratégicas”.
Número de mortes maternas no país pode ser 49% maior do que o oficial
Um estudo inédito do Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr) mostra que 17.119 gestantes morreram entre 2016 e 2021, número 49,6% maior do que o divulgado pelo Ministério da Saúde. As estatísticas vêm numa crescente desde 2019, segundo a pesquisa. Parte do problema estaria relacionado a pandemia de covid-19. Os pesquisadores apontam que a pasta do governo errou ao contabilizar a morte de gestantes e puérperas seguindo apenas as descrições do CID 10, lista da OMS de doenças, pois existem diversas situações em que a morte teria sido consequência de uma complicação – que, por algum erro, não foi considerada.
Unanimidade: Anvisa mantém proibição de cigarros eletrônicos
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu manter a proibição de importação, propaganda e venda de cigarros eletrônicos no Brasil.Segundo a diretora da agência, Cristiane Rose Jourdan, estudos científicos demonstram que o uso dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) aumenta o risco de tabagismo para os jovens e as chances de desenvolver de dependência da nicotina – relacionada a diversos danos à saúde pulmonar, cardiovascular e neurológica. Apesar da restrição existir desde 2009, a comercialização ilegal continua no país. O órgão também apontou a necessidade de melhorias nos mecanismos de fiscalização ao contrabando, além da realização de campanhas para conscientizar a população sobre os riscos dos dispositivos.
Fiocruz: população de Brumadinho exposta a metais tóxicos
Após a tragédia em Brumadinho devido ao rompimento da barragem da Vale, moradores da região seguem expostos a altos níveis de metais tóxicos. Cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês, considerados os mais tóxicos pela OMS e relacionados à atividade mineradora, estão presentes. O levantamento da Fiocruz aponta também que doenças respiratórias e depressão têm incidência acima da média na região. O rompimento da barragem em 2019 fez 270 vítimas e representa o maior desastre ambiental e trabalhista já registrado no país. A exposição aos metais foi relatada através de exames de sangue e urina dos moradores.
Conhecimentos médicos desaparecem com línguas indígenas
Um estudo apresentado no Fórum Mundial de Biodiversidade de 2022 revela que a maior parte do conhecimento indígena sobre plantas medicinais está ligada a línguas ameaçadas, e que a perda da língua é um perigo ainda maior para a sobrevivência desse conhecimento do que a perda de biodiversidade. Pesquisadores conseguiram chegar à conclusão após vincular informações linguísticas e biológicas. “Toda vez que uma língua indígena morre, é como se uma biblioteca estivesse queimando, mas não a vemos porque está silenciosa”, disse o coautor do estudo, Rodrigo Cámara Leret, biólogo da Universidade de Zurique (UZH).